Capítulo 8.

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Meline Barbosa.

TRÊS ANOS ATRÁS.

"-Amor, mas como você vai conseguir o dinheiro pro remédio da sua mãe? - Pergunto preocupada quando vejo ele hiper irritado depois de ser demitido de seu emprego.

-Eu vou dar um jeito Meline! Eu sempre dou um jeito nesse caralho! - Ele diz pilhado, resolvo ficar quieta enquanto ele anda de um lado para o outro de meu quarto.

O celular dele toca e ele sai pra atender, volta depois de vinte minutos, um sorriso de alívio nos lábios.

-Os remédios desse mês estão pagos. - Fala e posso ver seus olhos enchendo de lágrimas.

-Como? - Questiono e ele abre uma conversa no Whatsapp me mostrando.

A imagem de um pacote de drogas na conversa me assusta, ele só pode estar brincando.

-Vai virar traficante agora? - Pergunto rindo em tom de deboche.

A seriedade em seu rosto faz meu coração partir, isso não pode ser verdade.

-Carlos você vai arrumar um emprego decente. - Falo devolvendo o celular a ele.

-Não tem como Meline, não dá tempo, a minha mãe precisa desse remédio pra ficar curada! - Exclama bravo.

-Eu dou um jeito, eu pego uma quantia com meu pai, a gente consegue pagar isso sem você entrar nessa merda!

-Não existe "a gente" pra isso Meline, é minha dívida, e é a minha mãe. - Fala enquanto junta suas coisas. - E o seu pai me odeia, não quero nem um tostão dele.

Ele sai do quarto, provavelmente iria sair sem nem se despedir, como sempre faz quando está bravo.

Eu sabia que Carlos tinha usado maconha algumas vezes, mas nunca imaginei que ele chegaria ao ponto de vender drogas.

Meu coração se aperta mais ainda, ele estava jogando a vida no lixo, nós poderíamos achar uma forma justa de conseguir esse dinheiro.

(...)

Muito tempo havia se passado, a mãe de Carlos não havia melhorado nada e estava internada, ele mentia a ela que tinha conseguido um cargo bom em uma boa empresa, eu me sentia uma mulher de bandido, me sentia suja de ter que mentir para minha sogra que foi praticamente minha mãe durante toda minha vida.

A pressão de ver Carlos se despedindo de mim e ter a sensação de que ele não voltaria mais me doía, essa vida era muito arriscada e com a mãe dele nos últimos dias de vida, eu resolvi que seria certo contar a ela sobre isso. Eu avisei Carlos que faria isso, ele avisou que ela ficaria decepcionada e que talvez até sairia do hospital por ter um orgulho enorme.

Assim que contei a ela, ela fingiu demência a mim, queria falar com o médico de toda forma, deixei e voltei para casa. Duas horas depois eu estava em uma delegacia depondo. Ela havia denunciado ele, e naquele momento eu entendi que ela não era orgulhosa, ela era honesta e justa, e sempre tentou nos criar para sermos justos e honestos, não faço ideia de onde erramos, mas depois daquele dia eu descobri que a honestidade era primordial.

Carlos foi preso, a casa dele era lotada de droga, eu não fazia ideia daquele reinado que ele havia construído. Fui perdoada pela mãe de Carlos e uma semana depois ela veio a óbito.

Quando Carlos foi preso, nós não tivemos a oportunidade de conversar, então eu não fazia ideia do que éramos, mas me senti na necessidade de ir pessoalmente contar sobre a morte de sua mãe, afinal ele só tinha entrado nisso pra tentar salva-lá.

Era um dia de muito sol, tudo muito quente quando fui visitar Carlos na prisão, ele me viu de longe e pude ver seu maxilar travando, ele tinha raiva de mim, assim que a porta foi aberta pelo policial me dando a oportunidade de ve-lo eu fiquei sem saber o que fazer.

Eu seria estúpida demais se agarrasse ele bem ali, mas nosso amor sempre foi assim, sempre foi mais intenso do que conseguíamos controlar, éramos loucos, sedentos.

Acredito que ele tenha sentido a mesma coisa que eu, que veio em minha direção, assim como eu ia na dele, encaixou a mão em minha nuca puxando meus cabelos e minhas unhas já foram direto para seus braços fortes, onde os arranharam.

Ele juntou nossos lábios, éramos feitos de luxúria.

Tive que voltar ao normal e perceber a situação em que eu estava.

Quando contei a ele sobre sua mãe, ele desmontou, as pernas fraquejaram e tiveram que levá-lo ao ambulatório, a pressão subiu e só me lembro de ser tirada brutalmente da sala por um policial forte enquanto Carlos gritava me implorando por sua mãe, e o quanto ele me odiava.

Nesse momento eu sabia que meu relacionamento tinha chegado a um ponto final.

Era muita informação para mim e agora eu nem morava mais com meu pai, ele me expulsou de casa depois de saber que Carlos tinha sido preso. Voltei a morar no antigo apartamento de mamãe e havia trago Isa comigo"

-Caralho Mel, que barra. - Rafa diz assim que termino de contar a história.

-Mas agora já está tudo certo, eu mudei, não caio mais no papo dele. - Falo e Rafa sorri de lado.

-Fico feliz com isso, você é boa demais pra qualquer coisa que envolva essas coisas erradas. - As palavras saem como poesia para meus ouvidos, era como se ele tivesse tirado um peso de meus ombros.

-Obrigada Rafa. - Digo dando um último gole na minha água.

-Devíamos dar uma caminhada também, o que acha? - Ele pergunta e eu concordo.

Caminhávamos em silêncio, só sua presença ali já me fazia bem.

-Eu estava pensando esses dias, vou pegar uma semaninha de férias, nós poderíamos passar essa semana na praia. O que acha? Tipo eu, você, Isa, Vitor, acho que eu levaria o meu irmão também, talvez. - Ele fala e eu já fico super animada, eu adoro viagens.

- Eu acho uma idéia incrível! - Digo empolgada e ele sorri em alívio.

-É uma boa né? Pensei nessa próxima semana que é feriado, acho que o pessoal não se importa de faltar só um da da faculdade, pelo menos eu não ligo. - Ele fala confuso.

-Acho que Isa com certeza não se importa de faltar da faculdade. - Falo e ele da risada.

-Vou falar com eles depois, o tio do Vitor tem uma casa na praia, se ele não for usar, aposto que nos empresta! - Ele fala e eu vou criando uma super expectativa.

Amando a dor.Onde histórias criam vida. Descubra agora