LILY EVANS

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-Ela já voltou? – Perguntei para um Sirius ansioso fumando um cigarro.

-Não, ainda está lá. – Disse friamente, era estranho ouvir o timbre de sua voz triste porque Sirius sempre estava fazendo piadas, ou zombando de algo ou de alguém. Me parte o coração vê-lo dessa forma, tão amargurado. Sei que nossa relação é complicada, sempre discutimos e eu odeio quando ele convence o James a fazer alguma bobagem, mas compartilhamos a mesma preocupação e tristeza pela Marlene, e o mesmo amor.
Sei que ele a ama da forma mais intensa

possível. E por isso não pude me conter e o abracei fortemente, porque eu sei que ele está carregando um fardo muito pesado para alguém fazer isso sozinho. A princípio, ele se manteve rígido, quieto, mal encostou em mim, mas insisti em abraça-lo, insisti em pegar parte daquilo para mim e então, através do silencio que se assolou em nossa volta, ouvi-o fungar e em seguida me abraçar com força quase como se ele realmente estivesse caindo e precisasse se segurar em mim.
-É minha culpa, Lily. Minha culpa tudo isso. – Disse em lágrimas me deixando confusa. Como tudo isso poderia ser culpa dele? – E eu acho que a perdi para sempre por isso.
O soltei encarando-o.
-O que quer dizer, Sirius?
-Quero dizer que Belatriz matou os pais de Marlene porque nos casamos, porque eu insisti nela mesmo depois de todas as ameaças da minha família contra ela. Lily, eu coloquei a Marls nessa situação e agora ela me odeia, me odeia Lily!
Aquilo parecia inimaginável para mim.
-Sirius, eu tenho certeza de que ela não pensa assim. – Falei tentando acalmá-lo. Desejei até mesmo que James estivesse aqui para saber o que dizer.
-Tudo desmoronou por causa de uma família estupida, com um sobrenome estupido! – Disse furioso – um bando de hipócritas que acreditam estar acima de qualquer um. Perdi Regulus, minha casa, e agora perdi a única garota que sou capaz de amar.
Obviamente, que tudo aquilo poderia soar absurdamente dramático, mas eu conseguir enxergar a dor por trás das suas palavras. Conseguia enxergar o medo em seus olhos, conseguia enxergar a frustração e a raiva.
-Sabe, Lily, eu fui até minha antiga casa, Walburga estava lá, meu pai está realmente doente e mesmo assim não quis me ver, mesmo que seus dias de vida estejam contados. – Continuou ele – eu não sei o que fazer mais.
Nós ficamos em silencio por um breve instante enquanto eu pensava no que dizer. A única coisa que eu tinha certeza era de que aquilo era os pequenos sinais da guerra que estava acontecendo infiltrando devagar as paredes e muros de Hogwarts e nos atingindo. De qualquer forma, era como se um grupo seleto de alunos estivessem passando por isso, porque alguns outros viviam como se nada de errado estivesse acontecendo fora dos muros de Hogwarts.
-Escuta, Sirius, Marlene não culpa ou muito menos odeia você pelo o que aconteceu. Nós conhecíamos Belatriz e a subestimamos, achávamos que ela não passava de uma briguinha escolar. Apesar das desconfianças de que ela se tornaria uma comensal, nós nunca poderíamos ter imaginado que o ódio dela pela Marlene chegaria aos pais dela. Marlene te ama e ela enxerga através da dor que a culpa não foi sua.
Sirius me ouvia atentamente, e tinha razão nisso porque em nenhuma conversa que tive com Marlene, ela mencionou algum tipo de culpa ou ódio por ele.
-Mas eu sei que ela está apavorada com medo de perder você, então não a deixe. – E isso pareceu entrar de vez em sua cabeça. Sirius ia me responder, mas não foi preciso eu dizer mais nada porque ela mesmo já estava ali para comprovar a ele o que eu estava dizendo.
Os olhos não estavam mais avermelhados, o cabelo penteado e não estava mais bêbada. Bom, Dumbledore foi capaz de algo que eu não fui, em obrigá-la a tomar um banho. Ela se aproximou com um meio sorriso no rosto e segurou as mãos dele, calmamente.
-Obrigada, vocês dois, por serem tão pacientes comigo. – Disse, a voz ainda carregava uma tonelada de dor, mas ela ao menos já estava diferente. – Eu sei que tenho sido terrível com vocês.
-Você tem motivos para isso – ele respondeu beijando o topo de sua cabeça.
-Você esteve chorando? – Ela o pegou de surpresa. Rapidamente limpou os olhos com a manga da capa que estava usando, mas foi salvo de sua resposta quando uma garota da Sonserina atravessou o corredor, com certeza uma sextanista. Os cabelos escuros, longos e lisos com traços semelhantes ao de Belatriz, eram inconfundivelmente parentes, eu já havia a visto antes pela escola, mas nunca soube exatamente seu nome.
-Andromeda? – Sirius parecia tão chocado quanto eu e Lene.
-Oi, Six. – Respondeu calmamente sorrindo – eu sei que não tenho falado muito com vocês, mas depois dos últimos acontecimentos eu não pude evitar.
Nós ficamos quietos.
-Marlene eu sinto muito, muito mesmo, pelo o que Belatriz fez a você e sua família. Eu queria poder fazer alguma coisa em relação isso.
Marlene deu um passo para frente.
-E quem é você, exatamente? – perguntou.
-Andromeda Black. – Respondeu.

-Uau, vocês Black se espalham como a praga – comentei tentando não soar engraçadinha. De qualquer modo, a garota continuou com um olhar gentil.
-Minha irmã mais velha fez escolhas irreparáveis. E eu não vim aqui para poder defendê-la, mas eu vim alertar vocês e... – ela estava prestes a cair em lágrimas – e eu preciso que faça algo por mim, Six.
Ele a olhou curioso, mas permaneceu parado ao lado de Marlene.
-O que quiser, Andy. – Disse por fim, e ela engoliu em seco encarando a nós três.
-O que você fez, por mais que tenha causado revolta na nossa família, me inspirou verdadeira coragem. – Disse rapidamente – Eu sei que sou jovem, ou como mina mãe diz, tola. Mas eu também não vou viver de acordo com as regras deles!
Estava claro para Sirius sobre quem ela estava falando, mas Marlene e eu nos encaramos completamente confusas e perdidas.
-Você ter se casado com a Marlene foi a melhor coisa que me aconteceu – agora ela estava em lágrimas – ah dois anos que estou com Ted Tonks e estava apavorada com o fato de meus pais descobrirem, agora não me importo mais, Sirius, eu estou indo embora e preciso que entregue essa carta para meus pais.
Ela entregou o pergaminho para um Sirius chocado e espantado. Ele encarou a carta em sua mão enquanto ela tentava se recompor.
-Você vai ficar bem? – Perguntei, ela olhou para o teto e respirou fundo.
-Eu amo o Ted, eu o amo com todo o meu coração. Mas eu amo as minhas irmãs e sinto muito que elas tenham escolhido ficar ao lado dele. Mas não tem como voltar atrás agora, Belatriz descobriu que eu e Tonks estamos juntos e vai nos perseguir e, por Deus, eu tenho certeza de que ela será capaz de matá-lo!
Marlene deu um passo a frente e segurou os ombros de Andromeda.
-Aonde ela está? – Perguntou furiosa
-Eu não sei!
-Me diga aonde Belatriz Black está e você não vai precisar viver com medo, se escondendo da sua irmã...
-Eu não sei aonde ela está – e com um movimento empurrou Marlene – e mesmo se eu soubesse, nunca entregaria minha irmã para você matar.
-É por isso que você vai viver escondida da sua irmã, da sua família. – Respondeu minha amiga mostrando o quão cheia de ódio ela ainda estava.
-De qualquer forma, não será somente a mim que ela caçará. Eu disse que vim alertar a vocês, Belatriz é de fato agora uma das seguidoras de você-sabe-quem e é uma fiel seguidora. Ela, Narcisa, Lúcius, Avery, todos estão seguindo-o.
Ao falar aqueles nomes senti um frio correr pela minha espinha. Severo também estava com eles, o meu amigo Sev, estava seguindo um homem que odiava pessoas como eu.
-Isso não é novidade para ninguém – Sirius desdenhou – Todos nós sempre soubemos que tipo de pessoas eles são. Há mais! – Continuou – Eu ouvi Narcisa e Belatriz conversarem, parece que ele quer um exército mais forte e que nesse exército incluía todos os descendentes das famílias de sangue puro mais forte que existem.
Ficamos quietos por algum segundo porque o que se passou na minha cabeça parecia ridículo.
-Ele quer James e eu? – Sirius perguntou e ela respondeu com um movimento de cabeça. Ele gargalhou sem humor algum na voz. – Morreríamos antes de nos juntarmos a ele.
-Bom, de qualquer forma, espero que tudo isso logo tenha um fim. – Ela e Sirius sorriram levemente um para o outro -Tenha cuidado, Andy.
-Você também, Six.
E se virando foi embora.

Hogwarts, 1978. ( CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora