Capítulo vinte - Peter

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     Quando Esmeralda sai da cozinha e me deixa sozinho com esses idiotas, meus pés ficam presos ao chão como se eu não soubesse o que fazer. Foi estranho. Eu não gostei do jeito que ele tocou nela. Vi quando segurou sua gravata e olhou para ela com o olhar de conquistador, e sei disso porque fui eu que inventei esse olhar. Estou apenas tentando proteger Esmeralda desses lobos esfomeados, e sei disso porque também sou um.
    E não pensei que suas palavras fossem me atingir desse jeito. O que ela disse é verdade, mas eu nunca mais me importei com o que as pessoas dizem. Eu apenas mando foder tudo a minha volta. Porquê não faço o mesmo com Esmeralda? Porquê me sinto mal por vê-la chorar?
    Depois do nosso encontro essa manhã, eu fiquei vigiando ela a cada segundo. Foi uma surpresa para mim que ela iria trabalhar na festa. Se eu soubesse disso, teria preparado o meu coração para aquele encontro chocante. Mas eu fiquei observando enquanto ela conversava com suas irmãs na cozinha, quando ajudou Sofia, ela é uma boa pessoa. Ela não merecia passar por aquilo.
    Mas também achei assustador, e ainda acho, eu estar vigiando ela nesses dias. Cheguei a conclusão que o meu problema está nela. Exatamente. Sempre que ela está por perto, eu ajo que nem um fracassado confuso. Eu não sou assim. Eu sou o Peter Tales, o homem que não se importa. O homem que consegue controlar qualquer situação. Tenho medo que esse homem esteja desaparecendo aos poucos.
    Os garçons idiotas saem da cozinha olhando para mim com medo, eu acho, e as irmãs de Esmeralda aparecem rindo, mas param quando olham para mim. Isso é o suficiente para eu sair também e tentar me distrair.
    Eu sei que vão me culpar e falar mal de mim. Eu mereço, mas não há castigo maior do que o que eu estou passando. Ou será que há?
    Eu vou para sala, onde mamãe está conversando com papai, mas passo por eles até me encontrar com Nicholas. Ele está arrumando seu cabelo no espelho. Sei que apesar da sua frieza e arrogância, ele sempre nos ajuda.
    — O que você quer? — Pergunta.
    — Preciso da sua ajuda. — Falo baixo. — Eu acho que estou ficando louco.
    — Pensei que fosse! — Ele arqueia uma sobrancelha.
    Reviro os olhos. — É por causa daquele assunto.
    — Que assunto? — Ele vira para me encarar, cruza os braços e sorri. Eu sei que ele sabe de que assunto estou falando, que só quer ouvir da minha boca.
    — Sobre... — Olho para os lados para ver se tem alguém. — ...Esmeralda.
    — Porque ficou o dia todo vigiando ela?
    — Como você sabe? — Pensei que estive sozinho o tempo todo.
    — Eu sei tudo que acontece dentro dessa casa, irmão. — Toca o meu ombro. — Posso dizer uma coisa?
    — Cuidado com as suas palavras!
    — Você não quer admitir, mas você está gostando dela.
    Rio, mas por dentro eu estou com medo. Isso é extremamente assustador, estar apaixonado é a última coisa que eu quero depois do que Madeleine fez comigo. Eu só quero que tudo isso seja apenas um mal entendido. Apenas culpa ou arrependimento passando na minha cabeça.
    — Claro que não. Eu não gosto dela. Só me sinto mal pelo que fiz.
    — Eu posso provar para você que está enganado.
    — Eu não preciso que me prove nada. Eu não estou apaixonado por ninguém. Você vai ver que isso vai passar. Eu nem conheço ela. — Fico irritado.
    — Calma! — Ele se afasta. — Foi apenas um comentário inofensivo.
    — Desculpa. Eu só quero pedir para me ajudar a estar longe dela essa noite, por favor!
    — Eu verei o que posso fazer. Mas se não estivesse gostando dela, não acho que me pediria uma coisa dessas. — Ele diz e caminha em direção da festa, me deixando com os meus pensamentos. Será que ele tem razão? Não! Eu não quero aceitar isso.
    — Peter! — Minha mãe vem rapidamente até mim. — Meu filho, onde está o seu relógio?
    — O meu relógio? Porquê?
    — Você pensa que eu não noto? Você usa todos os dias, mas hoje não está usando. Na verdade, ultimamente não tem usado. — Olha para mim. Eu não posso mentir, mas posso contar meia verdade. Eu sei que o perdi para sempre. Mas alguma coisa me diz que o meu relógio deve estar com Esmeralda. Mas ela não seria capaz de fazer isso. Eu devo ter perdido no hotel e as camareiras o levaram.
    — Eu... eu o perdi. Sinto muito, mãe! Eu não sei como isso foi acontecer.
    — Não faz mal. Depois Sofia pode procurar. — Ela me leva para fora, para o local da festa.
    Os convidados estão aumentando cada vez mais. Só espero que seja motivo suficiente para eu não me cruzar com Esmeralda novamente. O meu dia está sendo péssimo, essa maldita festa mal começou e já estou com vontade de fugir daqui. Eu estou enfraquecendo. Porquê estou me sentindo assim? Eu não gosto de me sentir fraco, um idiota!
   Ocupo uma mesa e fico olhando os convidados chegando e serem recebidos pela minha mãe. Não posso continuar nesse estado senão ela vai desconfiar de tudo. Ela já acha que estou apaixonado, se calhar é melhor as coisas continuarem assim.
   Suspiro e procuro por um rosto conhecido além dos meus irmãos. Infelizmente, vejo Maise se aproximando com Harris. Ela é gostosa, mas não acho que nenhum homem merece alguém como ela. Gostaria de saber se Harris não fica irritado com ela.
    — Peter! Como está o cunhado mais incrível? — Olha para mim sorrindo como uma boneca.
    — O que você acha? — Pergunto. Estou aqui com medo de cruzar com Esmeralda novamente. Eu não estou bem.
    Mas pelo menos, a perda de voz já não é um problema. Talvez isso significa que eu estou voltando ao normal. Eu sabia que era apenas uma fase. Daqui a pouco não vou mais me importar com isso.
    — Está de mau humor? — Harris olha para mim.
    — Talvez.
    — É por causa daquele assunto?
    Quero fugir daqui. — Sim. É por causa daquele assunto. E você precisa me ajudar a evitar aquele assunto.
    — Vou tentar! — Ele diz.
    — O que quer que seja vai passar. Não é, bebezinho? — Maise aperta as bochechas do Harris, me fazendo rir.
    — Aqui não, bebezinha!
    — Mas você gosta! Não gosta? — Ela imita a voz de uma criança. Isso é irritante. E é ainda pior porque ela não me parece ser esse tipo de mulher. Ela parece usar essa fofozura para esconder seu lado estranho e obscuro. Não sei como Harris não nota isso, mas posso estar errado. E já conversamos sobre isso várias vezes, só que cada um vive a sua vida. Não posso obrigar meu irmão a nada.
    — Eu já estou triste, não me façam adoecer, por favor! — Levanto porque não aguento tanta doçura.
    Procuro por Renner, mas passo por Esmeralda. Só que dessa vez, ela está longe e não me vê. Eu fico parado olhando para ela, andando de um lado para o outro com uma bandeja na mão, com seus cabelos pretos em um rabo de cavalo, seu ar inocente e sorriso bonito. Noto também que alguns garçons e até convidados olham para ela, e isso me enfurece. O que eu estou fazendo aqui?
    Esmeralda leva bebidas para alguns homens e se afasta, mas os imbecis continuam olhando para ela como se fosse um pedaço de bife. E eu não posso fazer nada porque eu não quero que as coisas fiquem mais complicadas ainda e porque eu não quero me importar.
    — É difícil, não é? — Nicholas fica ao meu lado.
    — O que é difícil? — Pergunto.
    — Ficar longe dela. É por isso que pediu a minha ajuda.
    — Não é difícil ficar longe dela. Eu só acho que não é bom tomar decisões precipitadas... — Nem sei o que estou dizendo. Eu tenho que parar com isso. Tenho que parar de mentir para mim mesmo. —... está bem. É difícil ficar longe dela.
    — Você está passando da fase de negação. Isso é muito bom. Você só precisa aceitar as coisas. — Ele me entrega uma taça de champanhe. — Você é melhor do que isso, Peter.
    — Eu já não sei. Mas alguma coisa dentro de mim acha que é apenas um sentimento de arrependimento. O que eu fiz com alguém como ela é muito cruel, não tem como não me sentir mal com isso. — Bebo todo o champanhe, mas eu preciso ficar sóbrio, antes que cometa uma loucura e beije Esmeralda na frente de todos. Sei que a minha versão bêbada faria isso.
    — Então, não se importa que aquele garçom comece a flertar com ela, não é? — Aponta para o mesmo loiro que estava fazendo a gravada dela.
    — A vida é dela! — Digo.
    — Peter, você já mentiu melhor que isso.
    — Eu não estou mentindo e pára de me atormentar. Devia procurar alguma namorada na festa.
    — Se você não namora, porquê eu devo namorar? Não dizem que devemos seguir o exemplo do nosso irmão mais velho? — Ele sorri e bebe seu champanhe.
    Finalmente, Renner aparece, me impedindo de ser bastante rude com Nicholas. Ele está sorrindo e vem nos abraçar como se estivesse ficado longe por muito tempo. Seu comportamento é extremamente suspeito. Eu diria até que ele conseguiu alguma coisa totalmente difícil.
    — Irmãos!
    — Você está assim porque acabou de transar ou porque beijou a Rihanna? — Pergunto.
    — Duas hipóteses muito boas, mas não.
    — Então, o que é? Não pode ficar assim tão feliz do nada. — Nicholas olha para ele.
    — Está bem. O amor da minha vida acabou de chegar. O meu novo carro! — Ele sorri mais ainda.
    — Ah! Pensei que fosse algo mais emocionante como o amor da sua vida, tipo, uma pessoa de verdade. — Nicholas ri.
    — Claro que não. Mas não está longe de acontecer. Tenho alguém em mente, mas essa coisa de amor da minha vida é só depois dos trinta. Eu ainda tenho muito caminho pela frente. — Renner fica observando Esmeralda de um jeito que não me agrada.
    Bato no seu ombro. — O que você pensa que está fazendo? Para onde está olhando?
    — Peter! — Nicholas toca o meu ombro.
    — Eu só estava olhando para aquela empregada bonita. Madeleine não está aqui.
    — Eu não quero saber da Madeleine! — Ele conseguiu me enfurecer, mesmo depois de já ter me acalmado.
    — Peter, por favor! — Nicholas me afastar de Renner. — Aquela é a Esmeralda, filha da Sofia. Peter gosta dela. Ela é "aquele assunto". — Faz aspas com os dedos, mesmo segurando sua taça de champanhe.
    — Ah! Porquê não me disse? Como eu ia adivinhar que o seu assunto iria aparecer na festa? Eu fiquei o dia todo fora. — Ele cruza os braços irritado também.
    — Agora você sabe. Mas não a parte de gostar porque eu não gosto.
    — A mim parece que gosta bastante. — Renner sorri.
    — Parem com isso!
    — Se você não gosta, então eu posso ir atrás dela. — Renner volta a olhar para ela.
    — Você não vai querer fazer isso! — Digo. — Não me provoque!
    — Ele está na fase de negação. — Harris se aproxima da gente também. E sem Maise.
    — Parem com isso. Eu só quero paz, mas vocês estão complicando ainda mais a minha cabeça. — Olho para Esmeralda trazendo mais bebidas.
    — Estamos tentando mostrar o que você não quer ver. Mas tudo bem. Pára e pensa. Pensa no que você sente quando vê ela, quando sonha com ela, quando ouve sua voz. — Harris olha para mim. — Você tem a certeza que não sente nada de nada?
    Mas talvez eles tenham razão. Se eu disser que não sinto nada de nada, eu estaria mentindo completamente. Mas acontece que eu sinto muita coisa. Primeiro são as noites em claro, pensando no que eu fiz, depois a falta de apetite, bloqueio mental quando vejo ela e não gosto que outros fiquem olhando para ela.
    E enquanto eu analiso tudo isso, Esmeralda parece sentir o meu olhar e olha para mim, fazendo meus irmãos fingirem que estão distraídos. Ela olha para mim também e continua andando e sem perceber, ela despeja as bebidas numa mulher de vestido preto, que deve ter uns quarenta.
    Essa mulher olha para ela com desdém e empurra Esmeralda com raiva, me fazendo querer protegê-la.
    — Olha o que você fez, sua emprestável! Não sabe fazer nada direito?
    Harris me segura. — Peter, não!
    — Não faça isso, Peter! — Nicholas se aproxima.
   Eu me afasto deles e corro até Esmeralda, e durante esse percurso, sinto primeiro os muros de aço se quebrarem, depois os de pedra desmoronam, fazendo o Peter que está enterrado e congelado despertar e sair do seu castelo protetor.
    Vou até elas e fico entre elas, colocando Esmeralda atrás de mim, para protegê-la, porque ela não fez de propósito e ela tem razão. O dinheiro não nos faz pessoas melhores que as outras. Ela não pode tratar assim a Esmeralda só porque tem colares de diamantes e nada em dólares. Nem ela, nem eu.
    — Não precisa falar assim com ela. Ela não fez de propósito. Você também devia olhar para onde anda. — Digo.
    — Está apenas defendendo uma empregadinha!
    — Que é um ser humano imperfeito assim como você!
    Minha mãe se aproxima da mulher horrível. — Foi apenas um acidente. Pode acontecer a qualquer um, não precisa ficar com raiva dela.
    — Me poupe! — Ela vai para dentro de casa. Minha mãe pisca um olho para Esmeralda e segue a desgraçada.
    Olho para Esmeralda. — Você está bem?
    — Eu estou bem e sei me defender sozinha.
    — Não foi o que eu notei.
    — Eu preciso voltar ao trabalho. — Ela pega a bandeja.
    — Desculpa!
    — O quê?
    — Desculpa por ter sido um idiota, por ter quebrado o seu coração. Peço desculpa por tudo. — Finalmente tenho coragem para dizer.
    — Eu preciso voltar ao trabalho. — Diz como se não tivesse ouvido o que eu  tinha dito.
    E ela vai embora, me fazendo sentir uma dor profunda por pensar que pedi desculpa, e ela não perdoou. E essa dor me desperta, pois sei que há um minuto eu não queria aceitar, mas até quando eu vou mentir para mim mesmo? Tudo isso não pode ser apenas culpa ou arrependimento. Tudo isso, que estou tentando negar é amor. Eu acho que estou apaixonado.
    O meu medo se tornou realidade, e eu não sei o que vou fazer.

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Veio tarde, mas chegou o capítulo.
Espero que tenham gostado.
Abraços!

Esmeralda - Pedras preciosasOnde histórias criam vida. Descubra agora