Capítulo 53 - Satiagraha (verdade perene)

116 7 8
                                    

Sendo nascido e criado no meio de Bollywood e muito experiente, Raaja Vegeta tinha uma certa aversão às fofocas que o haviam perseguido durante a sua juventude, e, talvez por isso, tivesse desistido de atuar quando ainda tinha potencial para manter a fama de galã por muitos anos, no meio da casa dos 30. O que ele não imaginava era a repercussão que seu casamento com Gine causaria.

Mesmo sendo mãe de um lutador e de uma atriz, empresária bem-sucedida e ainda bonita para seus mais de 50 anos, ninguém nunca prestara muita atenção a ela naquele meio: ela era uma viúva, e dela se esperava apenas que ficasse quieta, discreta, com poucos enfeites e usando um sári claro, indicativo de sua condição. Mas quando surgiu naquela manhã vestida com um sári laranja e dourado para seu segundo casamento, Gine se converteu imediatamente em um ícone.

Num país onde até mesmo convidar uma viúva para um casamento pode ser considerado pouco auspicioso, ele se tornava um símbolo de que diversos tabus poderiam ser quebrados e que nenhuma mulher era obrigada a morrer em vida após a morte do marido. O sati, suicídio ritual de viúvas na pira funerária, que durante anos tinha sido incentivado graças ao mito da Rainha Paadmavati, acontecera com inúmeras jovens viúvas do passado de forma forçada, mas finalmente passara a ser considerado crime desde que uma jovem de 18 anos tinha sido atirada no fogo pelo pai do marido morto em 1988, ainda habitava muitas cabeças antigas, mas Gine estava disposta a mostrar que havia renascido e não tinha vergonha disso.

Ela usava joias discretas e seu mendhi era claro e não tão elaborado quanto de uma noiva em primeiro casamento. Num altar próximo ao local de celebração, os retratos dos falecidos esposos de ambos tinham uma pequena lanterna ao lado e um incenso queimando incessantemente, como prova de que eram respeitados e venerados. Mas o momento era de Raaja e Gine. Quando ele surgiu, usando uma espada na cintura (símbolo do noivo disposto a proteger sua amada a qualquer custo) num traje dourado e açafrão que combinava com o dela, Gine teve a certeza de que tomara a decisão certa. Poderiam ter vivido seu amor clandestinamente, sem escândalos e como amantes, seria muito fácil esconder tudo, mas eles queriam dizer ao mundo que estavam juntos.

A ousadia de ambos foi até a escolha do traje dos filhos: quando acordaram naquela manhã, Goku, Chichi, Vegeta, Tarble, Bulma e Raditz receberam as roupas que usariam no rito de casamento: Bulma e Chichi vestiriam trajes azuis e dourados, e os rapazes trajes em tons de laranja claro e cobre. Raditz ficou especialmente impressionante com um Kurta um pouco mais escuro do que o do irmão e um turbante laranja que conseguiu esconder totalmente seus longos cabelos, valorizando seu rosto bonito e anguloso, fazendo as solteiras presentes virarem a cabeça quando ele se postou no seu papel de patriarca da família Sayajin.

Foi belo ver Gine e Raaja darem os sete passos pela segunda vez na vida. Para Raaja era a primeira vez que as palavras do ritual e o comprometimento com elas fazia sentido: quando ele disse a ela que ela seria o céu de sua terra, ele reconhecia a segunda chance que tinha, aquela que ele não desperdiçaria por ego ou orgulho, que ele jamais trairia ou para quem diria mentiras e crueldades, como fizera com Fasha, a quem pedira perdão naquela manhã por meio de uma bela oração antes de se vestir como noivo. O passado estava zerado e agora era o futuro dos dois e das duas famílias, agora uma só, que importava.

E quando ele, no final de todos os rituais, traçou uma linha de kunkun vermelho da testa à raiz dos cabelos de Gine e ela sorriu para ele antes de fazer nele sua própria tikka, abençoando o amor de ambos, Raaja sentiu uma emoção que jamais pensou que pudesse se repetir: ele se sentiu amado pela mulher amada, como havia acontecido apenas uma vez em toda sua vida, na noite em que ele e Kyra se entregaram um ao outro e o carma fez com que Chichi nascesse daquele encontro.

***

A festa foi grandiosa e divertida. Passado o susto inicial, os filhos acabaram aceitando totalmente a ideia da cerimônia, da união dos dois e do amor verdadeiro que unia aquele casal tão maduro. Goku era só um grande sorriso dançando ao lado de Chichi, ao som das músicas que haviam embalado as paradas de Bollywood nos últimos meses, e eles foram celebrados quando tocou "Pyaar ke jeet" o tema de ambos em "Anarkali". Mas, de repente, Goku viu o irmão, de braços cruzados, com um olhar perdido na direção da pista de dança.

Era uma vez em BollywoodOnde histórias criam vida. Descubra agora