Capítulo dezesseis - Peter

4.6K 384 18
                                    

     A voz de Esmeralda me paralisa mais uma vez.
    Eu sei que não devia ligar, mas continuo me sentindo mal pelo que fiz. E não quero que Sofia vai embora. Eu estou fazendo tudo isso para não perder a melhor empregada que já tivemos nem deixar os meus pais decepcionados. Além disso, hoje ela também não veio trabalhar, tenho medo que esteja pensando na possibilidade de deixar de trabalhar na T.Tec . Eu não pensei que poderia causar tanto estrago assim.
    Perguntei para Rebecca, mas ela só disse que Esmeralda não está bem. E se amanhã ela aparecer com a carta de demissão? Eu não quero pensar que a culpa será minha. Eu não quero aceitar.
   E ficar na dúvida, está piorando. Eu não sei se ela está assim tão pior, mas se tem faltado no trabalho significa que sim. E também significa que não quer me ver. Não pensei que isso iria me afetar desse jeito. Eu não devia ter insistido.
   — Olha, quem quer que esteja ligando, isso não tem graça! — Ela diz. Eu quero dizer alguma coisa, mas as palavras não saem. — Isso é sério? Eu consigo ouvir a sua respiração! — E ela desliga.
   Eu comprei um número novo para que ela não soubesse que sou eu ligando. Mas eu não estou conseguindo falar com ela, eu bloqueio quando oiço a sua voz, não sei o que está acontecendo comigo.
   Guardo o celular porque não vou usar. Só se eu quiser me comunicar com outras pessoas... mentira! Apenas com Esmeralda, mas só porque eu quero pedir desculpas e estou com pena dela.
   Recebo uma ligação de Halley, mas não atendo porque não tenho vontade de falar com ela. Eu levanto e saio do meu quarto irritado. Eu tenho medo de voltar a ser aquele homem fraco. Sinto que o velho Peter está voltando. Eu não quero que ele volte. Eu quero que morra. Eu estou bem do jeito que estou. Eu sou feliz assim.
    Desço os degraus e vou para a cozinha beber um chá de erva cidreira para relaxar e pensar na minha vida. Sento no banco alto da ilha da cozinha e desfruto do meu chá.
    — Está sem sono? — Oiço a voz da minha mãe. Ela senta ao meu lado.
    — Mãe!
    — Você não está bem. Pode dizer o que está acontecendo?
    — Eu não vou conseguir.
    — Está bem. — Acaricia o meu braço. — Tem a ver com mulher?
    — Não sei. É complicado.
    — Como você se sente?
    — Culpado. E não consigo tirar isso da minha cabeça. — Olho para o meu chá fumegando.
    — Você machucou alguém e não consegue tirar isso da cabeça!
    — Mais ou menos isso.
    — O que você cometeu ou ela?
    — Mamãe!
    — As mães sabem tudo. Eu sei que envolve mulher, Peter.
    — Mas eu não quero mais ser como antes. Eu sou diferente agora. Depois desses anos todos, não voltei a ter uma decepção amorosa ou uma traição ou qualquer outra coisa do mundo do relacionamento. — Olho para ela.
    — Mas pelo que estou vendo, você já está envolvido, só está construindo mais muros ainda. Só está se protegendo mais ainda. — Ela segura a minha mão. — Meu filho, é sempre bom se proteger, principalmente depois do que você passou, mas não precisa fechar todas as portas. Arrisque, mas faça isso com um pé à frente e outro atrás. Não se entregue demasiado até você souber que essa pessoa vale a pena.
    — E se eu me enganar de novo e dessa vez for pior?
    — A gente sempre vai cair, só precisamos nos levantar sempre. Algumas pessoas sofreram bastante antes de conhecer o amor da sua vida.  Mas não desistiram, apesar de tudo.
    — Muito obrigado, mãe, mas eu estou bem. — Bebo meu chá.
    Ela suspira. — Não faz mal. Você só não conseguiu superar ainda.
    — Eu consegui. Eu já não amo a Madeleine.
    — Você pode não amá-la mais, mas não significa que tenha superado a traição. E não faz mal. Isso vai passar com o tempo. — Ela levanta e beija a minha testa. — Eu vou dormir. Só queria conversar um pouco com você.
    — Obrigado, mamãe!
    — Boa noite!
    — Boa noite, mamãe! — Digo.
    Termino o meu chá e volto no meu quarto. Lavo os dentes, visto meu pijama e deito na minha cama. Fecho os meus olhos e vejo o sorriso de Esmeralda na última noite que estivemos juntos, quando eu disse que não íamos mais esconder o nosso namoro.
    Abro os olhos imediatamente porque não quero ver isso. Eu não consigo pedir desculpas, não consigo me concentrar, não consigo parar de ligar para ela. Eu tenho que fazer alguma coisa. Eu sei que isso é passageiro. Daqui a pouco não vou mais lembrar que algum dia me envolvi com ela.
    Meu celular toca mais uma vez e atendo pensando que é Halley. — O que você quer? — Pergunto para ela.
    — Só conversar. Como duas pessoas normais que já foram grandes amigos. — Luke Steine.
    — Nunca fomos amigos.
    — Sim. Deve ser porque você ficou com a mulher que eu amava.
    — Você ainda lamenta mesmo sabendo que ela é uma puta da pior espécie? — Pergunto rindo. — Seria você o corno do século. Se eu podesse voltar atrás do tempo, teria dado ela para você.
    — Não vamos tocar no passado. Eu só liguei para dizer que lamento que o namoro com Esmeralda tenha terminado. Mas sinceramente, eu sabia que não ia durar.
    — Está perdendo o seu tempo.
    — Então, você não se importa que eu vá atrás dela?
    — Faça o que você quiser! Eu não sinto nada por ela. — Estranho que isso não tenha soado tão bem na minha cabeça. O que eu estou dizendo? Pior, o que eu estou fazendo?
    — Só precisava saber. Você sabe que tenho consideração a você e nunca pego elas sem que me dê o sinal verde, não é?
    — Vá se foder! — Desligo na sua cara.
    Eu acho que estou precisando de marcar uma consulta com o meu psicólogo. Não estou me sentindo à vontade com essa situação. Só quero que alguém me diga que isso não é nada e que vai passar. Estou precisando que alguém me diga que estou vendo fantasmas onde não existem, apenas isso. E parece que a conversa com a minha mãe só veio piorar as coisas.

Esmeralda - Pedras preciosasOnde histórias criam vida. Descubra agora