Capítulo 9.

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Meline Barbosa

Deixei Calliope com dona Marta, minha vizinha de confiança. Entrei no elevador junto com Isa e nossas malas. Os garotos estavam nos esperando na portaria para irmos. Eu estava muito animada e colocando muita expectativa nessa viagem, acho que seria uma experiência incrível.

Entrei no carro sentada ao lado de Rafa no banco da frente, Isa foi atrás com Vitor e o irmão do Rafael.

-Isa, Mel, esse é meu irmão, Daniel. - Rafa fala com um sorriso de ponta a ponta.

-Prazer gente. - Daniel fala e não posso deixar de notar o sorriso igual o do irmão.

-Prazer. - Digo sorrindo em retribuição.

-Você é a famosa Meline? - Ele me questiona e sinto minha pele esquentar por causa da vergonha.

-Isso. - Falo baixo e Rafa põe o braço na minha volta. 

O caminho seguiu tranquilo, fomos ouvindo o pen drive preferido de Rafa, que também era o meu, cheio de músicas melosas. Assim que paramos no primeiro posto, eu saí correndo pra fazer xixi, nunca pensei que viajar de carro me daria tanta vontade de mijar. 

Fiz meu xixizinho e fui para a parte da conveniência comprar alguma coisa para comer e forrar o estômago. Comprei uma empada de frango com requeijão e uma garrafa de suco natural. Vi Rafa sentado em uma muretinha ao lado de um arbusto do lado de fora da conveniência, fui até lá e me sentei ao seu lado para lanchar.

-Falta quanto tempo para chegarmos? - Pergunto, percebo que ele está cansado e com sono.

-Mais umas três horas para a próxima parada no outro posto. - Ele fala e boceja logo em seguida.

-Se quiser eu posso dirigir um pouco pra você, eu não me importo. - Falo e ele sorri de lado.

-Tá bom, mas só uma horinha, aí o Vitor vai até o próximo posto, assim não fica pesado pra ninguém. - Ele fala e eu concordo dando uma mordida em meu salgado.

-Quer? - Pergunto sobre a empada.

-Não, valeu. - Diz e me abraça de lado. - Obrigada por vir, ia ser muito sem graça sem você e a Isa. -Fala e beija minha bochecha.

-Eu que agradeço o convite, as vezes tudo o que eu mais preciso é sair daquele apartamento, e desde que a gente se conheceu eu ando saindo bem mais. - Ele me olha com os olhinhos brilhando, ele é tão lindo! 

Jogo o embrulho do salgado fora e também a garrafa de suco vazia e volto a sentar ao seu lado. Ele passa seu braço por meus ombros novamente e me aperta contra seu corpo. Seu perfume era muito bom, me deixava estasiada. Nossos olhares se encontraram depois de um tempinho e aquela foi a deixa para eu juntar nossos lábios de forma eufórica. Ele pôs sua mão em minha nuca e segurou meus fios de cabelo enquanto minha mão segurava seu rostinho. Nos separei e naquele momento nada poderia ter me deixado mais feliz do que o sorriso em seus lábios.

Me levantei como se nada tivesse acontecido e ele me seguiu, fomos até o carro, onde me sentei no banco de motorista e todo o pessoal já foi entrando. 

-Ah não, a Mel vai ir dirigindo? Vou descer do carro. - Isa fala irônica.

-Cala a boca meu. - Falo no mesmo tom que ela e eles caem na gargalhada.

-Não é pra matar a gente hein. - Vitor fala e olho ele pelo espelho.

-Vou bater só o seu lado, pra você ser o único prejudicado. - Falo rindo e ele faz uma cara de revolta. 

Esse pessoal me fazia bem demais.

Logo que acelerei o carro, Daniel já havia dormido. Isa e Vitor estavam assistindo um filme pelo notebook dela, eu não estava entendendo muito já que estava prestando atenção na pista. Rafa pôs a mão em minha coxa e apoiou a cabeça no próprio ombro, já já ele estaria dormindo. 

Durante uma meia hora o trajeto estava sendo bem tranquilo, todos já haviam apagado e agora só estava eu acordada e as falas do filme de Isa. Passei pelo pedágio, e segui o caminho, saindo da pista e entrando em uma avenida como indicava o trajeto no gps. 

Já havia passado mais de uma hora que eu estava no volante, mas resolvi continuar e não acordar nenhum deles, se eu sentisse necessidade acordaria o Vitor pra ele trocar de lugar comigo, mas tudo calmo por enquanto. O filme tinha acabado e agora tudo estava silencioso, liguei o rádio, coloquei em qualquer rádio, não conseguiria pegar o pen drive sem acordar Rafa. Tocava uma versão acústica de Homesick da Dua Lipa, meus pensamentos sobre o que havia entre eu e Rafa fluíam de forma rápida em minha mente, eu não queria machucá-lo, e querendo ou não, eu era perigosa, não por ter um ex namorado traficante ou qualquer coisa que ele seja, eu era perigosa pelo simples fato das células do câncer correrem por todo meu corpo. 

-Mel? Ainda tá dirigindo? - Rafa acorda passando a mão pelo rosto. - É melhor você trocar com o Vitor, você não pode ficar fazendo tanto esforço. - Eu não gostava de me sentir incapaz por portar essa doença, mas eu sabia que ele não falava por mal. Ele só me queria viva.

-No posto eu troco, depois vai ter mais uma parada, ele ia dirigir muito. - Falo e Rafa sorri.

-Já ta chegando? - Ele pergunta mexendo no gps.

-Sim, só mais vinte minutos.

-Caralho, eu dormi por bosta. - Fala assustado.

-Pelo menos agora você já ta descansado. - Digo e ele concorda.

O resto do tempo ele foi mexendo no celular e me perguntava uma coisinha ou outra. Assim que estacionei o carro no posto, senti um alívio imenso percorrer meu corpo, não devia ter me esforçado tanto.

Só me deito no banco de trás enquanto eles estão dentro da conveniência e respiro fundo, fecho os olhos e tento manter tudo sobre controle, talvez eu devesse tomar um Dramin para o enjoo. Pego minha necessaire que estava no banco da frente e pego o remédio de gotas, tomo ele com um bom gole de água, esse remédio é péssimo. Deito novamente e espero eles. Rafa chega antes de todos e abre uma das portas de trás, olha pra mim e dá um sorrisinho de lado.

-Eu te trouxe um bombom. - Fala com um sonho de valsa em mãos e meu sorriso cresce.

-Adoro esse chocolate! - Falo e me sento para que ele possa sentar comigo. - Como você sabe que eu goste dele? É um dos meus favoritos. - Ele me entrega e da risada.

-Foi por puro chute, mas eu acertei. - Diz rindo e eu rio com ele. 

Foi o resto do caminho dormindo no ombro de Rafa, quando chegamos eu fiquei pasma com o tamanho da casa e com tanto luxo, era fora do normal.

Daniel Marques


Amando a dor.Onde histórias criam vida. Descubra agora