Capítulo 34

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- Quanto tempo isso vai demorar? - Romeo rosnou para o homem ao seu lado.

- Tenha paciência. - Dante cuspiu as palavras quase tão nervoso quanto ele.

A agonia e a impotência de não poder fazer nada estavam consumindo suas energias. Depender de outras pessoas para resolver seus assuntos não era algo que o agradava. Mas nesse momento, era tudo o que lhe restava.

Descobrir o nome da pessoa que estava vazando informações sobre as negociações do norte da Sicília foi um soco no estômago. Romeo esperava essa traição de qualquer pessoa, menos de quem ela realmente veio.

Além disso, tinha o fato de Leonel Bertiolli estar espalhando mentiras e conseguindo o apoio dos capos do sul com isso. Apoio e alianças que deviam ser firmadas com Romeo, para que a Sicília enfim pudesse voltar a ficar unida. "Se Leonel non fosse tão egocêntrico, ele seria ótimo para comandar o sul", pensou. "Pena que ele só visa os próprios interesses e non pensa no conjunto".

Tudo o que Romeo desejava era poder voltar para casa e ficar com Helena. Fica longe dela era uma tortura, mas era a coisa certa. Ele não podia colocar sua mulher na linha de fogo. Helena seria um alvo fácil e qualquer um não hesitaria em colocar as mãos nela para atingi-lo. Mandá-la para casa foi a escolha certa, os DiFontana poderiam protegê-la.

- Pronto. - O homem baixinho no computador chamou a sua atenção. - Aqui estão as imagens que você pediu. É só apertar o play.

- Grazie. - Romeo sentou-se e virou o computador para si.

Assim que o vídeo começou a correr, seu corpo travou. As imagens mostravam seu escritório em Calascibetta, na casa que era sua e de Helena. O vídeo começava às 18h24 daquela quinta-feira. Nas imagens, ele se viu entrando na sala e quebrando tudo o que estava a seu alcance. A raiva que sentiu no dia, encheu suas veias e Romeo teve a mesma vontade de sair quebrando tudo o que estivesse à sua frente.

Dante se aproximou e lhe entregou um copo de whisky, o homem o conhecia como ninguém e sabia quando ele precisava de uma bebida. Com apenas uma golada, ele virou o líquido adocicado, que desceu queimando sua garganta. Adiantando o vídeo, ele se viu brigando com Dante e gritando com Helena. "Céus, será que nunca serei bom o suficiente para ela?". O jeito assustado e acanhado da pequena mulher no vídeo partiu seu coração. Ele havia ido longe demais, de novo.

Correndo o vídeo mais um pouco, Romeo viu a senhora Mancini indo limpar o escritório no dia seguinte

- Espera, - Dante apontou para o computador. - Ela está mexendo nos armários.

O choque em suas palavras era o mesmo que correu pela espinha Romeo. Sua governanta pegou os documentos. As assinaturas que lhe concediam o controle do norte e de todas as transações foram roubadas por Rosa Mancini.

- Por quê? - Enrico questionou atrás dele.

Seu cunhado estava tão quieto, que Romeo quase se esquecera da presença do homem. Um motivo passou por sua cabeça, mas ele não queria acreditar que a mulher seria idiota o suficiente de entregar a liberdade da Sicília por conta disso.

- Levamos um mês para conseguir acessar as imagens de segurança da minha casa. - Romeo rosnou. - Um maldito mês. Isso é ridículo.

- Romeo, - Enrico o chamou calmamente. - Ele conhecia todas as suas senhas, tinha acesso a todos os documentos, à sua agenda e aos seus contatos. Você realmente acha que ele non iria dificultar as coisas? Ao menos agora que sabemos da traição, estamos um passo à frente.

Enrico sempre foi a voz da razão. Desde crianças, o grandalhão conseguia controlar as coisas e resolver tudo de maneira perspicaz. Ele estava certo. Os próximos passos precisavam ser pensados com cautela.

- Ele ainda non sabe. - Romeo sussurrou. - Non podemos deixar que ele desconfie. Precisamos agir normalmente.

- Você non tem agido normalmente. - Dante balbuciou. - Ou acha que se enfurnar aqui na Catania é agir normalmente?

- Dante está certo. - Enrico concordou. - Ficar aqui, atrás de Bertiolli, só vai levantar mais suspeitas. Você precisa voltar e atraí-lo até lá. Precisará usá-la como isca.

Era um bom plano. Por mais que não gostasse da ideia de colocá-la na linha de fogo, era um bom plano. Em Palermo ele teria o apoio de seus homens e poderia desmascará-lo facilmente, por mais que aquilo doesse. Era hora de voltar para casa, de voltar para sua mulher e seu filho.

- Va bene. - Concordou. - Vamos embora amanhã cedo.

Despedaçados [COMPLETO] - (Série Vespri Siciliani - LIVRO UM)Onde histórias criam vida. Descubra agora