Lunch havia amarrado sáris em Chichi muitas e muitas vezes, mas aquela era a primeira vez em que ela mesma usava um sári e ela sentia-se absurdamente confusa e inadequada. Não que ela não soubesse como vestir um sári, mas fazer aquilo em Chichi era muito mais fácil do que nela mesma. Mirou-se no espelho. Seu cabelo cheio e louro estava solto, mas ela ia prendê-lo logo. Ela sorriu e, estranhamente, sentiu-se bonita naquele traje.
O choli, a blusa curta que se usava sob o sári, era lilás e tinha as mangas douradas, feito de um tafetá brilhoso que seria over em sua terra natal, mas, ali, era puro luxo. O sári de seda pura, que ela havia ganhado de Chichi há um ano e não tivera coragem de usar ainda, tinha a bizarra combinação verde alface e lilás num degradé até o violeta com bordados dourados, mas, agora, com todas as dobras na sua cintura e o pallu (sobra do pano do sári) jogado sobre o ombro, ela sentia-se, de fato, linda.
Prendeu os cabelos num coque, deixando alguns cachos soltos e maquiou-se com o mesmo estilo que maquiava Chichi. Ela sentia-se um pouco nervosa. Era como se estivesse se enfeitando para Tenshinhan, o que, na verdade, ela não sabia se o agradaria ou o ofenderia. Quando terminou a maquiagem, olhou-se no espelho e pensou que faltava a tikka, o pequeno ponto vermelho pintado na testa, que tantas mulheres usavam na Índia, mas ela não tinha kunkum ou nada que pudesse usar para issoenem mesmo um bindi, o adesivo de fantasia que enfeitava a testa das mulheres indianas. Achando que seria ridículo fazer uma tikka com batom, saiu assim mesmo.
Acabou por deixar como estava. Era melhor não exagerar. Olhou o relógio, sabendo que ele era irritantemente pontual. Faltavam 5 minutos. Ele a levara em casa na véspera, muito respeitador, e haviam tido a primeira conversa apenas os dois. Ela falara demais e ele comentara pouquíssimo sobre sua vida.
Tenshinhan falava com o típico sotaque dos indianos, mas seu inglês era muito bom, e ele era sério e formal como um inglês. Justamente por isso, ela não sabia exatamente o que era aquele encontro. Ele tinha se oferecido para levá-la a um Ganesha Chaturthi, porque ela havia prometido a Chichi que procuraria o rapaz por quem a jovem estava encantada. E ela tentava mentalmente se convencer que não havia nada demais, mas estava há mais de dois anos na Índia, sozinha, tendo como única amiga uma menina de 16 anos e era impossível não se imaginar agarrando e seduzindo o sisudo chefe da segurança dos estúdios Sadala.
Tentava se convencer que a atração que sentia por ele era falta de sexo, mas sabia que havia algo mais, pelo menos da sua parte. Quanto mais ele respondia a seus jogos de sedução com sacudidas estranhas de cabeça e sorrisos enigmáticos, mais atraída por ele ela ficava, mas não queria se iludir... já tinha quebrado a cara algumas vezes na vida.
Eles haviam combinado de se encontrar à porta do prédio, mas ela só desceu um minuto antes do horário. Uma das coisas mais complicadas para ela, desde que havia se mudado, era a falta de liberdade das mulheres indianas. Ela tinha medo de sair sozinha, o que acabara fazendo com que, durante os últimos dois anos, ela fosse praticamente uma dama de companhia para Chichi.
Não que ela reclamasse: tinha conhecido os lugares mais caros e sofisticados da Índia sem gastar um tostão. Também tinha ido a Bali, ao Sri Lanka, a Dubai e até mesmo a Nova Iorque bancada por Chichi. Ela entrara para o staff antes de Tenshinhan, a quem, desde que conhecera, tentava, em vão, impressionar.
O jipe Mahindra Thar de Tehsinhan estacionou em frente ao prédio dela e ele deu um único toque na buzina. Lunch desceu e ele saltou do carro para abrir a porta para ela, que parou diante dele, um pouco chocada porque era a primeira vez que ela o via e ele não estava usando um terno, mas uma túnica indiana no estilo nehru, com calças largas, acompanhada de uma espécie de echarpe conhecida como dupatta, além de sapatilhas típicas. Na testa ele tinha uma tikka vermelha, já esmaecida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Era uma vez em Bollywood
FanficEra uma vez uma fábrica de sonhos onde uma jovem atriz se apaixona por um rapaz pobre e um galã temperamental não consegue admitir que ama sua colega de faculdade. Isto é Dragon Ball, mas também é Bollywood.