Capítulo 7

245 21 1
                                    

Romeo estava desaparecido há quase uma semana. No domingo a noite encontraram o carro que o pegou no aeroporto, abandonado nos arredores da cidade e queimado, totalmente destruído. Papa contou que o carroselo estava em pânico, sem Romeo para controlar o norte estávamos expostos e correndo o risco de que o acordo de união se rompesse, facilitando a entrada de inimigos. E, se os inimigos tomassem o norte da Sicília, seria questão de tempo até tomarem o restante.

Enrico tentava controlar as negociações, manter a ordem e acalmar a situação. Mas o carroselo não respeitava o consigliere como respeitava o signore. Giuseppe Sartori ajudava como podia, mas a situação estava tão complicada com Angela e Alessa que ele não conseguia dar o suporte necessário.

Eu passava os dias em casa, ouvindo músicas, lendo e dormindo. Meu estômago não consiga aceitar comidas sólidas, tudo o que eu comia, vomitava logo em seguida. O médico da famiglia disse que poderia ser uma gastrite nervosa ou uma virose, mas como me recusei a fazer exames era difícil diagnosticar ao certo.

Antonella ia me visitar todos os dias. Passava horas falando de qualquer coisa, mas eu não prestava atenção. Apenas sorria e concordava com tudo. Eu sei que ela estava dando o melhor de si para me ajudar, mas eu não conseguia retribuir o carinho dela no momento. Só queria ficar sozinha.

                                                                                          ***

O sábado amanheceu chuvoso. Acordei com o barulho de trovões e o vento balançando as cortinas, derrubou o vaso com a rosa murcha. Levantei e peguei a flor. Ela estava seca e ao menor toque de meus dedos, se desfez. Minha última lembrança de Romeo sumiu diante de meus olhos, na palma de minha mão.

Enxuguei as lágrimas que caíram de meus olhos e fui até o banheiro jogar o que sobrou no lixo. Assustei ao encarar meu reflexo. Meus olhos estavam fundos, cercados por olheiras. As maçãs do rosto ressaltadas, por conta dos ossos salientes. Meu cabelo estava seco e opaco, todo bagunçado.

- Você está um caos, Helena. - Falei para o meu reflexo.

Liguei o chuveiro e entrei na ducha quente. Desejava que a água lavasse toda a dor que sentia. Fiquei debaixo d'água até minha pele começar a queimar. Enrolei-me na toalha e desembaracei os cabelos. Pelo espelho vi o quanto estava magra. Minhas curvas sumiram e meus seios estavam menores, ossos apareciam em várias partes do meu corpo.

Vesti uma calça jeans e um moletom antigo de Enrico. Desci e resolvi tentar comer, precisava ser forte e ficar bem. Comi algumas torradas com geléia e tomei um copo de suco. Olhei para a porta e lembrei de Romeo me surpreendendo enquanto comia bolo, da maneira como ele lambeu meus dedos para tirar a cobertura e da sensação que passou pelo meu corpo. Per Dio, eu sentia falta dele.

Suspirei e prendi a respiração, tentando conter as lágrimas. A chuva caia forte lá fora e a casa estava quieta. Papa e Enrico provavelmente estavam em alguma reunião e mama deveria estar com Angela. Eu disse a todos que ficaria bem sozinha, até porque Antonella provavelmente viria em algum momento.

Voltei para o quarto. 

Resolvi sentar na varanda e apreciar a chuva. O barulho dela caindo no telhado, o cheiro e até os sustos que levava quando trovejava de repente, me acalmavam. Toda essa atmosfera melancólica combinava com meu humor e me transmitia uma tranquilidade gigantesca.

Adormeci.

                                                                                         ***

Acordei com meu celular vibrando ao meu lado.

- Ciao, Antonella.

- Carissima, non vou conseguir ir para o almoço. - Ela disse com a voz triste. - Mama está sentindo-se mal e vou esperar o médico. Mais tarde passo ai, va bene?

Despedaçados [COMPLETO] - (Série Vespri Siciliani - LIVRO UM)Onde histórias criam vida. Descubra agora