Meu coração martela descompassadamente por cada centímetro do corpo. O eco do barulho ainda ressoava em meus ouvidos quando senti os braços de Romeo se afrouxarem ao meu redor. Em uma mínima fração de segundos, ele me entrega para Antonella e saí em disparada, rumo à casa.
Um grito sobe por minha garganta e fica preso. É como se eu tivesse comido quilos areia, minha boca está tão seca que não consigo pronunciar nenhuma palavra se quer. Lágrimas quentes queimam meu rosto à medida que escorrem, enquanto meu corpo treme quase convulsivamente.
Antonella me aperta firme em seus braços, me prendendo contra si para que eu não corra em direção à casa. Por mais que tente me desvencilhar, minha amiga é mais forte e me mantém presa em seu abraço.
Reúno todas as minhas forças e continuo tentando me soltar. Preciso ir até Romeo, preciso impedir que Giovanni faça algo contra ele. Preciso saber se Enrico e Dante estão bem. Preciso saber se algo aconteceu com Cory.
- Calmati, ragazza... - Antonella balbucia baixinho em meu ouvido.
Por mais que ela tente manter a calma, lágrimas denunciam seu desespero. Sei que ela também está apreensiva, preocupada com Enrico. Por isso, sei que se eu conseguir correr, ela virá atrás de mim e será mais uma pessoa em perigo. E isso é a última coisa que quero.
Abraço forte o corpo de Antonella, na esperança de acalmar meus anseios e de fazê-la acreditar que ficarei aqui. Deixo meus braços caírem sobre meu colo e encaro seus olhos.
- Vamos para o carro. - Pego a mão dela e me levanto. - É mais seguro e podemos precisar sair correndo.
- Va bene, sì. - Ela responde meio gaguejando. - Melhor eu ficar na direção.
Sorrio e concordo com a cabeça. Dou a volta no veículo apressadamente, entrando pelo lado do passageiro antes de Antonella alcançar a porta. Rápida e discretamente, tiro a chave da ignição e a aperto firme entre os dedos. Assim que ela começa a entrar no carro, posiciono minha mão direita no encosto de braço, deixando a porta ainda aberta.
No momento em que Antonella fecha a sua porta, impulsiono o corpo pra fora do carro e bato a minha porta. Antes que ela processe o que está acontecendo, aciono o alarme e a tranco dentro do veículo.
Assustada, ela tenta sair, forçando a maçaneta e batendo no vidro. Balbucio um "scusa" e corro em direção à casa, ainda escutando o gritos abafados de Antonella vindos dentro do carro.
Atravesso o jardim mal cuidado e paro diante da entrada, tentando ouvir qualquer som que denuncie onde os cinco homens podem estar. A casa continua mal iluminada. No primeiro andar, apenas aquele abajur continua sendo a fonte de luz. Com as pernas bambas, entro na casa e sigo em direção à escada.
Subindo os degraus, ouço um burburinho de vozes vindo do segundo andar. Provavelmente do quarto onde eu estava. Respiro fundo, inalando coragem, e vou na direção das conversas.
Passo por duas portas, que não reparei no momento em que sai correndo da casa. Eles não estão no quarto em que fiquei. Antes de relamente me aproximar das vozes, identifico a de Romeo, vinda do terceiro cômodo no final do corredor.
- Vou acabar com você por ter nos traído. - Ele diz. - Ninguém nunca saberá o que aconteceu.
- Vá em frente! - Escuto Giovanni retrucar, com a voz baixa e rouca. - Isso tudo, a tomada de territórios, não acaba comigo.
- Nos dê nomes e podemos te deixar vivo. - Enrico ameaça.
- Non vou trair quem me estendeu a mão. - Giovanni escarra e cospe.
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Despedaçados [COMPLETO] - (Série Vespri Siciliani - LIVRO UM)
ChickLitÉ fato que as pessoas mudam ao decorrer da vida. Mudam de aparência, de gostos, de estilos, de modos. Mudam por fora e por dentro. Mas nem sempre as mudanças são boas. Muitas vezes elas despertam o que há de pior dentro de alguém. Helena DiFontana s...