Voltar para casa não era como eu tinha imaginado. A felicidade e empolgação que achei que sentiria quando voltasse, tinham se tornado mágoa e tristeza. Os dias se arrastavam e o confinamento de meu quarto começa a me incomodar, mas eu não queria encarar o mundo lá fora.
Enrico ficou apenas dois dias em Palermo e depois seguiu viagem para Catania, indo encontrar Romeo. Mama passava as manhãs comigo e sempre tentava me fazer sair do quarto, nem que fosse para ir ao jardim, mas meu corpo insistia em querer permanecer deitado. Antonella ficava comigo todas as tardes, mas não me obrigava a fazer nada. Ela simplesmente se deitava na cama e ficava ali, oferecendo sua presença silenciosa.
Dona Angela e Alessa me ligavam, pelo menos, uma vez por semana. As duas estavam animadas com o bebê e não paravam de comprar coisas para o enxoval. Alessa planejava um chá de bebê e, como eu não estava com a menor vontade de comemorações, deixei tudo a cargo dela.
Alguns dias eram mais difíceis que o outros. Às vezes, a saudade apertava tanto que parecia que meu peito se rasgaria. No início, eu sempre ligava para Romeo ou mandava mensagens, mas ele não retornava. Então, comecei a ligar para Dante ou Enrico, e os dois sempre conversavam por horas comigo.
- Helena, carissima. - Antonella chamou minha atenção. - Já tem mais de um mês que você está trancafiada neste quarto. Isso non faz bem.
- E daí? - Levantei o olhar do livro para encarar minha amiga.
- Você precisa sair um pouco, tomar um sol e ir ao médico. - Ela me encarou séria. - Marquei uma consulta pra você amanhã
Suspirei, me sentindo derrotada. Antonella estava certa, pelo menos ao médico eu tinha que ir. Afinal, prometi que cuidaria do nosso amendoim.
- Va bene. - Concordei passando a mão sobre a barriga.
Antonella deitou-se ao meu lado e levantou minha blusa, deixando a pequena protuberância à mostra.
- Finalmente convencemos sua mama a sair de casa. - Falou com minha barriga. - Quem sabe agora a gente a leve em um salão para arrumar essa juba que ela chama de cabelo e depois te levamos para passear?! - Antonella me lançou um olhar divertido.
- Uma coisa de cada vez. - Resmunguei.
***
Assim que minha amiga foi embora, me levantei e fui preparar um banho de banheira, com bastante espuma. Ao me encarar no espelho, levei um susto. Eu estava irreconhecível. Meus olhos estavam fundos e cercados por olheiras, que contrastavam com a palidez de minha pele. Meu cabelo estava sem brilho e quebradiço, totalmente bagunçado e embaraçado.
O choque de não me reconhecer foi gigante e me abalou. A que ponto cheguei? Não podia deixar que ele fizesse isso comigo. Era hora de dar a volta por cima e colocar um pouco de brilho em mim.
Peguei o celular e mandei uma mensagem para Antonella.
* MARQUE UM TRATAMENTO COMPLETO NO SALÃO PARA NÓS DUAS AMANHÃ. *
A resposta chegou em menos de vinte segundos.
* FEITO! *
Antonella me buscou na manhã seguinte bem cedo e seguimos direto para um centro de beleza. Depois de massagens super relaxantes, tratamentos de pele, manicure e pedicure, eu me sentia uma nova pessoa. Mas ainda faltava mais uma coisa.
- Corta. - Encarei o cabeleireiro pelo espelho.
- Tem certeza, bella? - Vittório questionou.
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Despedaçados [COMPLETO] - (Série Vespri Siciliani - LIVRO UM)
ChickLitÉ fato que as pessoas mudam ao decorrer da vida. Mudam de aparência, de gostos, de estilos, de modos. Mudam por fora e por dentro. Mas nem sempre as mudanças são boas. Muitas vezes elas despertam o que há de pior dentro de alguém. Helena DiFontana s...