Capítulo 40

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Dentro do peito, meu coração bate aceleradamente. Minhas mãos tremem e minha respiração sai pesada por entre os lábios. A ansiedade atrelada à curiosidade causa um rebuliço em meu estômago.

Da conversa com a médica até o momento do ultrassom, anos parecem ter se passado. Mas não, foram apenas alguns longos minutos.

- Esse nervosismo non combina com você. - Romeo balbucia em meio a um sorriso discreto.

- Zitto. - Resmungo enquanto observo seu sorriso se alargar.

A médica entra abruptamente na sala de exames, interrompendo o que Romeo estava prestes a falar. Seus olhos azuis acompanham cada mínimo movimento que ela faz, atentos para não perder nenhum detalhe. Um leve suspiro de alívio escapa dos lábios dele quando a dra. Paola diz que está tudo bem com nosso bebê.

- Você está com aproximadamente 21 semanas, Helena. Ele está ganhando peso e se desenvolvendo bem. - A dra. Paola sorri, feliz por ver que estou seguindo as recomendações. - Continuem com os cuidados prescritos e com o repouso, mesmo que não tão rígido. Apenas algumas horinhas durante o dia.

- Ele? - Questiono, curiosa. - Ele, o bebê ou é um ele?

A médica sorri e meu coração martela descompassadamente dentro do peito.

- Parabéns papais. É um menino.

Sufoco um grito, colocando a mão direita fechada dentro da boca e olho para Romeo. Por um minuto, diferentes emoções passam por seus olhos até que, por fim, ele abre um largo sorriso e me olha com ternura.

Romeo segura meu rosto com suas mãos e me beija carinhosamente, mas com força. Assim que desgruda nossas bocas, encosta a testa na minha e sorri abertamente.

- Ti amo. - Leio enquanto seus lábios se movem silenciosamente.

Assim que saímos do consultório, meu corpo se enche de alegria e excitação. Eu não poderia querer nada melhor! Meu bebê está saudável e se desenvolvendo bem. Eu estou ótima e posso dedicar toda minha atenção ao meu pequeno bambino.

Dio! É um menino.

Um temor sobe por minha espinha. É um menino e nosso primogênito. O primogênito do signore. Isso significa que meu bebê terá de ser iniciado no carosello. Significa que ele vai sofrer consequências para aprender a lidar com a máfia. Significa que sua vida já corre risco antes mesmo dele sequer ter nascido.

Olho para Romeo e vejo que as mesmas aflições circulam seus pensamentos. A expressão séria e o olhar vago demonstram sua preocupação. Ele vira o rosto pra mim e sorri, tentando espantar nossos pensamentos.

- Quer aproveitar o dia e comer algo na rua? - Romeo pergunta enquanto abre a porta do carro para que eu entre.

- Era a exigência que eu faria antes voltar para casa. - Respondo antes de beijar o canto de sua boca e entrar no veículo.

Seguimos por uma rua movimentada até chegarmos à orla de Palermo, rumando até o White Club. O bar fica praticamente na beira do mar, com uma vista linda para a costa da cidade. O azul do céu contrasta com o do oceano, brilhando sob os raios fracos do sol.

Enquanto Romeo estaciona o carro, pego o celular na bolsa e abro a conversa com Giovanni. A última mensagem enviada tem menos de uma semana e não tenho a menor ideia se ele chegou a ler. Digito algumas palavras rapidamente, em uma última esperança de obter contato.

* Você vai ser tio de um bambino. Gostaria que estivesse aqui para comemorar e acalmar meus anseios quanto a isso. Sinto sua falta *

Assim que entramos no bar, escolhemos uma das mesas mais próximas ao mar e fazemos nossos pedidos. No momento em que o garçom nos dá licença, Romeo tira um papel do bolso e começa a analisá-lo cuidadosamente. Ele encara o mapa como se não conhecesse a cidade, como se buscasse um local em vez de simplesmente procurar a melhor rota pelo celular.

- O que está fazendo? - A curiosidade me vence.

- Procurando um lugar. - Ele responde sem desgrudar os olhos do mapa.

- Por que non olha pelo celular? - Pergunto enquanto tiro o aparelho da bolsa e abro o aplicativo de localização e mapas..

- Non quero que rastreiem o que estou procurando.

Pelo tom de sua resposta, fico quieta. Encaro o celular, conferindo as notificações e mensagens, torcendo para ter uma de Giovanni entre elas. A maioria são dos nossos familiares perguntando sobre o sexo do bebê, mas eu não quero respondê-los ainda. Prefiro estar presente quando contar a novidade.

Antes de guardar o aparelho novamente na bolsa, ele vibra e vejo a mensagem de Antonella.

* ONDE VC ESTÁ? QUEM ESTÁ COM VC? *

Tiro uma foto de Romeo, concentrado no mapa, e envio. 

Fico esperando por uma resposta que nunca chega

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Fico esperando por uma resposta que nunca chega. Antonella e suas variações de humor. Tem momentos que é difícil acompanhar aquela cabecinha maluca.

Coloco o aparelho dentro da bolsa e dou uma grande golada do meu suco de melancia. A bebida gelada refresca meu corpo assim que desce por minha garganta, mas o gosto é estranho. Não está doce e leve. No fundo, um amargor pinica a língua e faço uma careta antes de pôr o copo na mesa.

- Algo errado? - Romeo desvia o olhar do mapa e bebe sua cerveja.

- O suco está amargo. Acho que a melancia estava estragada ou algo do tipo.

- Vou pedir para trocarem então. - Ele sorri e me oferece o cardápio. - Escolha outra coisa.

Delizo os olhos pelo menu, lendo as opções de bebidas e comidas. A variedade de pratos me dá água na boca e meu estômago ronca baixinho, implorando por alguma daquelas delícias. Continuo lendo as opções e as letras começam a se embaralhar. Minha visão vai embaçando aos poucos, acompanhando as voltas e giros que minha cabeça está dando.

Deixo o cardápio de lado e apoio os cotovelos na mesa, segurando a cabeça entre as mãos. O mundo gira e minha cabeça o acompanha, fazendo meu estômago protestar. Ao fundo, escuto a voz de Romeo. Ele me pergunta algo, mas não entendo direito. Será que quer saber se está tudo bem? Sou incapaz de entender e menos ainda de responder.

Me levanto um pouco zonza, me firmando na mesa e balbucio algo. Preciso ir ao banheiro. Dou as costas para meu marido e caminho em direção à área fechada do restaurante.

Aos tropeços, consigo chegar ao banheiro e me debruço sobre a pia. Tento encarar meu reflexo mas meu olhos simplesmente não querem focar a minha imagem. Abro a torneira e jogo um pouco de água no rosto. O chão mexe abaixo dos meus pés e meu equilíbrio vacila por um segundo.

Lentamente e me apoiando nas paredes, tento sair do banheiro a fim de procurar alguém que possa chamar Romeo. Ouço a porta do banheiro rangir, indicando que alguém está entrando.

"Grazie a Dio", penso antes de levantar a cabeça e balbuciar um pedido de ajuda. Forço meus olhos a se erguerem do chão, acompanhando o par de pernas que está parado na porta do banheiro. A medida que meu cérebro processa a imagem enviada à ele, reconheço o rosto que me encara da porta.

Olhos verdes e vibrantes me fitam. A preocupação visível em cada linha de expressão. O maxilar quadrado, coberto por uma fina camada de barba, está tenso e travado. Ele emaranha as mãos nos cabelos acobreados antes de me estendê-las.

- Helena... - A voz que eu conheço tão bem sai cheia de angústia.

O homem se aproxima e segura meus braços, apoiando meu corpo contra o seu.

- Giovanni... - Murmuro em meio a um sorriso antes de tudo ficar preto e me render à escuridão.

Despedaçados [COMPLETO] - (Série Vespri Siciliani - LIVRO UM)Onde histórias criam vida. Descubra agora