Capítulo 2 - Maahi ve, Maahi ve... (Minha amada, minha amada...)

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Mumbai, abril de 1999

Muitas estrelas de Bollywood morreram ainda jovens. Madhubala morreu de uma doença cardíaca incurável aos 36 anos, no auge de uma carreira de sucesso; Meena Kumari terminou de filmar Pakheezah e faleceu por problemas decorrentes do alcoolismo, aos 38 anos; Smita Patil faleceu aos 31 anos ao dar à luz seu primeiro filho. Nutan e Nargis morreram já não tão jovens, ambas na casa dos 50 anos, porém, suas mortes foram dolorosas e sentidas... Todas, algumas das maiores estrelas, foram choradas, lembradas por anos e anos depois de seus desaparecimentos.

Mas ninguém estava preparado para a morte de Kyra Cutelo aos 33 anos e para a tragédia que se seguiu depois.

Era a temporada de filmagem pós-Holi, o festival das cores, e ela estava filmando mais um romance em parceria com Raaja Vegeta, uma nova história de amor baseada num romance clássico do século XIX, "Maahi-ve, Maahi-ve". Ela era a linda cortesã por quem o Marajá se apaixona, num filme que havia sido planejado 25 anos antes para outra atriz, que morrera jovem sem chegar a filmar a história.

Chichi estava na escola e King Cutelo, que dirigia a esposa em mais um filme, tinha saído cedo para preparar as filmagens e ela pegou seu carro conversível, uma Ferrari 1995, vermelha, e saiu rumo aos estúdios Sadala. Kyra não era uma má motorista e nem era de correr muito, mas, numa curva da estrada que levava da sua casa, na famosa praia de Chowpatty até o estúdio, na periferia Oeste de Mumbai, ela colidiu de frente com um caminhão que fazia uma ultrapassagem perigosa na contra-mão.

Raaja Vegeta estava a caminho do estúdio, atrasado como sempre. Ele andava mais tranquilo que antigamente. Sua esposa Fasha voltara para casa e dera à luz o pequeno Tarble, segundo filho do casal, e ele, cansado das indisciplinas do pequeno Vegeta Jr., mandara o menino para um colégio interno prestigiadíssimo no rico município vizinho, Navi Mumbai. Mas isso seria até os 11 anos, quando o enviaria para outro colégio interno ainda mais caro e exclusivo, em Londres ou na Suíça, de onde ele só voltaria – se voltasse – aos 18 ou 22, dependendo se faria ou não faculdade na Europa. A vida dele já estava toda decidida pelo pai.

Raaja havia acabado de deixar a estrada que seguia para o norte depois da praia de Juhu, onde ele morava, quando o trânsito parou de vez e ele buzinou, irritado. Foi quando um pedestre no meio da multidão que se acumulava no caminho até o acidente o reconheceu:

– Veja, veja! – gritou o homem – é o senhor Raaja Vegeta! – ele tentou virar o rosto e não ser reconhecido, puxando os óculos escuros mais para cima, quando ouviu o homem completar – céus, que choque será para ele perder sua grande estrela...

Raaja olhou para o homem, assustado, e baixou o vidro da sua enorme Land Rover preta e perguntou:

– Do que você está falando, criatura?

– É ela, senhor, é ela... a nossa grande estrela, Kyra Cutelo... é ela que está lá na frente, debaixo daquele caminhão...

Raaja saltou do carro imediatamente. Ele correu os 500 metros que o separavam do acidente com o coração aos saltos. Os bombeiros e paramédicos acabavam de tirar Kyra do que sobrara da Ferrari. As pessoas quando o reconheciam, abriam caminho. Kyra estava ensanguentada, seus belos e longos cabelos pretos tinham precisado ser cortados para retirá-la das ferragens do acidente.

– Ela está viva? – ele perguntou aos paramédicos – ela vai sobreviver?

O homem reconheceu o grande astro e disse, num tom bem baixo:

– O estado dela é desesperador... sabemos quem o senhor é. Pode entrar em contato com o marido dela? Pode ser que não haja tempo sequer para uma despedida...

Era uma vez em BollywoodOnde histórias criam vida. Descubra agora