Capitulo 1 - Do ladakiyaan (Duas meninas)

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As pessoas do ocidente não sabem, mas Bollywood não é um lugar, embora, se você estiver como turista a Mumbai, guias fajutos possam te garantir que podem te levar até "Os estúdios de Bollywood", porque é lá, na periferia de Mumbai, nos estúdios das pequenas ou grandes produtoras, que funciona a fábrica de sonhos que produz mais de 400 filmes por ano. São esses filmes que enchem de drama, alegria, dor, romance e esperança a vida de mais de 1 bilhão de indianos (e outro tanto de não-indianos).

Foi num dos estúdios da periferia de Mumbai, no ano de 1997 que essa história começou, com uma garotinha de 5 anos, de longos cabelos negros divididos em duas tranças e pele clara, assistindo uma filmagem, encantada, sentada numa cadeira de estúdio, extremamente comportada e fascinada, porque sua mãe estava lá, sob as intensas luzes do estúdio, usando um lindo sári vermelho e dourado, pronta para ouvir o comando do diretor e começar uma cena de dança. De repente, sua mãe disse, um tanto mau humorada:

– Mas onde é que o maldito está?

Chichi, a menininha, olhou em volta, com uma carinha zangada, e viu seu pai, o diretor, se aproximar do assistente e perguntar alguma coisa. Sua mãe aguardava, de braços cruzados, exatamente na sua marcação, com uma expressão severa no belo rosto. Kyra Cutelo era uma estrela cujo nome nos cartazes sempre garantia uma enorme bilheteria para qualquer filme, contanto que ela estivesse acompanhada de seu "par perfeito e alma gêmea", o ator fanfarrão, porém muito querido pelo público, Raaja Vegeta.

Chichi nascera ouvindo a mãe reclamar de Raaja todos os dias para o pai, por isso mesmo, não suportava o arrogante galã que sempre dividia a cena com ela. Se na tela brilhavam juntos, fora dela mal se suportavam, e não tinham sequer uma relação de amizade. Mas a verdade é que o público só os aceitava em par, e nenhuma tentativa de nenhum deles estrelar filmes com outros atores jamais funcionara tão bem quanto os dois juntos em termos de bilheteria.

De repente, a porta do estúdio abriu-se e Raaja entrou. Ele era um homem de cabelos escuros e pele morena que fazia muitas mulheres suspirarem com seu rosto bonito e porte físico impressionante, porque ele era alto para um indiano, povo conhecido por ter pessoas de estatura mediana ou baixa. Ele trazia um sorriso zombeteiro no rosto e vinha acompanhado por um garotinho emburrado, de uns sete anos, que andava de braços cruzados atrás do pai.

– Isso são horas, Vegeta? – disse Kyra, muito mau humorada. – estou pronta há séculos. E você está fedendo a bebida.

– Ah, me desculpe, Kyra – ele disse, rindo – Eu confesso que tomei uns uísques no café da manhã... é que a mãe do garoto e me deixou novamente e eu não tinha com quem deixar o pirralho. Mais uma vez, aliás...

– O quê? De novo?

– Pior, dessa vez é porque ela está grávida... mas pensa que eu não sei. Daqui a pouco ela volta.

– Coitadinho – disse Kyra, autenticamente comovida porque sabia que o menino já devia ter testemunhado um sem-número de brigas entre Raaja e sua instável esposa, Fasha Sadala, cantora e herdeira daquele estúdio, uma mulher fragilizada e depressiva que separava e voltava para o marido constantemente. – Venha, querido – ela disse, estendendo a mão para ele – vou deixar você ali com Chichi. Vocês podem depois brincar juntos.

O garoto olhou para Kyra, emburrado, e disse:

– Não vou a lugar nenhum e não quero brincar com aquela guria irritante. Vou ficar aqui mesmo onde estou.

Raaja revirou os olhos e disse:

– Garoto, sente lá do lado da outra pirralha porque eu não estou com paciência para suas malcriações hoje. Se a sua mãe não fosse uma louca, tinha levado você com ela... senta o rabo lá naquela cadeira e me deixa em paz. Preciso trabalhar para pagar seus malditos videogames.

Era uma vez em BollywoodOnde histórias criam vida. Descubra agora