Acordei sobressaltada, suando e respirando com dificuldade.
- Merda de pesadelo. - Bufei.
O relógio marcava 1h20. Abri a janela da varanda e deixei a brisa entrar. Fui até o banheiro e lavei o rosto. Eu estava um caos. Sequei o rosto e trancei o cabelo. Ainda estava com o vestido branco. Me livrei dele e coloquei um baby doll de seda rosa, um pijama bem leve. Meu estômago roncou e resolvi ir até a cozinha.
Enquanto comia meu sanduíche, escutei vozes vindas da sala, um leve burburinho. A curiosidade foi maior e resolvi dar uma bisbilhotada.
Enrico estava de pé, praguejando e apontando para o homem que estava sentando. Meu irmão estava nervoso como eu nunca vira. O outro levantou-se e começou a xingar também, Enrico desferiu-lhe um soco atrás de outro, na cara, e o empurrou de volta ao sofá.
- Se encostar nela de novo, acabo com você. - Ouvi meu irmão dizer e meu sangue gelou.
Era Romeo. Enrico bateu nele para me defender. Fiquei feliz em saber que ele cumpriria sua promessa.
- Per favore, Enrico. Preciso vê-la e me desculpar. - Romeo implorou, com a voz arrastada e mole.
- Está bêbado. - Enrico cuspiu. - Quando estiver sóbrio eu deixo. No momento você non chegará perto dela.
Romeo abaixou a cabeça e a apoiou nas mãos. Meu coração apertou e tive vontade de ir até ele. Mas os acontecimentos da manhã me impediram.
- Porra Romeo, que merda você fez?! - Enrico falou. - Você é o chefe e sou seu amigo, mas se encostar nela de novo... Eu te mato.
- Scusa, Enrico. Ela me tirou do sério e non consegui me controlar. - Romeo embolou as palavras. - Se non tiver tudo sob meu controle, se as coisas non saírem como quero, perco a cabeça.
- Então acostume-se! Helena é um ser livre, faz o que bem entender. - Enrico me defendia. - Mas ela é responsável, basta você tratá-la como ela merece. Helena non é mais uma criança mimada, ela sabe ouvir e respeitar a vontade dos outros. Trate-a como a signora que ela é ou morra tentando. Porque eu mesmo te matarei.
Enrico deu as costas e seguiu em direção ao escritório de papa. Romeo continuou sentado, com a cabeça apoiada nas mãos. Meu coração apertou mais. Sabia que, se desejasse o seu respeito, teria que fazer por onde e mostrar que era superior. Engoli meu orgulho e fui em direção ao sofá.
Ajoelhei ao seu lado e apoiei a mão em sua perna, chamando-o. Romeo levantou o rosto e me encarou surpreso. Seus olhos estavam vermelhos, o lábio inferior cortado e as bochechas marcadas pelos socos de Enrico. Acariciei seu rosto e ele fechou os olhos.
- Helena...
- Zitto, ragazzo. - Coloquei o dedo em seus lábios, o silenciando. Ele suspirou. - Venha. - Me levantei e peguei sua mão.
Subimos até meu quarto em silêncio, ninguém podia nos ver. Tranquei a porta e indiquei minha cama para que ele sentasse. Fui até o closet e peguei meu kit de primeiros socorros. Sentei e pedi que ele ficasse de frente pra mim. Limpei os cortes do rosto com soro e passei uma pomada cicatrizante. Limpei o sangue de sua boca com uma gaze úmida e senti um frio percorrer minha espinha quando a toquei.
Contive o impulso de beijá-lo.
Romeo suspirou fundo e olhou fixo em meus olhos.
- Grazie. - Disse quase em um sussurro.
- Tudo bem. - Sorri. - Se vamos nos casar, preciso cuidar de você. Va bene?
- Va bene. - Romeo abaixou o olhar. - E eu preciso aprender a cuidar melhor de você, piccola formica.
- Eu te ensino. - Falei dando uma piscadinha. - Vou tentar controlar o meu gênio e ser uma boa sposa, Romeo. Mas preciso confiar em você antes.
Ele apenas concordou, balançando a cabeça. Seu olhar despedaçado quebrava meu coração. Acariciei seu rosto e me levantei, estendendo a mão.
- Vem. Você precisa de um banho. - Ele levantou e aceitou minha mão. Mas antes que pudesse dar um passo, ele me puxou para si e apertou meu corpo contra o seu. Seu abraço era quente e forte. Passei meus braços em volta de sua cintura e o abracei também. Senti seu corpo relaxar e ele beijou o topo de minha cabeça.
- Scusa, piccola.
O apertei mais forte antes de soltá-lo. Peguei sua mão e o guiei até o banheiro. Mostrei onde estava o shampoo, sabonete e toalhas. Romeo começou a desabotoar a camisa branca e eu corei. Prendi a respiração e sai do banheiro apressada.
Corri até o quarto de Enrico, pegando uma camisa e uma calça de moletom. Voltei para o meu quarto, tranquei a porta e esperei até que o chuveiro fosse desligado. Bati na porta.
- Romeo? - Chamei. - Trouxe roupas pra você.
Ele abriu a porta e o vapor saiu do banheiro. Romeo estava apenas com a toalha enrolada em volta da cintura. Dio, como ele é gostoso. Os cabelos molhados e o abdômen, completamente definido, salpicado com algumas gotas d'água me deixaram excitada. Perdi o foco por alguns segundos, antes de entregar as roupas e engolir em seco. Romeo sorriu. Provavelmente eu estava de boca aberta e babando, mas tudo bem. Dei um passo pra trás e fechei a porta.
Sentei na cama e fiquei esperando. A porta do banheiro se abriu e Romeo veio em minha direção.
- Helena, non posso dormir aqui. - Disse.
- Você bebeu, Romeo. Non devia estar dirigindo. - Respondi, olhando para cima. - Non quero ficar viúva antes do casamento.
Ele sorriu, passou a mão pelos cabelos e sentou-se ao meu lado. Acariciou meu rosto, no local onde havia me acertado. Seu olhar ficou triste e ele suspirou. Balancei a cabeça, pedindo para ele não falar nada. Ele acenou concordando e depositou um beijo em minha testa. Apoiou os dedos em meu queixo e levantou meu rosto.
- Eu vou ser melhor que isso, lo prometto. - Sussurrou, se aproximando e encostou os lábios nos meus.
Seu hálito era doce e pude sentir o gosto do whisky que ele bebeu mais cedo. Sua língua explorava cada canto de minha boca e eu deixava de bom grado. Seus lábios eram macios e não resisti ao impulso de mordê-los. Romeo gemeu e apertou minha cintura, puxando-me para seu colo. Enfiei a mão por baixo de sua blusa e apertei suas costas, sentindo o calor de sua pele formigar meus dedos.
O beijo ganhou força e intensidade.
A mão de Romeo subiu pela minha cintura até alcançar um de meus seios. Ele o apertou com vontade, brincando com o mamilo e deixando-o enrijecido. Eu gemi em sua boca, implorando por mais. Deslizei a mão por sua barriga, sentindo os músculos de seu abdômen. Romeo me deitou e, com seu corpo por cima do meu, cessou o beijo e me encarou.
- Eu quero você, piccola. De maneiras que você nem pode imaginar. - Balbuciou em meu ouvido, dando leves mordidinhas em meu lóbulo. Sua ereção roçou em minha perna, mostrando o quanto me desejava. - Mas temos que esperar até estarmos casados.
Ele soltou meu seio e deslizou a mão por minha barriga. Me puxou para mais perto e virou-me de costas, colando sua barriga em mim. Enterrou o rosto em minha nuca e encheu beijos, me arrepiando e me fazendo contorcer sob seus braços.
- Sogni d'oro, amore mio. - Deu um último beijo em minha nuca, me abraçou e dormiu.
Aconcheguei-me em seu corpo forte, inspirando seu aroma e adormeci.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Despedaçados [COMPLETO] - (Série Vespri Siciliani - LIVRO UM)
Chick-LitÉ fato que as pessoas mudam ao decorrer da vida. Mudam de aparência, de gostos, de estilos, de modos. Mudam por fora e por dentro. Mas nem sempre as mudanças são boas. Muitas vezes elas despertam o que há de pior dentro de alguém. Helena DiFontana s...