Capítulo quinze - Esmeralda

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     — Alô! — Atendo o número desconhecido. E tudo que eu oiço é uma respiração. — Alguém? Quem está falando? Alô!
    Mesmo assim não responde. Continuo ouvindo a pessoa respirar como se a minha voz o tivesse paralisado. Ou pode ser alguém que esteja fazendo uma brincadeira de mau gosto. Seja como for, eu não tenho tempo nem paciência para isso, desligo o celular.
    Rubí olha para mim, sentada na sua cama. — Você está bem?
    Sorrio com a sua pergunta. Em cada cinco minutos, ela tem me perguntado se estou bem. Eu sei que ontem eu chorei muito e que ainda dói, mas eu estou me recuperando. Algum dia eu fico bem. Eu vou superar tudo isso.
    — Eu estou bem! — Sento na cama também. — Então, você quer continuar com o plano do Renner?
    — Você acha que ele é parecido com o irmão?
    — Bem, eu não sei. Nós quatro somos diferentes. Talvez eles também sejam.
    — Eu tenho medo de saber.
    — É melhor saber antes do que quando já estiver envolvida. Acredite em mim.
    — Eu acredito.
    Jade entra no quarto e se joga na cama também. Fiquei sabendo que ela foi na Tales Tec devolver o colar para Peter. Não pensei que fosse fazer. Tinha que ser eu, mas admito que não tenho coragem e que não quero ver Peter nem pintado de outro.
    — Quem quer fazer compras? — Ela pergunta rindo.
    — Eu quero muito, mas há um problema. Não temos dinheiro. — Rubí responde.
    — E mesmo que houvesse dinheiro, eu tenho que trabalhar amanhã.
    — Eu tenho dinheiro. — Jade ri mais ainda.
    — Você arrumou um emprego ou alguma coisa assim? — Pergunto.
    — Não exatamente! — Tira o relógio do Peter do bolso do seu vestido. — Precisamos nos livrar disso antes que mamãe perceba. E vocês não vão acreditar no que eu descobri. Eu fui num especialista em jóias e essas coisas e ele disse que esse relógio vale cinquenta mil dólares. Estamos ricas!
    — Eu concordo plenamente em vender o relógio, mas há uma falha no seu plano. — Rubí olha para ela. — Como vamos explicar para mamãe de onde o dinheiro saiu?
    — Eu... não tinha pensado nisso. — Ela suspira.
    — Podemos gastar o dinheiro por etapa. O que acham? — Rubi diz.
    — Acho bom. E podemos dividir. Dez para cada. O outro dez pode ser para emergência de casa.
    — Vocês estão falando sério? — Pergunto. — Porquê não devolvemos no dono? Jade, você disse que ele confessou que tem um valor sentimental.
    — Pára de ser boa, Esmeralda! Ele te machucou. Não fica com pena dele. — Jade vem sentar na minha cama. — Ele não se importou com os seus sentimentos. Não se importe com os dele também.
    — Jade tem razão. Mas se não quiser o dinheiro do relógio, a gente pode gastar sem você.
    — E como vão contar para mamãe?
    — Ela nem vai notar. — Jade dá de ombros. — E eu avisei que você ficaria dois dias em casa, o que significa que pode faltar amanhã.
    Suspiro. — Está bem.
    — Ótimo! Safira vai tratar do resto.
    — Resto? — Pergunto. — Safira também concordou com essa maluquice?
    — Para você ver quem é a Madre Teresa daqui de casa! — Jade ri.
    — Eu sei que sou eu. — Suspiro.
    Mas minhas irmãs têm razão. Eu não quero mais me importar com Peter. E tenho a certeza que gastar o dinheiro do relógio não é equivalente aquilo que me fez, e não chega nem metade. Eu tenho que parar e ser mais otimista, aumentar minha auto-estima e não deixar nunca mais ninguém me derrubar. Eu serei forte como nunca fui.

    Vamos em um shopping com Safira dirigindo o carro do Henry, depois de vendermos o relógio. Eu sei que agora é tarde, mas quero voltar para casa. Sinto que o que estamos fazendo é errado, e a outra parte de mim me incentiva a continuar e a pensar nisso como se fosse uma pequena vingança. É o mínimo que eu posso fazer depois do que ele fez. E visto que ele não tem coração, como poderia o relógio ter algum valor sentimental?
    — Como é possível que Henry faça tudo que você quer? Como emprestar o carro, por exemplo. — Rubí está fazendo uma lista de coisas que quer comprar no celular.
    — Um dia, você vai saber! — Safira sorri. — E eu vi isso, Jade!
    — Não consigo não revirar os meus olhos. — Jade responde atrás de mim.
    Olho para Safira. — Diga que isso não é errado, por favor!
   — A isso se chama vingança! Eu acho que ele merece pior, por acaso estamos sendo boazinhas.
   — Safira não podia ter dito melhor. — Jade aplaude. — Esme, por favor, pelo menos um dia faz alguma coisa errada.
   — Está bem. Vou tentar viver bem com isso, porque ele merece! — Fecho os olhos.
    Ainda estou me controlando para não pensar nele. Eu sei que não namoramos muito tempo, mas eu sou apaixonada por ele há muito tempo e aqueles momentos pareciam anos porque eu o amo muito. Não sei porquê é assim. Confesso que ainda derramo minhas lágrimas por ele, quando vou dormir. Choro silenciosamente para que Rubí não acorde. Mas só passou um dia. Ontem a essa hora, eu estava acordando naquele maldito hotel. Foi um dia muito ruim.
    E dói muito lembrar das coisas que ele disse para mim. Eu fico pensando se quando dizia que eu era especial era tudo mentira, se os elogios eram mentira, se tudo que ele disse, cada palavra, tudo foi uma mentira.
   A culpa também é minha por ter um coração incrivelmente penetrável, completamente acessível, fácil e bom. Mas eu já aprendi a lição e sei que não se deve confiar em qualquer pessoa. Confiança é algo difícil de adquirir, mas eu confiei em Peter tão facilmente, que agora que penso nisso me sinto muito burra. Eu não posso mais ser burra.
    O carro pára. — Chegamos! — Safira diz, me fazendo abrir os olhos.
   — Aí, meu Deus! Ahhhhhh! — Rubí grita e sai do carro em questões de segundos.
    — Concordo com ela! — Jade também sai.
    Safira desliga os motores e sai também. Eu faço o mesmo e espero enquanto ela tranca as portas do carro. Entramos todas e vamos direto nas lojas de roupa.
   Minhas irmãs começam a pegar em tudo, enquanto eu apenas olho. Mas tudo já está feito. Não tem como recuperar o relógio, só tenho que colaborar. Só tenho que pensar que Peter não merece que eu sinta pena dele.
   — Olha esse vestido! — Rubí me entrega. — Você pode usar na festa da empresa.
   — Não! Eu não vou nessa festa. Não quero ver Peter.
    — Mas todos os trabalhadores vão. Não se preocupe com Peter, se preocupe com os outros homens lindos que vão estar lá. — Safira me vira no espelho. — Experimente!
   — Eu não sei!
   Jade revira os olhos. — Esmeralda, você é a pessoa mais irritante que eu conheço!
   — Jade! — Safira repreende.
   — Mas ela tem razão. — Digo.
   — E indecisa! — Rubí pega num par de sapatos bege muito lindo.
   — Está bem. Eu vou experimentar. — Entro no provador.
    Tiro a minha calça, meus sapatos e minha blusa. Pego no vestido e sinceramente, esse vestido não é para qualquer pessoa. Não posso comprar e nem quero ir nessa festa. É um vestido muito chique e caro. Eu tenho medo do que as pessoas vão pensar.
    — Aí! Olha esse casaco! — Oiço Jade. — Eu vou comprar. Também vou levar essa bolsa, e esses dois vestidos. Também quero essa blusa e aqueles sapatos e essa calça linda, aquela outra bolsa também. Acho que vou levar essas roupas aqui e esses sapatos.
   Tenho até medo de ver o que estão fazendo. Eu ainda não comprei nada e elas parecem já ter visto todas as roupas da loja. Ainda não estou totalmente à vontade com isso, mas com as minhas irmãs, eu vou até ao fim. Não importa as consequências.
    — Você veio decidida, Jade! — Safira ri.
    — Eu sou decidida, meu bem.
    — Eu também vou levar esses vestidos. Aquela bolsa, na verdade, essas três. — Rubí também está aproveitando.
    — Eu vou levar tudo isso. Incluindo as bolsas e os sapatos. — Agora é Safira.
   Termino de vestir e saio para que elas vejam como ficou. Minhas irmãs olham para mim como se eu fosse uma celebridade e aplaudem, me fazendo ficar envergonhada, porque as outras clientes olham para mim.
    — A senhorita deveria comprar. Ficou muito bem. — A mulher que nos atende diz.
    — Você está tão linda, que se fosse um homem que você não conhece pediria você para tomar um café. — Rubí sorri também.
    — Obrigada, irmãzinha! — Dou uma volta. — Eu vou levar.
    — É assim que se fala! — Jade dá pulinhos.
    Depois de ver esse vestido maravilhoso em mim, eu fico mais motivada para comprar roupas. Vamos em muitas lojas. Rubí compra um celular novo, um computador e muitas coisas para a faculdade. Jade nem se fala. Na verdade, todas compram celulares caros e computadores, exceto eu.
    Eu apenas compro roupas, sapatos e bolsas. Compramos perfumes caros, depois vamos todas ao salão de beleza do shopping, mas eu não faço nada, apenas espero por elas. Também tenho o pressentimento que isso não vai acabar bem. Mamãe vai descobrir, é impossível tudo isso passar despercebido.
    Finalmente, saímos e decidimos parar com as compras. Eu ainda tenho muito dinheiro, sem contar com o outro que guardamos para emergências. Tenho medo de saber quanto gastamos.
   — Estou me sentindo tão linda! — Rubí mal consegue andar com tantas sacolas.
   — Eu também. Henry vai adorar o penteado novo. — Safira ri.
   — Com certeza que vai. — Jade responde.
   — Sobraram com alguma coisa? — Pergunto.
    — Claro que sim! Dez mil dólares é muito dinheiro, Esme! — Safira olha para mim.
    — Eu não comprei tanta coisa assim.— Olho para as sacolas delas. Não sei se vão caber todas no carro.
    — Vamos deixar as coisas no carro e comer alguma coisa num desses restaurantes. — Jade diz.
    — Eu acho que a gente devia ir para casa.
    — Esme, por favor! — Rubí faz beicinho. — Só por um dia, não seja a irmã mais velha chata!
    — Chata? — Pergunto ofendida.
    — Chata! — Jade confirma.
    — Tudo bem. Podemos almoçar, mas depois vamos para casa.
    Elas vão correndo para fora do shopping me fazendo rir, nem percebo quando alguém segura o meu braço. Olho para cima, para o homem que eu vi no Colors. Só não lembro do nome dele. Devia ter corrido com as minhas irmãs.
    — Esmeralda! — Ele sorri.
    — Oi! Eu estou com pressa! — Solto o meu braço.
    — Estou vendo. Mas preciso de um minuto. É muito importante. Eu preciso dizer uma coisa porque você é a namorada do Peter e...
    — Não se incomode!
    — Vou ser rápido. — Ele me vira para ele. — Eu só quero evitar que Peter machuque você. Eu sei que não vai acreditar porque está apaixonada, mas o Peter não presta. Ele brinca com os sentimentos das mulheres.
    — Obrigada pela preocupação, mas já não estou com Peter.
    — Eu quis dizer mais cedo, mas ele nos interrompeu naquele dia. Eu sinto muito!
     — A culpa não é sua.
     — Eu sei, mas eu podia ter impedido isso. Peter consegue manipular as pessoas. Ele já tirou a minha namorada de mim, para depois  deixá-la sem se importar com os sentimentos dela. Nós estaríamos casados.
    — Eu não duvido nada.
    — Eu não sei o que ele tem para fazer as mulheres ficarem completamente cegas. Não sei se é a beleza dos seus olhos azuis, aquele rosto bonito, o sorriso...
    — Eu realmente preciso ir. Mas obrigada.
    — Está bem. Nos vemos por aí!
    Vou em passos rápidos me encontrar com as minhas irmãs e deixamos tudo no carro. Me sinto ainda pior depois de ouvir o que aquele homem disse. Não acredito que Peter faça coisas assim. O que me levou a pensar que ele é uma boa pessoa? Eu sou tão burra!
    — Porquê demorou tanto? — Safira pergunta.
    — Nada! Estou com fome, vamos comer! — Caminho de volta ao shopping.

    Depois de comermos num restaurante incrível, voltamos para casa para nos livrar das provas. Guardamos as sacolas todas e ficamos no nosso quarto como se nada tivesse acontecido. Minhas irmãs não param de tirar fotos nos celulares novos e pegar nos seus cabelos perfeitos.
    Eu pego no meu celular também e fico vendo minhas mensagens, mas parece que elas estão se divertindo mais. Sinceramente, se não fosse esse dinheiro, jamais teríamos comprado esses celulares.
    — Mamãe vai notar!
    — Sabemos. É por isso que vamos inventar alguma coisa. — Rubí continua olhando no celular grande e bonito, igualzinho ao do Peter, só que com uma capa vermelha com falsos rubís.
    — Ela vai pensar que assaltamos um banco.  — Safira ri.
    — Não tem graça, Safi!
    — Por acaso, tem sim. — Jade também ri.
    — Eu posso dizer que pedi um adiantamento, mas ela não iria acreditar.
    — Eu tenho uma ideia ainda melhor! — Jade olha para mim. — Eu digo que encontrei um relógio na rua e vendemos. Simples.
    — É capaz de resultar. — Rubí diz.
    Meu celular toca, com um número desconhecido na tela. Eu levanto e vou para a varanda para ter mais silêncio. Minhas irmãs estão falando muito alto e gritando muito.
    Atendo. — Alô! — E mais uma vez, ninguém diz nada. — Alô!
   Não sei o que está acontecendo, mas tenho a impressão que é a mesma pessoa porque respira do mesmo jeito. Eu acho. Mas quem poderia ser?

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Peter ligou mais um vez
Parece que isso está ficando sério
Espero que tenham gostado.
Abraços! 

Esmeralda - Pedras preciosasOnde histórias criam vida. Descubra agora