As semanas seguintes passaram tão rápido que nem me dei conta. Os preparativos para o casamento estavam a todo vapor e ocupavam a maior parte de minha agenda. Tinha dias que mal conseguia parar para comer direito.
Optamos por uma cerimônia a céu aberto, no jardim da mansão. Uma tenda seria montada, formando o salão da festa. Mama e Angela coordenavam tudo com uma maestria perfeita, deixando cada detalhe como em um conto de fadas.
Romeo nem sempre estava presente para me ajudar a escolher tudo, mas sempre dava sua opinião quando eu mandava mensagens. Quase todos as noites ele passa em casa para jantar comigo e meus pais. E quando não conseguia se livrar dos compromissos, me mandava uma rosa com bilhetes, normalmente trechos de livros que líamos quando crianças ou de algum romance que eu gostava.
Ele estava se mostrando o par perfeito. Estava mais calmo, concentrado e feliz, eu diria. Sempre me tratava com carinho e delicadeza, diferente de nossos primeiros encontros. Tinha dias que eu sentia que o "modo mafioso" estava ligado, então simplesmente ficava ao lado dele, sem dizer nada. E assim seguimos, sem brigas. Eu estava começando a entender como ele funcionava, respeitava seu espaço e evitava provocações. E Romeo me retribuía à altura.
Faltavam três dias para o casamento e fui proibida de vê-lo.
- Vocês non podem se ver até a cerimônia. - Mama disse. - É bom para dar saudade e criar uma expectativa.
- Si, carissima. - Angela concordou. - Tire um tempo para você, relaxe e se prepare. Aproveite que está tudo sobre controle.
Antonella achou que alguns dias em um spa me fariam bem, renovando-me para o casamento. Massagens, tratamentos faciais, manicure e pedicure. Acho que nunca dormi tanto em minha vida quanto nesses dias. Minha amiga realmente sabia do que eu precisava.
Voltei para casa na sexta à tarde, véspera do casamento. Mas algo estava errado. Um clima pesado pairava sobre a casa, como uma névoa densa, quase palpável. Desci do carro e entrei.
- Mama! Papa! Enrico? - Gritei.
Nada, silêncio absoluto. Não era para estar assim, a casa devia estar movimentada com pessoas correndo e terminado os preparativos. Por que Antonella não estava lá para me receber e contar as novidades?
- Caralho, cadê todo mundo nessa casa? - Gritei.
- Principessa, qui in ufficio. - Papa me chamou do escritório.
Corri até sala. Abri a porta e me arrependi no mesmo instante. Estavam todos ali. Mama, papa, Enrico, Antonella e os Sartori. Menos Romeo.
Mama e Angela estavam com os olhos vermelhos e inchados. Antonella e Alessa estavam abraçadas e me encararam. Giovanni e Enrico estavam em um canto, conversando ao telefone.
- Figlia, amore. Sente-se. - Papa apontou-me a cadeira.
- O que está acontecendo? - Questionei, sentando-me. - Cadê Romeo?
- Bambina... - O sr. Sartori me chamou. - Há uma semana Romeo precisou viajar para resolver algumas questões em Ragusa. Ele se desentendeu com alguns capos do sul e algumas ameaças foram desferidas.
- Mandei ele voltar às pressas, antes que fizesse besteira. - Enrico falou. - E pela primeira vez na vida, ele me ouviu. Mas quando desembarcou em Palermo...
Silêncio.
- Quando desembarcou o quê? - Gritei. Uma dor aguda apertou meu peito. Lágrimas escorreram pelos meus olhos e eu mal podia respirar direito. - Cadê o Romeo?
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Despedaçados [COMPLETO] - (Série Vespri Siciliani - LIVRO UM)
ChickLitÉ fato que as pessoas mudam ao decorrer da vida. Mudam de aparência, de gostos, de estilos, de modos. Mudam por fora e por dentro. Mas nem sempre as mudanças são boas. Muitas vezes elas despertam o que há de pior dentro de alguém. Helena DiFontana s...