Dante encarava a foto do ultrassom, de cenho franzido, enquanto eu terminava meu segundo chocolate quente. Era engraçado ver a confusão em seu olhar, mas também era possível notar outra coisa: carinho.
- Ainda non consigo achar o amendoim sozinho. - Devolveu-me a foto.
- Aqui, Dante. - Apontei novamente o pequeno ponto esbranquiçado na imagem. - Como você mesmo diz, parece um amendoim.
- Hum... Também parece um borrão. - Devolveu-me a foto e encostou o corpo na cadeira. - Prefiro conhecer o amendoim pessoalmente. Non è vero, minduim? - Falou encostando a palma da mão em minha barriga. - Vai ser mais divertido quando você non for só uma foto.
- Bem, ainda vai demorar uns sete meses pra isso. - Soltei.
- O quê? - Dante berrou. - Me mostra de novo ele na foto. Vou ter que me contentar com uma mera ilustração do minduim.
Ri alto. Tinha me esquecido como era fácil e gostoso ficar na companhia dele. Peguei a foto e, pela milésima vez, tentei fazer com que ele visse o bebê.
***
Logo que saímos da cafeteria, convenci Dante a me ajudar a escolher algumas coisas para o quarto do bebê. Eu queria fazer isso com Romeo, mas sabia que no momento seria difícil conseguir um tempo com ele durante a semana. E, eu já estava na cidade mesmo, então poderia começar a escolher algumas coisas.
No final da tarde eu já tinha um berço, uma cômoda e um trocador, todos em um tom de mint, algo entre azul e verde claro. Aproveitei e comprei alguns vestidos, calças e blusas pra mim, afinal, em breve minhas roupas não me serviriam mais.
Desde que saiu da cafeteria, Romeo não havia dado sinal de vida. O celular de Dante não tocou uma única vez. Um frio na barriga começou a tomar conta do meu corpo, e tudo o que eu queria era algum sinal dele. Peguei meu telefone e encarei a tela. Eram 18h16. Suspirei derrotada, só teria notícias dele quando chegasse em casa.
- Acho melhor voltarmos pra casa. - Falei enquanto saboreava meu sorvete. - Em algum momento eles darão notícia.
- Sì, você está certa. - Dante concordou, remexendo sua sobremesa com a colher.
- Ei! - Chamei sua atenção. - O que foi?
- Non sei. - Deu de ombros antes de afastar sua taça de sorvete. - Andiamo. Assim que chegarmos, eu ligo pra ele.
Eu podia sentir que algo incomodava Dante e, sinceramente, alguma coisa também me atormentava. Uma sensação estranha estava entranhada em meu ossos, mas eu não conseguia identificar o que era.
O caminho para casa foi silencioso. Uma nuvem densa de agonia pairava sobre a gente. Dante manteve os olhos fixos na estrada o tempo todo enquanto minha mente vagava, pensado onde meu marido e meu irmão tinham se metido dessa vez.
- Você sabe sobre o que era essa reunião ou com quem era?
Dante negou com a cabeça e apertou o volante até os nós dos dedos ficarem brancos. Se ele estava incomodado com a situação, então algo estava fora dos trilhos. Suspirei e continuei encarando a janela, vendo árvores passando uma após a outra, até finalmente avistar a entrada de casa.
Silêncio. Nenhuma movimentação era visível da entrada. A casa estava escura, com as janelas fechadas e não tinha nenhum carro parado na entrada. Um arrepio subiu pela minha espinha e a vontade de vomitar apertou meu estômago.
Assim que passamos pela porta do hall, um barulho de vidro se quebrando ecoou pela casa. Dante fez um sinal para que eu não acendesse as luzes e ficasse quieta. Ele tirou uma arma do coldre e a destravou, segurando-a com o braço direito erguido. Com a mão esquerda ele segurava meu braço, mantendo-me próxima ao seu corpo.
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Despedaçados [COMPLETO] - (Série Vespri Siciliani - LIVRO UM)
Romanzi rosa / ChickLitÉ fato que as pessoas mudam ao decorrer da vida. Mudam de aparência, de gostos, de estilos, de modos. Mudam por fora e por dentro. Mas nem sempre as mudanças são boas. Muitas vezes elas despertam o que há de pior dentro de alguém. Helena DiFontana s...