Minha cabeça está explodindo em confusão.
Estou tentando me concentrar bastante no trabalho, para não ter nenhum outro incidente. O único problema é que Peter parece estar assistindo um programa de TV, me observando atentamente. É constrangedor e assustador. Eu não acredito nesse seu arrependimento. Ele quer alguma coisa, talvez me machucar de novo.
Eu não quero mais confiar em alguém que foi capaz de me usar sem piedade e terminar com um bilhete, me mostrando como o nível de frieza pode ser extraordinário. Eu não sou tão burra de cair na sua armadilha de novo. Eu ainda estou muito machucada e nem consigo impedir minhas lágrimas quando ele está por perto, mas eu não vou deixar ele fazer ainda pior.
Senhora Tales vem falar comigo assim que me vê, me fazendo olhar para Peter automaticamente. Ela tira uma taça da minha bandeja e sorri para mim com ternura. Ela é uma mulher maravilhosa. Como seus filhos não saíram a ela?
— Você está bem? — Pergunta.
— Sim, Senhora Tales.
— Eu sinto muito. — Olha para mim. — Tenha cuidado da próxima vez. As pessoas não são muito boas em entender ou perdoar por aqui.
— Sim, senhora.
— E finja que Peter não está aqui, pelo menos por um segundo.
— Desculpa?
— Faz meia hora que vocês os dois estão fazendo jogo de olhares. Não conseguem passar despercebidos.
Erro ao olhar para Peter nesse momento, que também está olhando para mim. — Senhora Tales, não é o que está pensando...
— Eu não pensei nada! — Ela sorri e pisca um olho para mim, se afastando.
Peter me pediu desculpas, me defendeu na frente de todos, mas isso não significa que ele tenha mudado. Eu sei que não. Já não sou capaz de confiar em uma só palavra que ele diz. Se era isso que queria, então ele conseguiu. Agora eu preciso fingir que ele é invisível ou que não está aqui. Não quero que minha mãe desconfie de nada.
Volto para a cozinha para pegar mais bebidas e me encontro com Rubí e Safira. Eu sei que todo mundo viu o que aconteceu, mas eu não quero falar sobre isso. Peter é um assunto muito delicado para mim. Se estou com os olhos secos há uma hora, é graças a raiva que sinto dele, mas não significa que não tenha vontade nenhuma de chorar.
— Ele te defendeu! — Rubí começa, me fazendo congelar.
— Rubí! — Safira dá um tapa no seu braço.
— Aí! — Ela choraminga.
— Isso não significa que ele mudou. Pode ser uma farça só para parecer o bom da fita na frente de todos. — Safira diz. — Pode ter feito isso porque está com medo que Esmeralda diga alguma coisa para a família dele.
— Eu não quero falar sobre isso. Alguém pode ouvir. Por favor, vamos esquecer dele. — Digo. — Nunca tivemos nada.
— Está bem. Desculpa. — Rubí pega na sua bandeja de comida e sai.
— Você está indo bem! — Safira sorri e sai também.
Eu faço o mesmo e continuo trabalhando. A mulher que eu acidentalmente sujei com bebida, não pára de me olhar como se fosse me matar ou preparando uma vingança para mim. Só espero que não faça nada.
— Você está brincando! — Oiço a voz da Jade. Tenho a certeza que está brigando com alguém.
Eu me viro depois de servir duas mulheres e vou até ela que está com senhor Nicholas. Ele olha para Jade como se fosse seu pior inimigo, depois olha para mim de um jeito normal.
— Ainda bem que tem alguém para me servir. — Ele tira uma taça da minha bandeja.
— Você não vai beber da minha bandeja? — Jade pergunta.
— Esmeralda, não é? — Ele finge não ter ouvido Jade falar.
— Sim, senhor!
— Vai para o inferno! — Jade diz e se retira, me deixando sozinha com Nicholas. Automaticamente, meus olhos procuram por Peter, que parece que está vindo para cá.
— Desculpa a minha irmã. Ela é... complicada.
— Eu sei. Não é a primeira vez que cruzo com ela.
— Imagino. Eu vou continuar o meu trabalho. — Só quero sair antes que Peter me alcance, mas...
— Espere! — Ele se aproxima, me fazendo sentir o cheiro do seu perfume. Um maldito cheiro divino que estou tentando esquecer. Esse cheiro me faz lembrar das vezes que ele me abraçava, quando me beijava, quando eu dormi no seu peito e respirei o seu cheiro depois da gente... da gente ter feito sexo.
Peter tira uma taça e olha para mim. Eu estou segurando as minhas lágrimas, enquanto sinto meu coração se quebrando a cada segundo, enquanto cada lembrança maldita que tive com ele passam pela minha frente. Eu sei que sou mais forte do que isso e não posso deixar ele ganhar. Eu vou conseguir.
— Com licença! — Eu me afasto e vou atender outras pessoas. Noto também o olhar de preocupação da minha mãe, e isso significa que eu falhei tentando esconder os meus sentimentos. Só não quero que saiba o que Peter fez comigo.
— Você está bem? — O mesmo loiro que estava mais cedo comigo na cozinha vem até mim.
— Sim, eu estou.
— Você ainda não me disse o seu nome.
— Esmeralda! E você?
— Matt.
— Está bem.
Ele se afasta de mim. Sirvo mais algumas pessoas e volto para a cozinha para encher os copos. Infelizmente, Matt vem também, mas termina antes de mim. Eu acho que está tentando se aproximar de mim, do mesmo jeito que Peter fez. Sei que nem todos os homens são iguais, mas depois do que Peter fez, eu só vejo que todos vão fazer o mesmo. Ele não quebrou apenas o meu coração.
— Então, o que vai fazer depois daqui? — Ele pergunta.
— Não sei. Dormir!
— Eu posso fazer uma pergunta?
Eu até já sei o que deve ser. — Claro que sim.
— O Senhor Tales e você... já estiveram juntos ou algo assim?
— Não!
— Você não tem namorado então?
— Eu não tenho. — Respondo com as bochechas completamente coradas.
— É bom saber. — Ele sorri e sai com a sua bandeja, me deixando pensativa.
Eu não sei se é boa ideia eu me envolver com ninguém, mesmo que seja apenas para Peter saber que eu segui em frente. É errado brincar com o sentimento dos outros. Sei que fizeram isso comigo, mas não significa que faça o mesmo. Eu não quero ser como ele, por mais machucada que eu esteja, por mais que o meu coração esteja completamente despedaçado. Eu sei que talvez algum dia apareça alguém para voltar a pô-lo inteiro.
Suspiro e pego na bandeja, quando me viro, dou de caras com Peter que me faz assustar e deixo cair tudo no chão. Como eu não percebi ele chegando? Minha mãe vai me matar!
— Meu Deus! — Passo a mão na minha testa.
— Desculpa! — Ele parece se sentir culpado. — Deixa eu ajudar. — Ele tenta apanhar os cacos de vidro com as mãos, me fazendo pensar se existe mais idiotice do que essa.
— Não faça isso você vai se machu...
— AHHH! — Oiço seu gemido de dor, depois vejo sangue escorrendo no chão.
— Meu Deus! Peter, você está bem? — Pergunto.
— Eu me cortei! — Ele mostra sua mão sangrando.
— É melhor tratar disso. — Eu tiro ele da cozinha para a sala e caminhamos, ele tenta evitar que seu sangue deixe rastros por toda a sala.
— No meu quarto tem um quite de primeiros socorros. — Ele diz olhando para sua mão.
Subimos os degraus antes que alguém nos veja. Felizmente, todos estão lá fora, não imagino o que iriam pensar. Estou preocupada com o seu ferimento que não pára de sangrar e que está sujando seu smoking caro e bonito.
Entramos no que parece ser o seu quarto. Levo ele para o banheiro para lavar a sua mão em água corrente, depois abro o armário e pego no quite de primeiros socorros. É estranho eu estar fazendo isso para alguém que me machucou. Mas na vida, não são apenas os médicos ou juízes que devem ser imparciais, que devem tratar por igual até seus inimigos. Eu sei que Peter me machucou, mas eu não seria capaz de fazer o mesmo.
— AHH! — Ele se afasta quando coloco o álcool etílico para desinfetar o ferimento. — Está doendo!
— Nunca na história da humanidade, alguém pegou em cacos de vidro com as mãos. — Digo. — Nunca ninguém, por mais idiota que fosse, fez algo assim.
— É bom saber que sou o primeiro. — Ele me dá a mão para eu colocar o gaze e sei que ele está olhando para mim, enquanto enrolo na sua mão grande. — Você está parecendo uma médica.
— Fique calado, por favor.
Eu continuo e depois envolvo o esparadrapo com cuidado. Minha mãe nos ensinou algumas técnicas de primeiros socorros. Ela disse que nessas circunstâncias temos que agir o mais rápido possível para não contaminar o ferimento ou para evitar muita perda de sangue.
— Quando eu pedi desculpa, eu senti que não me perdoou. — Ele diz.
É difícil estar aqui na frente dele. Eu poderia chorar, mas estou tentando dolorosamente, estou me esforçando para ser forte e não derramar nenhuma lágrima. Ele não vai ter o que tanto quer. Eu não vou chorar na sua frente.
Termino de cuidar do seu ferimento. — Já está. É melhor eu voltar ao trabalho.
Peter fecha a porta e fica nela, me impedindo de sair. Eu não sei quanto tempo mais eu aguento sem chorar, e ele vem com essa? Estou resistindo a vontade de apertar o seu ferimento com muita força e sair daqui.
— Não! Primeiro me diz se estou perdoado.
— Não! Você não está. — Fico de costas para ele.
— Foi horrível o que eu fiz. Agora eu estou vendo o quanto eu fui um idiota com você e quero fazer alguma coisa para resolver isso. — Ele diz. Até sua voz parece sincera, mas já não caio nessa.
Minhas lágrimas começam a cair, mas ele não pode me ver. Eu tentei a noite toda não chorar, mas não aguento mais. Eu ainda não posso. Eu ainda não estou bem o suficiente para enfrentar Peter e tenho medo que isso não passe.
— Você quer resolver isso? — Pergunto, ainda sem olhar para ele.
— Diga o que tenho que fazer!
— Você só está com medo que sua mãe descubra! Você está tentando comprar o meu silêncio?
— Claro que não! — Suspira. — Eu me sinto muito mal com o que eu fiz. Eu só quero resolver as coisas.
— Você não pode me dar minha virgindade de volta! — Encaro ele. — Não pode devolver o tempo que eu perdi com você, não pode enxugar cada lágrima que me fez derramar, não pode curar toda dor que me fez sentir! Não pode fazer nada!
— Sei que não vai acreditar, mas eu me sinto terrível. Isso está me matando, Esmeralda!
— Acha que está pior do que eu? Eu nunca vou perdoar você! Não tem como resolver isso.
— Eu não estou pedindo que volte para mim. — Ele dá um passo e levanta as mãos como se estivesse acalmando uma fera. — Eu só quero o seu perdão para que eu possa conseguir dormir à noite.
— E você espera que eu acredite nas suas palavras? — Limpo minhas lágrimas. — Eu não acredito em você!
Ele dá mais um passo. — Por favor...
— Não se aproxime mais!
— Esmeralda...
— Não se aproxime, senão eu vou gritar e conto tudo para os seus pais! — Digo. — Devia ficar com raiva de mim, porque eu vendi o seu relógio.
— O quê? Aquele relógio foi um presente especial da minha mãe! — Ele recua. — Fez isso por vingança? Isso fez com que se sentisse melhor?
— Não inverta os papéis!
— Isso se chama roubar! Não devia ter feito aquilo. — Ele desvia o olhar.
— Pode chamar seu advogado, qualquer coisa. Eu não me sinto bem pelo que fiz, mesmo que merecesse.
— Merecer? Aquilo era importante para mim!
— Eu sinto muito. — Agora eu me sinto mal.
— Não pensei que fosse capaz de uma coisa dessas. — Olha para mim, com raiva, eu acho.
— Eu também nunca pensei que você fosse capaz de fazer o que fez. — Dou um passo para frente.
Ele se afasta da porta. — Quero que saiba que aquele relógio custou cinquenta mil dólares!
— Eu sei.
— E está feliz com isso?
Fecho os olhos. — Você pode dizer que eu sou uma pessoa ruim, que sou interesseira como muitas mulheres. Pode dizer qualquer coisa, Peter. Pode dizer as piores coisas de mim para todo mundo, não acho que possa ser pior do que o que você fez. — Olho para ele com lágrimas prestes a serem derramadas. — Você não me conhece. As pessoas fazem sempre um julgamento diferente de mim todos os dias e nunca são bons. Você pode dizer que sou uma ladra, mas eu prefiro isso do que machucar o coração de alguém. E só quero que saiba que cada segundo que eu vivi com você, para mim foi verdadeiro. Sei que não sente nada por mim, que não quer saber de mim e deve ter muitas mulheres...
— PÁRA COM ISSO, PORRA! — Ele grita e atira a porta com raiva, me deixando assustada, me fazendo pensar que ele vai me bater. Eu não duvido de mais nada que venha dele.
Eu sento no chão, escondo o meu rosto e começo a chorar como uma criança, sentindo um nó na minha garganta, sentindo uma dor profunda no peito e torcendo para ele não me machucar. Eu sei que parece ridículo, mas eu fiquei com muito medo da sua reação. E não queria que ele me visse assim. Completamente destruída.__________________
Capítulo novo. Infelizmente é um capítulo triste.
Espero que tenham gostado
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Esmeralda - Pedras preciosas
RomanceLivro um Sofia tem quatro filhas: Esmeralda, Rubi, Safira e Jade. Esmeralda é uma mulher forte e batalhadora com um coração de ouro. Graças ao seu esforço, consegue emprego na Tales Tec, como recepcionista para poder ajudar a pagar os estudo...