SIRIUS BLACK

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Expliquei para os meninos que eu poderia aparecer um pouco mais tarde que o habitual já que Marls praticamente me obrigou a ir até a biblioteca e eu como um garoto bonzinho fui. Cheguei mais cedo, mas quando a vi preferi ter chegado atrasado. Amos Diggory estava já em cima dela com aquele sorriso idiota se achando o bonitão. E o que ele acha que tem demais?
-Claro, mal posso esperar – ouvi ela dizendo.
-Mas quero te levar em um lugar melhor do que os três vassouras... 
Ah eu não ia ficar ouvindo essa palhaçada, adentrei a biblioteca e nem foi preciso anunciar que entrei, pois, algumas garotas fizeram isso por mim. 
-Oi, Sirius. – disse Melinda alguma coisa. 
-Eaí – respondi com um aceno de cabeça. Marlene já se virou no momento que me viu ajeitando o livro na mesa, me sentei ao seu lado e encarei Amos que estava próximo demais dela. 
-Você está adiantado – ela disse, mas sorrindo, quase senti o coração parar na garganta – Amos, Sirius e eu precisamos estudar.
Ele me olhou intrigado.  
-Tudo bem, Lene. – respondeu dando um beijo na bochecha dela. Tentei focar nas pontas dos meus dedos que batiam na mesa. – até mais, Sirius.
Respondi com um sorriso amarelado, é sim, com certeza eu iria querer ver esse idiota depois. Marls e eu ficamos em silêncio por alguns segundos, talvez eu estivesse tentando não dizer nada naquele momento porque estava simplesmente irritado demais, mas não queria começar uma briga.
-Bom, eu peguei um livro emprestado com a Alice. Ele nos explica bem como fazer a poção – ela parecia um tanto tímida ao falar. – veja...
Olhei para o livro grande, deveria ter umas mil páginas. Guia de poções e feitiços. Eu já havia lido, minha mãe usava constantemente para preparar veritaserium. Em um jantar de família na casa dos Black, a melhor coisa a se fazer é focar em um bom livro para não acabar indo para Azkaban aos trezes por matar seu tio preconceituoso.
-Não vamos precisar de livros – falei fechando-o – tenho tudo aqui.
Apontei para a cabeça. 
-Mas Sirius você...
-Eu lia muito em casa - apressei-me a responder apesar de querer continuar ouvindo a voz doce dela. Ela piscou rapidamente aqueles olhos lindos parecendo confusa.
-Você lia?
Droga! Esqueci que eu não estava falando com uma garota qualquer, Marlene é extremamente inteligente.
-Enfim vamos precisar de algumas coisas como... – comecei a falar o que eu me lembrava da poção, já vi Narcisa fazer uma dessa para o, urgh, Lúcius Malfoy. Que gosto os Black têm! Me sinto privilegiado de ser diferente de todos eles. Ela ouvia atentamente anotando em um pergaminho, nada naquela noite me surpreendeu mais do que o fato de ficarmos por quase uma hora e meia na sala sem discutirmos. Ela estava sendo gentil demais, alegre demais, temi que isso tenha sido resultado de Amos Diggory estar fungando no nariz dela quando cheguei.
-E então eu escondi o Pomo dele, ele achou que pela primeira vez na vida tinha perdido. – falei enxugando as lágrimas de risada enquanto ela fazia o mesmo.
-Você e o James são muito próximo, parecem eu e Lily. – disse ela ainda tentando controlar a risada – mas eu também não consigo deixar de pregar algumas peças nela. Certa vez eu liguei para ela de Bristol e...
-Você fez o que? – perguntei por que não tinha entendido nada.
-Liguei – respondeu como se fosse a coisa mais natural do mundo – sabe, telefone?
De que arte das trevas ela estava se referindo? Eu devia estar com a maior cara de idiota porque ela gargalhou ficando levemente vermelha.
-Desculpa, Sirius. Às vezes eu esqueço... telefone é um aparelho de comunicação. Vamos supor que você tem um, e eu tenho outro, cada pessoa tem um número específico e quando eu digito o seu número no meu telefone consigo falar com você, entendeu?
-Não. – respondi e ela riu mais ainda. Tentei imaginar aquilo, mas não consegui até ela ter a brilhante ideia de desenhar para mim, um quadrado com pequenos quadradinhos com números e um fio. Que droga era essa? – Escuta, Marlene, essas coisas são muito complicadas.
-Não são, as vezes é mais eficientes do que mandar corujas. – ela disse firme.  
-Ah é?
-Sim! Corujas levam dias.
-E esses telecones não? – ela riu de novo, parecia gostar de se divertir as minhas custas.
-Telefones! E não, levam segundos para estabelecer uma conexão.
Ela continuou rindo e quando sorria conseguia ficar ainda mais bonita com aqueles fios loiros curtos, os olhos azuis brilhavam e ela parecia a pessoa mais perfeita do mundo. Como alguém poderia querer machucar ela?
-Você pode me mostrar um dia – falei e ela foi parando de rir.
-Não começa. – pegou o livro folheando as páginas.
-Estou falando sério, eu iria adorar conhecer seu...
seu mundo e suas manias.
Ela me olhou com a sobrancelha erguida parecendo surpresa, mas satisfeita que alguém, um puro sangue com sobrenome Black estivesse interessado em saber mais sobre sua vida no mundo trouxa.
-Ok, Sirius, seria legal te mostrar. – ela disse e eu quase cai da cadeira que eu inclinava. O que aconteceu com Marlene Mckinnon? – Se você não quiser levar sua amiguinha, é claro.
-Que amiguinha?
Ela revirou os olhos.
-Emilin Buckmann, obviamente! – O tom brincalhão rapidamente sumiu dando lugar para um tom nervoso. Será que eu estava captando um leve ciúmes? Sorri para ela.
-Será que alguém está com ciúmes?
Ela me fuzilou com os olhos azuis.
-Ah, o que? Me poupe! Eu sou muito melhor do que aquela garota. – Empinou o nariz fino e eu sabia que era, ela era melhor do que qualquer garota. Mas eu ainda assim não conseguia deixar de provocá-la.
-Ah é?
-Sim, sou muito mais bonita, inteligente, além de ser uma ótima jogadora de Quadribol...Agora, se ela decidir namorar você, terá que ser mais paciente do que eu, claramente.
Levei alguns segundos para entender o que ela estava querendo dizer com aquilo, empinei minha cadeira ainda mantendo os olhos nela.
-O que quer dizer?
-Ora, o que eu quero dizer? Quero dizer, Sirius Órion Black, que quando estávamos no quinto ano você me trocou por Amélia Linton! E quem em sã consciência trocaria Marlene Mckinnon por qualquer outra pessoa na terra?
O tom de voz dela voltou a ser brincalhão, mas eu soube que ela estava apenas tentando disfarçar a raiva naquelas palavras, e posso ter certeza, que ela estava apenas esperando o momento certo para me dizer aquilo, me dizer que eu a tive por um breve momento na minha vida e então a deixei escapar. Mas como explicar a ela o garoto covarde que eu era Tentando protegê-la da minha família, preferindo namorar uma sangue puro somente para satisfazer meus pais e meus tios? Mas quando finalmente eu entendi que eles nunca iriam me aceitar de verdade, quando eu finalmente entendi que deveria mesmo me sentir orgulhoso por ser diferente deles e tive coragem para largar Amélia, Marlene já me odiava e eu nunca mais consegui me aproximar dela, até agora. Será que era o momento certo para contar a verdade?
-Marls... escuta...
-Por favor, não me chame assim. – Ela se virou para mim e mesmo com a baixa luz da biblioteca eu pude ver seus olhos marejados. Eu sei que fui o único a chamá-la assim.
-Eu preciso...
-Padfoot! Finalmente te achei, vem! – Wormtail entrou na biblioteca desesperado me puxando rapidamente, ele gaguejava me deixando apreensivo. 
-Hey, espera o que... – tentei me soltar
-É urgente! – ele suplicou, olhou para a janela apontando a lua e então rapidamente eu soube de quem ele estava se referindo. Olhei para Marlene ainda ali sentada, tão apreensiva quanto eu, mas Moony e Prongs estavam precisando de mim. 
-Desculpe, Marls – foi a única coisa que consegui dizer e então segui Wormtail.
Quando cheguei lá era o caos. Remus estava debruçado perto de uma árvore rasgando alguma coisa, ele farejou alguma coisa em sua mão enorme e depois lançou pelo ar. Meu coração
parou quando vi o chifre de um cervo.  Mas me acalmei quando vi Prongs saindo de trás de uma árvore, os enormes galhos me aliviaram, rosnei para ele e Remus se virou para nós. Os olhos amarelos se demoraram um pouco sobre Prongs que hesitou antes de se aproximar, mas então Remus grunhiu leve voltando a se acostumar com a gente, tentei ignorar o cheiro forte da carne dos cervos que ele havia dilacerado mas meu olfato era extremamente aguçado, avistei Wormtail correndo pela grama
para perto de Prongs e então nos aproximamos de Remus que andava tranquilamente pela floresta. Subimos em uma grande pedra e avistamos o castelo, as torres ficavam mais lindas no contraste da noite.  
-Não, Você não pode. – grunhi para Remus que me olhou com o semblante triste, não tenho certeza se ele me entende em palavras, mas sabe o que estou querendo dizer. Ele se deitou sobre as pedras e pareceu adormecer, enquanto isso, Prongs, Wormtail e eu cuidamos de limpar a bagunça dele para que ninguém a descobrisse.

Hogwarts, 1978. ( CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora