Capítulo um - Esmeralda

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      Minha mãe faz um café especial para nós hoje. É para comemorar por eu estar há três meses na empresa Tales Tec. Ela inclusive fez um bolo para mim. Eu me sinto muito bem por ajudar ela com as coisas de casa e com a faculdade de Rubí, que na verdade, foi um dos principais motivos para eu começar a trabalhar.
    Minha mãe cuida de nós sem a ajuda de ninguém. Na verdade, como sou a irmã mais velha, eu sou também responsável pelas minhas irmãs. Nosso pai nos abandonou quando éramos adolescentes e casou com outra mulher, agora ele vive com sua outra família enquanto nós passámos dificuldades.
    Tudo começou porque Sofia, minha mãe, não podia engravidar. Eles decidiram adotar e nós fomos as escolhidas. Eu tinha quatro anos, Safira e Jade tinham três e depois de algum tempo, adotaram a Rubi com um ano de idade. Aparentemente, nosso pai queria filhos do seu sangue, por isso foi embora. Mas talvez seja melhor assim. Já não queremos saber dele nem dos nossos pais biológicos. Na verdade, não importa quem eles são. Não para mim.
    Dou um abraço para minha mãe e sento na mesa para comer. — Não precisava, mãe! Mas muito obrigada!
    — Não precisava mesmo! — Jade responde com a boca cheia e revira os olhos.
    — Você também devia arrumar um emprego, sabia? — Mamãe responde para ela.
    — Não é tão simples assim. — Safira responde. — Eu mandei meu currículo para vários lugares e até agora não consegui nada.
    — E a senhora não pode esperar que a gente entre na Tales Tec. Rubí é a única de nós que fez faculdade. — Jade responde.
    — Vocês podem parar de reclamar e ficar feliz pela vossa irmã? Vou pensar que é inveja!
    — Claro que não, mãe! — Safira sorri e me abraça.
    — Eu também não. Parabéns, Esmeralda! — Rubí sorri.
    Mamãe olha para Jade com as sobrancelhas arqueadas. — Não vai dizer nada?
    — Eu também vou encontrar um emprego.
    — Deixa para lá, mãe. — Bebo o suco. Tenho que chegar sempre cedo porque sou recepcionista. Mas não posso desvalorizar o meu trabalho. É melhor do que muitos.
    — Como é trabalhar com os lindos irmãos Tales? — Rubí diz sorrindo.
    Realmente, eles são muito lindos. E todos trabalham lá. Tem o Peter, o Renner, o Harris e o Nicholas. Não vou mentir que o que mais chama a minha atenção é o Peter Tales. Gosto de ouvir ele dizer "bom dia" para mim todos os dias. Acho que ele é uma pessoa incrível e inteligente. Vi também ele ajudando muitas pessoas. Ele é perfeito, mas claro que não olharia para mim. Minha mãe é empregada na casa de seus pais, ele com certeza não ficaria com a filha da empregada. Sei que ele é solteiro, mas não há esperança.
    — É interessante! — Sorrio.
    — Eles são os riquinhos arrogantes que acham que são melhores que todo mundo. Eu sei. É sempre assim. — Jade comenta.
    — Eu não sei. — Dou de ombros.
    — Mãe, eu estive pensando, enquanto eu não tenho respostas de emprego, eu poderia ajudar lá na mansão. — Safira diz.
   — Vamos ver o que a senhora Bella vai dizer. Agora comam rápido porque precisam sair.
    — Rubí e Esmeralda precisam sair. Nós vivemos um tédio aqui! — Jade olha para minha mãe.
    — Se você quiser trabalhar na mansão também...
    — Nunca! Eu não ia conseguir aturar os meninos ricos ou a senhora rica. Não aguentaria nem um dia. Provavelmente, colocava veneno na comida deles. — Ela ri. Essa é a minha irmã sinistra. Jade é a mais diferente de nós.
     — Eu não me importava de olhar para os irmãos Tales todos os dias. — Rubí responde. — Principalmente para o mais novo.
    — Vocês só pensam nisso? — Safira ri.
    — Você diz isso porque já tem um namorado, irmã. — Digo.
    — Correção! Um noivo. Eu estou muito feliz.
    — Falem menos e comam mais, meninas. Temos que sair daqui a pouco. — Mamãe ordena.
    Parámos com os comentários e comemos. Não posso negar que estou um pouco ansiosa por me encontrar com Peter novamente no trabalho. É estranho, mas tenho a sensação que hoje vai ser diferente. Ou é apenas coisa da minha cabeça.

      Uso o uniforme do trabalho que é uma camisa branca com o logótipo da Tales Tec, uma saia lápis azul escura, saltos altos e rabo de cavalo. Praticamente é o que todos os funcionários de nível baixo usam. Os outros usam suas próprias roupas e têm seus próprios carros porque o salário é realmente diferente.
    A Tales Tec é enorme. E por estar aqui dentro é um grande privilégio para mim. Tenho a certeza que até os auxiliares de limpeza também têm orgulho de limpar o chão daqui. Ou de saber que é graças a eles que a Tales Tec é tão imaculada.
    Eu me posiciono no meu posto de trabalho quando faltam dez minutos para a abertura. Gosto de ser pontual e é isso que o meu trabalho exige. Tenho que chegar sempre a horas.
    — Bom dia! — Então, oiço a voz dele.
    Vejo quando pisa o chão da entrada e olha para mim, quando seus lábios perfeitos me cumprimentam com aquele sotaque britânico que deixa qualquer mulher louca, o seu sorriso irónico, sua forma de andar, seus cabelos perfeitos e o cheiro dele. Não tem como não se apaixonar por ele. E eu sei que ele é demais para mim. A um nível extremo, porque o sol e a lua nunca podem se encontrar. Nós somos como o sol e a lua.
     Eu fico olhando para ele até que desaparece no grande elevador. Então, Rebecca me dá um sinal, me tirando dos meus devaneios. Acontece sempre que olho para ele. Acho que estou numa fase difícil da paixão.
    — Você pode parar de babar? Eu já disse que os homens que trabalham aqui não são para nós.
    — Você tem razão. É só que não consigo me controlar quando é o Peter. Quer dizer, o senhor Tales. — Olho para as minhas mãos.
    — Se concentre, por favor! — Ela diz.
    — Eu vou.
    Falar é fácil. Sempre que Peter passar, ele vai chamar a minha atenção. Ele é como um imã, quando passa atrai tudo em mim. E eu não consigo resistir ao seu charme. Ele é o meu amor platônico. E saber disso, dói bastante. Porque eu sou apaixonada por ele e sei que nunca olharia para mim. Dói saber que vivo um conto de fadas na minha cabeça.
    Acho que também esse é um dos motivos para gostar do meu trabalho. Porque posso estar perto da pessoa que eu gosto e vê-la todos os dias. Pena é que ele não me vê, não como eu queria que visse, como uma mulher não como uma simples empregada que tem que cumprimentar só por educação.
    Eu suspiro e começo a atender alguns clientes que vêm pedir informações, ajudo alguns a terem o que também necessitam e também outros que vêm deixar seus currículos ou que pedem os emails para enviarem seus currículos.
     E o meu dia é sempre assim. Conhecendo uma pessoa diferente a cada minuto e depois ir para casa. Mas claro que eu só vou embora depois de ver Peter indo embora. Estou naquela fase em que nada pode me curar. Tenho que admitir que estar apaixonada é bom, mas infelizmente, não há correspondência.
     E o dia termina como qualquer outro. Mas antes, eu ajudo uma mulher com as informações que precisa, depois eu me preparo para ir embora. Antes mesmo de pegar a minha bolsa, eu vejo Peter conversando com o Vice presidente da empresa. Ele deve ter uns cinquenta ou sessenta e é calvo e barrigudo. Também já vi a sua esposa e pelo que eu vi, ela só está com ele para viver como uma rainha.
    Enquanto eles conversam na recepção, eu fico olhando para ele, para cada sorriso e para cada movimento que ele faz. Ele é tão lindo que me deixa sem palavras. Ele é um sonho que não pode ser realizado. Não para mim.
     Peter olha para mim agora e meu coração acelera a um nível exagerando. Mas eu desvio o olhar para que ele não perceba o que eu sinto. Tenho a certeza que ele não ia gostar.
     Termino de arrumar as minhas coisas e saio depois que eles saem também. Fico um pouco envergonhada por saber que Peter me flagou olhando para ele, admirando a sua beleza. Espero que não desconfie de nada, eu ficaria muito envergonhada.
     Caminho pela calçada o mais rápido que eu posso para poder chegar o quanto antes em casa, pois tenho algumas coisas para fazer. Safira insistiu que eu a ajudasse. Mas quando estou prestes a atravessar a estrada, vejo o carro de Peter. Ele abaixa o vidro do carro e olha que mim com um grande sorriso.
    — Vai para casa? — Pergunta. Céus! Esse sotaque é capaz de acabar comigo em todos os sentidos.
    — E-Eu... Sim. Sim, eu... Sim. — Meu Deus! Que vergonha. — Eu vou para casa. — Digo.
    — Quer carona? — Ele sorri. Ele tem um sorriso muito lindo.
    — Sim, senhor! Eu adoraria! Quer dizer, não quero...
    — Entre! — Ele diz, me cortando.
    — Está bem! — Eu entro e fecho a porta. E céus! Que cheiro é esse no seu carro que faz uma ótima combinação com o seu perfume? Eu nunca estive tão perto de Peter desde que comecei a trabalhar aqui.
    Ele começa a dirigir e eu olho para suas mãos fortes e bem cuidadas. Ele tem dedos compridos e lindos. Não imagino como deve ser entrelaçando as nossas mãos ou sentir o seu toque. Gostaria de ter essa sorte só por um segundo.
   — Então, não vai me dizer o seu nome? — Pergunta.
   Olho para ele. — Esmeralda.
   — Como a pedra verde?
   — Sim. Minha mãe me deu esse nome porque meus olhos parecem esmeraldas. — Digo.
   — Combina com você!
   — Obrigada, senhor Tales!
   — Peter, por favor! Me chama de Peter quando não estivermos trabalhando. — Ele sorri. O jeito que ele diz o seu nome com esse sotaque... eu não acho que aguento muito mais. Mas também tenho a certeza que não teria coragem de me declarar para ele.
    — Eu vou tentar.
    — Você é assim tímida ou eu estou te intimidando?
    — Não! Quer dizer, eu não falo muito nem pouco, mas também não estou acostumada a conversar com pessoas como o senhor.
    — Pessoas chatas?
    — Pessoas superiores a mim.
    — Eu entendo. Mas comigo não precisa de muita cortesia. Pode relaxar. Eu sou uma boa pessoa e não julgo ninguém.
    — Vou me lembrar disse, senhor... Peter!
    — Você aprende rápido. Gosto de mulheres assim! — Ele sorri. Isso quer dizer que gostou de mim?
    Tento controlar o meu sorriso, apertando os lábios, fazendo beicinho, mas ele sempre sai. E Peter nota, mas não diz nada.
    Eu guio ele até a casa da minha mãe, que é uma casa pequena, mas é acolhedora e gostamos muito dela. Cuidamos com bastante amor, porque há que agradecer pelo que temos. Muitos não têm onde dormir.
    Minha mãe trabalha na casa dos pais de Peter, mas eu não sei se ele sabe que Sofia é a minha mãe, porque nem sabia o meu nome. Quer dizer, ele não é obrigado a saber o nome de todos os empregados, mas tem de saber que sou filha da Sofia.
    Eu tiro o cinto de segurança e olho para Peter. — Muito obrigada por me trazer até casa.
    — Não faz mal. Eu gosto de ajudar. — Ele não está sorrindo, apenas olhando para mim de um jeito estranho.
    — Obrigada, Peter! — Abro a porta e sinto sua mão na minha. Ele agarra a minha mão para me impedir de descer. Não sei o que está acontecendo, só sei que sentir a sua pele é melhor do que imaginei.
    — Espere! — Olho para ele. — Você mora aqui sozinha?
   — Não. Eu moro com a minha mãe e as minhas irmãs.
   — Entendido. Tenha uma boa noite! — Ele solta a minha mão. E eu sinto uma sensação dolorosa quando faz isso.
    — Você também, Peter!
    Finalmente, saio do carro e vou para dentro de casa, onde encontro Jade e Rubí espreitando pela janela quando abro a porta. Elas olham para mim como se estivessem esperando uma explicação.
    — Aquele é o Peter? — Rubí pergunta sorrindo.
    — Sim. Ele só estava sendo simpático.
    — Quando alguém como ele é simpático demais para alguém como você, ele está tramando alguma coisa. — Jade diz.
    — Ele é uma boa pessoa. Você desconfia de todo mundo.
    — Ele beijou você? — Rubí segura o meu braço.
    — Claro que não! Eu não chego ao nível dele. Ele jamais olharia para mim.
    — A não ser que quisesse alguma coisa em troca. — Responde a Jade.
    — Podem parar? Primeiro, ele não é homem para mim. E segundo, não é porque ele é rico que é uma má pessoa.
    — Como você quiser! — Jade vai para a cozinha, e eu vou para o quarto.
    Eu sei que não devia, mas penso se seria possível Peter gostar de alguém como eu. Eu sou sem graça, uma simples empregada porquê olharia para mim? Mas também gostaria de saber porquê depois desse tempo todo decidiu se aproximar de mim. Talvez sinta alguma coisa ou talvez eu esteja sonhando demais.

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Primeiro capítulo! sejam bem vindos. Eu espero que gostem da história e digam o que acharam.
Abraços

Esmeralda - Pedras preciosasOnde histórias criam vida. Descubra agora