Girando. Tudo estava girando quando abri os olhos gemendo, levando a mão até o ponto dolorido na minha cabeça, ou nas minhas costas, dane-se, tudo doía. Levou apenas segundos para que eu tomasse conta do que tinha acontecido, olhei em volta e minha varinha estava caída ao meu lado. Eu não acordei sozinha, um focinho molhado encostou na minha bochecha
empurrando meu rosto, me apavorei, mas notei que não se tratava do lobisomem, era apenas um cachorro. Um cachorro!
-SNUFFLES! – O abracei, o pelo escuro e sujo não me incomodou – É você garoto.
Ele lambeu meu rosto enquanto balançava o rabo animado.
-Precisamos sair daqui ou aquele monstro vai voltar, e eu não tô muito a fim de virar jantar de lobisomem, sou muito bonita para isso. – Levantei devagar enquanto tudo ainda girava, aonde poderia estar Lily e Dorcas? Será que estavam bem? De qualquer forma, eu precisava encontrá-las para sairmos dessa floresta.
-Preciso encontrar as meninas, Snuffles, e você precisa me ajudar.
Mas Snuffles não se moveu, pelo contrário, me olhava como se pudesse realmente me entender, mas estava decidido a ficar ali do meu lado. Ouvimos barulho de arvores, ele ergueu a cabeça rapidamente fitando a escuridão na floresta. Grunhiu, os dentes a mostra enquanto eu congelei porque o lobisomem tinha reaparecido, caminhando lentamente com as patas dianteiras no chão, os olhos amarelos sobre mim, Snuffles se colocou entre nós dois, pensei em correr, mas sei que qualquer movimento que eu faça ele vai me atacar mais rápido. E então Snuffles o atacou, correu e pulou em cima dele de forma corajosa, mas o lobisomem era
duas vezes maior do que ele e o jogou para o lado como uma bola grande.
-Snuffles! – Gritei correndo até ele, mas ele se levantou e tornou a atacar o lobisomem, ambos entraram em uma luta e uma série de ruivos e ganidos foram ouvidos de ambos, porque apesar de estar ferido, Snuffles continuava atacando-o.
Ergui minha varinha esperando o momento certo para acertar o Lobisomem, ele jogou Snuffles para longe e eu ouvi um ganido forte e então silencio. Ergui a varinha pronta para finalmente acertá-lo.
-Marlene não! – gritou Lily aparecendo do nada.
-AUUUUUUUU – ouvimos de longe outro ruivo, algo mais superficial do que o do lobisomem a nossa frente, mas o suficiente para fazê-lo se distrair com aquele chamado e nos deixar a sós. – AUUUUUUUU.
-É Remus. – Ela disse esbaforida colocando a mão no peito – o lobisomem, é Remus.
-Do que é que você está falando?
-James me contou... – ela ofegava – precisamos achar Dorcas e sair daqui.
Mas antes de sair procurei por Snuffles e não o encontrei, ele deveria ter saído ferido, poderia estar morrendo em algum lugar, talvez se eu o levasse até Hagrid... James apareceu, tão sem folego quanto Lily.
-Distraí ele, agora precisamos encontrar Dorcas... – Falou apreensivo – Aonde ele está?
-Quem?
-O cachorro, aonde ele está? – Ele estava me deixando mais apreensiva.
-Eu não sei, não sei, Remus... o Lobisomem o jogou para longe... – comecei a abrir caminho em meio a mata procurando-o desesperada. – Snuffles! Cadê você?
Ouvi uma gargalhada, parei para encarar James vermelho com as mãos no joelho rindo enquanto tentava recobrar o folego. -SNUFFLES? PUTA MERDA! – Disse em meio a gargalhada e a falta de ar.
-Do que é que você está rindo seu idiota? – O empurrei e ele se apoiou em uma arvore.
-Snuffles... – ele ainda ria.
-Aparentemente, Snuffles é Sirius. – Se essa frase tivesse sido por James ele teria levado um chute, mas eu simplesmente encarei Lily incrédula – Ele é um animago, pode se tornar um cachorro e por isso estava lutando contra o lobisomem. A minha reação foi de quase cair sobre meus joelhos diante daquilo, encarei James que ainda secava algumas lágrimas dos olhos. Se Sirius era o cachorro então... Saí correndo me enfiando mata adentro procurando-o mais desesperada, foda-se se ele não tinha me contado isso antes, foda-se qualquer coisa, eu precisava achá-lo, precisava cuidar dele. E eu o achei, próximo ao
lago, caído, deitado completamente no chão, as quatros patas para frente enquanto quase não se via o peito se mexendo pela respiração. Me ajoelhei ao seu lado, havia sangue, mas os ferimentos estavam todos cobertos pela pelagem escura. Acariciei sua cabeça, os olhos escuros, era ele, Sirius. Eles tinham os mesmos olhos escuros. James e Lily apareceram se ajoelhando ao meu lado. -Ele está ferido, preciso ajudá-lo – Falei pegando a minha varinha – Férula... Passei a ponta da varinha por todo o seu corpo e o sangue foi aos poucos coagulando, enquanto os ferimentos pareciam diminuir, consegui soltar o ar dos meus pulmões quando finalmente ele respirou mais fundo, abaixei minha cabeça próxima a sua cabeça de cão e o beijei entre as orelhas grandes e peludas.
-Não pense que te salvei, só estou te curando para poder te matar depois por ter escondido isso de mim. – Falei e ele soltou um pequeno latido. James me explicou a história toda enquanto carregávamos Sirius até o buraco da casa dos gritos, não é uma experiencia legal carregar seu namorado em forma de cão por uma floresta com o melhor amigo dele, mas Sirius não estava forte o suficiente para conseguir voltar a sua forma humana e ainda tínhamos que voltar para encontrar Dorcas, pois ela podia estar em perigo ainda. James era um veado, Sirius um Cachorro, Peter um rato e Remus um lobisomem, e eles conseguiram esconder isso durante sete
anos de toda a escola, claro, exceto que Remus era um lobisomem para Dumbledore. Mas eles diziam que o diretor não fazia ideia de que eles era animagos. Falando em Peter, o encontramos já dentro da casa, roendo as unhas ansioso. -Prongs! O que aconteceu com o... – ele olhou para Lily e eu.
-Tudo bem, Peter, elas já sabem. – James respondeu.
-Padfoot está bem? – Sirius se remexeu no nosso colo pulando no chão e correndo até o quarto do qual entramos na casa. Eu fui atrás, quando adentrei o quarto ele já estava em sua forma humana, nu, vestindo suas roupas. E eu vi as leves marcas dos dentes de Remus na costela dele, as marcas das unhas nas costas, cabelo bagunçado. Corri e o abracei por trás, colocando minha bochecha em suas costas assim que ele fechou o zíper da calça se virou para mim furioso.
-O que você tinha na cabeça ao entrar na floresta assim?
-Por que você não me contou?
-Eu ia te contar! Mas de uma forma que não envolvesse eu ter que atacar o meu MELHOR AMIGO. – A voz dele se alterou – ELE IA TE MATAR! VOCÊ IMAGINOU O QUE IA ACONTECER? REMUS IA TE MATAR E COMO ELE IA CONVIVER COM ISSO? COMO EU IRIA CONVIVER COM ISSO?Travei a mandíbula irritada, ele não tinha direito algum de gritar comigo daquela forma.
-E COMO VOCÊ ESPERAVA QUE EU SOUBESSE QUE REMUS É A DROGA DE UM LOBISOMEM?
-FODA-SE, MARLENE, FODA-SE! VOCÊ NÃO PODE FICAR SE COLOCANDO EM RISCO POR AÍ...
-VÁ SE FUDER, SIRIUS BLACK, EU FAÇO O QUE EU QUISER. – Gritei empurrando-o,
ele me fuzilou com os olhos escuros e eu fiz o mesmo. Idiota! Nós ficamos calados por um instante, ele jogou o cabelo para trás.
-Eu o mordi, mordi feio, não sei se ele está bem. – Ele parecia realmente preocupado, e toda a minha raiva se tornou preocupação também, me aproximei abraçando-o novamente tomando parte daquilo para mim.
-Me desculpe, me desculpe... eu só queria saber o que vocês estavam fazendo, eu não imaginava. – Implorei abraçando-o e ele me retribuiu me aninhando em seus braços, contra seu peito nu. Foi então que eu entendi o significado de um cão em uma de suas tatuagens.
-Tudo bem, desculpe ter gritado com você, mas agora preciso que você fique aqui enquanto vamos buscar Dorcas, ok?
-O que? É claro que não. – Balancei a cabeça – e se ele... se ele machucar você....
-Ele não vai me machucar – disse com firmeza.
-Como você sabe?
-Remus quando é lobisomem não reconhece ninguém, exceto eu, Prongs e Worm, por isso nos tornamos animagos, para poder estar com ele nas noites de lua cheia. Ele nos reconhece, por isso que sei que não vai nos ferir.
-Mas você o atacou. – disse.
-Não tem importância, ele não vai se lembrar. – Respondeu e me deu um beijo na testa – fique aqui, ok? Vamos achá-la.
É claro que ficar ali não foi uma tarefa muito fácil, tanto Lily quanto eu, não sabíamos ao certo como digerir tanta informação para uma única noite. Eu estava preparada para encontrar Sirius
dançando em uma mesa de uma festa com duas vadias ao seu lado, mas isso?Como que se digere tudo isso de uma vez?
-Uma vez, no quinto ano, Severo me disse uma coisa – Lily comentou com a cabeça deitada no meu ombro – Disse que os marotos guardavam um segredo horrível. Eu fiquei calada ouvindo-a
-E aí teve aquele incidente, você se lembra? Quando James salvou a vida dele de alguma coisa. Ele nunca me disse ao certo o que aconteceu, mas disse que Sirius tentou matar ele e só não aconteceu porque James não permitiu. – a voz dela era calma.
-Eu lembro disso, lembro dele gritando com Dumbledore, dizendo que era um absurdo e que não iria agradecer a James Potter, que não tentara salvar a vida, apenas o pescoço dele e dos amigos.
Lily deu uma risadinha.
-Sim, ele me disse que Dumbledore o proibiu de contar a qualquer um o que tinha realmente acontecido naquela noite e que não era para ele deixar mais o castelo, e não ficou nada contente com a detenção de Sirius, disse que ele e o bando dele deveriam ter sido expulsos,
especialmente Lupin, me perguntei o porquê de Lupin merecer uma expulsão, já que era completamente diferente dos amigos.
-Então Severo descobriu que ele é um lobisomem – Lily balançou a cabeça.
-Que loucura, não é? – Disse.
-Totalmente, eu passei anos chamando Sirius de cachorro e ele realmente é!
Lily gargalhou e então ficamos aguardando.