DORCAS MEADOWES

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Já estávamos em dezembro, tanto estudo, tanto trabalho fez os últimos meses passarem absurdamente rápido. A neve já estava cobrindo os arredores de Hogwarts me deixando com mais vontade de permanecer deitada na minha cama debaixo das minhas cobertas, mas não é
muito legal fazer isso sozinha, queria que eu meu gatinho ao menos se importasse comigo, mas tudo que Lupin tem interesse é em livros velhos e idiotas, ele até parece uma versão masculina de Lily, os dois são idênticos, até mesmo em saber desprezar as pessoas que gostam deles.
-Você vai voltar nesse assunto? – Lily disse encarando Marlene que balançou os ombros indiferente.
-Sim, até entrar nessa sua cabeça oca! – A loira respondeu e Lily revirou os olhos bufando. – Como que você consegue continuar com esse idiota depois do que eu te contei semana passada? Como, Lily Evans?
Lily a encarou e não disse nada, voltando a sua atenção ao pudim a sua frente. Nossas manhãs eram assim agora, uma Marlene irritada com uma Lily sem ânimo para nada, Alice cansada do dilema das duas se juntou a Frank e eu desejei muito fazer o mesmo, mas até que era engraçado ver Marlene provocar Lily.
-Quer saber o que eu penso?
-Mal posso esperar – Lily respondeu e Marlene torceu o nariz
-Bom, o que eu penso é que você está usando esse relacionamentozinho de merda para fugir do James, é isso!
Os olhos verdes de Lily ficaram maiores e eu controlei uma risada enfiando um pedaço de pão enorme na boca, Marlene sustentou o olhar na amiga que não sabia o que dizer.
-O que?
-E Sirius disse o mesmo, e Lupin também, aliás, acho que até o Dumbledore diria o mesmo.
-Ah e Sirius diz alguma coisa?
Ultimamente a língua dele só fica enfiada em você! – Lily disse ríspida e Marlene sorriu com a expressão sexy.
-Ah meu Deus, Lily, isso soou tão errado. – Comecei a rir também, mas Lily estava irritada demais com a amiga para rir. Ela me encarou nervosa.
-Pelo menos eu tenho coragem de estar com a pessoa que eu amo. – Marlene disse agora cutucando uma vez por todas Lily, que explodiu.
-Eu não amo o Potter! – Falou alto demais chamando a atenção de algumas pessoas a nossa volta, James que estava na ponta da mesa brincando com o pomo de ouro nos encarou confuso, a expressão que ele fez me deu pena.
-Ah não! E Sirius e eu não transamos na mesa do professor Flitwick! – Se a voz de Lily soou alto demais, Marlene se empolgou na discussão e gritou alguns tons mais altos e dessa vez quase todo o salão pôde nos escutar, eu já estava sentindo o rosto queimar tentando não dar risada, mas era impossível.
-Nem na Biblioteca! – Sirius gritou do outro lado, Marlene o encarou.
-Cala a boca, idiota! – Os dois gargalharam.
-Já chega! Me deixa em paz, Marlene. Que obsessão é essa em me fazer ficar com James?
-Só quero ver você feliz. – A loira respondeu e finalmente Lily relaxou os ombros.
-Vamos para aula, tá?
Nós subimos para a sala de transfiguração enquanto algumas pessoas passavam fazendo piadinhas com as duas por terem gritado no meio do salão principal. Sirius apareceu passando o braço pelo ombro de Marlene, trazendo junto o seu bando, menos Lupin que ainda parecendo
extremamente doente caminhava em passos lentos.
-Lily se quer chamar minha atenção, não precisa gritar em plenos pulmões no salão. – James tinha que provocá-la.
-Ah, cala a boca Potter! – Dito isso entrou na sala nervosa, Marlene fez uma careta e entrou logo em seguida dando um rápido beijo em Sirius, eu entrei atrás das meninas, mas queria ter um leve vislumbre de Remus quando entrasse na sala então fiquei escondida atrás da porta fingindo
procurar um livro na estante enquanto todos os alunos entravam, menos ele e os meninos. Cada um foi tomando o seu assento e nada deles, então me aproximei mais da porta e os ouvi.
-Hoje a noite no mesmo lugar. – James disse como o líder – como sempre.
-Marlene estava no meu pé querendo saber o que íamos fazer, mas consegui arrumar uma desculpa. – Sirius respondeu indiferente, os outros deram risada.
-Sirius não quero que se prejudique com ela por minha causa. – Ah, lá estava a voz de Remus, cansada, mas gentil como sempre.
-Tá brincando comigo? Quando foi que eu quis perder nossas noites de diversão?
Os quatro gargalharam.
Bom, fiquei empolgada para saber o que os quatro iriam aprontar aquela noite e com certeza não era algo bom. E se Sirius está fazendo algo escondido de Marlene, é bom ele saber que hoje vai ser a última noite de vida dele porque nós com certeza vamos participar dessa noite de "diversão". Antes que os quatro entrassem na sala, corri para a mesa me juntando as meninas.
-Aonde você estava? – Marlene perguntou -Escutem, hoje a noite nós vamos perseguir os meninos. – Falei empolgada demais sussurrando, elas não entenderam nada e então eu me pus a explicar o que tinha acabado de ouvir, Lily parecia curiosa, mas Marlene furiosa.
-O que? O que aquele idiota disse? Eu vou matar ele! – Ela tencionou a se levantar, mas Lily e eu a seguramos.
-Não é hora de bancar a namorada ciumenta agora. – Lily falou.
-É sim, e se o Potter estiver ajudando-o a me trair... eu vou matar seu namorado, Lily. -Ele não é meu namorado, por Deus, Marlene!
-O fato é que temos uma chance de descobrir o que os marotos fazem, essa é a nossa noite!
O dia passou rápido demais, talvez pela nossa empolgação ou sei lá, ficamos discutindo maneiras e planos absurdos para poder seguir os meninos e cada plano era pior do que o outro, somos um bando de amadoras, uma monitora boazinha, uma namorada ciumenta e uma louca apaixonada disposta a seguir seu amor platônico para qualquer lugar. Alice repetia que estávamos loucas, colocando nosso futuro em risco, ou pior, nossas vidas pois poderíamos topar com um comensal andando por aí a noite, mas não acho que os meninos iriam tão longe assim. O plano era uma merda: ficarmos escondidas na sala comuna até vê-los passarem. E lá estava nós, quase dez e meia da noite e nada, Lily já estava quase caindo de sono e finalmente parou de dizer que Alice tinha razão, que aquilo era uma péssima ideia, que estávamos loucas, mas nem ela podia resistir a tentação de perseguir o delicia do Potter por aí.
-Será que eles já saíram? – Lene perguntou.
-Impossível. – Respondi.
E então ouvimos um barulho, Lily despertou da soneca e nos abaixamos mais atrás do sofá, tampando nossas bocas com as mãos. Eram eles.
-Por que não usamos a capa?
Perguntou Peter.
-Porque ela não cobre mais três pessoas, pelo menos, não tão altos. – James respondeu.
-Eu não sou tão alto – Agora era Sirius falando, mas onde estava Remus?
-Vamos, vamos logo. – James parecia apressado – a noite vai ser longa, e Remus deve estar começando.
Tudo o que me passou pela cabeça foi os três indo para uma festa, mas era difícil imaginar Remus começando uma. Os três saíram pelo retrato da mulher gorda e nós três nos entreolhamos, Marlene se ergueu bruscamente batendo com força no sofá.
-Eu vou matar ele!
Lily e eu rimos.
-Vamos, vamos. – Me levantei e então nós três também saímos pelo buraco com uma voz de desaprovação da mulher gorda, ignorando-a, nós descemos as escadas em passos leves seguindo os meninos, até que éramos boas nisso. Paramos em um corredor, ouvindo o sussurro deles.
-Vá na frente, Peter – Ordenou James.
-Ah... James... você sabe que eu não gosto muito de ir na frente. – Respondeu ele com a voz trêmula
-Deixa que eu vou – Sirius tomou a iniciativa – Vou chegar primeiro na festa. Marlene abriu a boca indignada quase se revelando para ele, mas para nossa felicidade, se controlou. A determinação de pegar ele no flagra era maior do que seu descontrole. A voz de Sirius sumiu, agora era James e Peter apenas.
-Vá na frente, Peter, se você se sentir mais confortável - ele disse e suponho que assim tenha acontecido porque logo em seguida eles sumiram. Nós três nos revelamos saindo do corredor e indo até a armadura onde eles haviam parado. Não havia uma porta, não havia mais corredores, só uma parede enorme e uma armadura, nós nos encaramos.
-Como pode...
-Bom, não se pode desaparatar do castelo então alguma coisa eles fizeram. – Lily disse olhando em volta.
-Deve ser por aqui... – Marlene começou a mexer na armadura a nossa frente e então como se fosse experiente abaixou o braço de ferro que segurava uma espada, a armadura se moveu revelando um enorme buraco atrás de si, uma passagem. Voltamos a nos olhar duvidosas, mas
ansiosas, diferente de Peter e assim como Sirius eu quis ir na frente. O caminho era estreito, tínhamos que nos abaixar para caminhar, e parecia que não tinha fim,
conforme caminhávamos sentíamos que Hogwarts estava ficando cada vez mais para trás e eu desejei saber em que ponto do terreno do castelo estávamos, mas a caminhada era longa demais.
-Lumus! – Acendi minha varinha para poder iluminar o caminho, o que foi mais desanimador porque a minha frente parecia ter mais e mais caminho.
-Não vamos chegar a lugar nenhum – Lene resmungou.
-Será que isso chega a Londres? – perguntei curiosa, porque nunca estive por lá, mas parecia ser um lugar bem cheio de festas trouxas.
-Impossível. – Respondeu Lily – Iríamos ter que andar por quase dois dias.
E assim continuamos a nossa caminhada até finalmente não sei quanto tempo depois chegarmos no que parecia o final daquela caminhada cansativa. Era uma portinha pequena de madeira pesada que estava trancada. A empurrei, mas não consegui abrir, coloquei um ouvido na porta para tentar ouvir qualquer ruído de festa, vozes, qualquer coisa, mas tudo era total silencio.
-Alohomora. – Marlene sacudiu a varinha e a porta se abriu levemente, olhei para as meninas antes de abrir a portinha sem ter certeza, mas fiz mesmo assim, afinal o que demais poderia acontecer?
Bom, de qualquer forma, a minha esperança de encontrar uma festa foi embora, saímos em uma casa. Bom, não exatamente em uma casa bonita, um quarto com paredes de madeiras velhas,
descascando e desbotadas, havia uma cama velha empoleirada, uma penteadeira, um espelho e um velho guarda-roupa, pelo pó, parecia que ninguém aparecia aqui há anos. Tudo era velho, quebrado, coberto de pó que me fez espirrar umas dez vezes. Mas não havia objetos pessoais, nada de quadros, escovas, roupas... exceto o uniforme dos meninos. Quatro conjunto de uniformes da Grifinória guardados dentro do guarda roupa sujo por fora e limpo por dentro. A prova era indiscutível.
-Aonde estamos? – Marlene quis saber. -Eu acho que tenho uma leve ideia. – Lily disse olhando em volta – estamos na casa dos gritos.
Marlene e eu a encaramos.
-Isso é ridículo.
-Não, não é, essa parede desbotada é exatamente assim do lado de fora. – E ela tinha razão, mas a única forma de descobrir isso era saindo dali e procurarmos os rapazes. Nós abrimos a porta maior, que ficava do lado oposto da portinha em que saímos e demos de cara com uma escada, descemos receosas, e não encontramos porta alguma aberta, estavam todas trancadas e mesmo tentando abri-las com feitiços não conseguimos.
-Deve haver alguma maneira de sair daqui – Lily começou a procurar e nós fizemos o mesmo, até eu notar que havias pegadas no chão, pegadas de cachorro e se algum animal entrou ali também teria saído então as segui, elas me levaram até um corredor e depois um outro buraco, um pouco menor do que o que nos trouxe até aqui, mas esse não plano, era como uma subida.
-Meninas, aqui! – As chamei, nós nos ajoelhamos, porque era a única forma de passar por ali, e subimos sujando nossas mãos e joelhos de barro, quando finalmente chegamos ao topo, também
não encontramos nenhuma festa, música, bebida, ou Sirius se pegando com alguém, mas um salgueiro lutador adormecido, e uma vasta área da floresta proibida.
-Não era exatamente o que eu estava esperando. – Comentei.
-Deve haver algum caminho por aqui. – Marlene disse.
-Acho melhor voltarmos.
-Estamos aqui, não é? – Falei – agora
vamos procurá-los.
Me animei, aliás, seria legal uma noite assustadora na floresta com as meninas, Marlene balançou os ombros e Lily vencida, ergueu as mãos dizendo um "ok". -Mas mantenham as varinhas próximas. – Alertou. Nós entramos na floresta destemidas, tudo estava silencioso e procurávamos por algum sinal dos meninos, mas nada. Devemos ter andando uns vinte minutos floresta adentro como três idiotas marcando sinais em arvores para poder encontrar o caminho de volta, e tudo o que víamos era arvores atrás de arvores.
-Já chega – Marlene se sentou em uma pedra – meus pés estão me matando.
-O que é isso?
Lily chutou algo no chão, parecia... parecia que alguém havia sido destroçado, um alce talvez. Pela primeira vez eu quis voltar, sair da floresta e acho que as meninas também.
-Ai, caramba! – Marlene deu um grito nos assustando, ela ficou em pé colocando a mão no peito. – Desculpe, era só um rato! Ele passou pelo meu pé.
-Achei que ratos fugiam. – Comentei. -Esse quis me assustar. – E o clima deu uma melhorada quando nós três rimos, mas no segundo seguinte nos arrependemos. Um ruivo alto foi ouvido, tão alto que sabíamos que estava próximo.
-É melhor voltarmos. – Lily disse e pela primeira vez na noite concordamos com ela – O que foi isso?
Um arbusto chacoalhou.
-Acho que o vento – eu quis que fosse o vento. E então um grunhido foi ouvido, e saindo de trás do arbusto descobrimos quem fez o ruivo que ouvimos. Lily segurou na minha mão assustada enquanto encarávamos os enormes olhos amarelos do lobo a nossa frente, lobo não, lobisomem. Definitivamente, era um lobisomem, ele era alto, e apesar de manter as duas patas dianteiras no chão, tinha o corpo curvado quase em pé, o focinho comprido logo acima da boca enorme com dois dentes caninos expostos. Eu me atrevi a olhar para as patas enormes contendo unhas afiadas, tão afiadas quanto seus dentes, as orelhas pontudas erguidas, a pelagem rala acima da cabeça, ele era magro porque dava para ver os ossos da costela por baixo da pele acinzentada, tão escura quanto a noite. Segundos, ou minutos, se passaram, não sei por que Lily, Marlene e eu não respirávamos. E levou apenas um segundo para eu ver Lene erguendo a varinha, o movimento rápido de seu braço chamou atenção do Lobisomem que virou os grandes olhos amarelos em direção a ela.
-MARLENE! – Lily berrou, mas ela já havia batido contra uma arvore grande e grossa, o monstro se aproximou dela pronto para acertar aquelas unhas enormes na pele fina dela, quando bravamente ou estupidamente, peguei um pedaço de um tronco grosso caído perto de mim e joguei na cabeça dele, ele gemeu e soltou em seguida um grunhido virando a cabeça enorme para nós duas.
-Lily, corre! – Falei andando para trás – LILY, CORRE!
E então nós duas saímos em disparada ouvindo os passos dele atrás de nós, não enxergávamos nada, não víamos nada. Eu virei minha cabeça rapidamente pela floresta procurando por alguma coisa, mas tudo na minha frente era escuridão.
Tropecei, caí sobre um punhado de folhas que amorteceu minha queda, e me arrastei até um buraco, a luz da lua em meio as arvore iluminou aquele ponto da floresta onde pude enxergar esse pequeno esconderijo, era quase como uma toca de coelho, mas eu tinha que caber ali. Estava frio, e a floresta era novamente silenciosa, coloquei meu joelho contra meu peito e me cobri melhor com minha capa, e não percebi quando adormeci ou se eu realmente adormeci.

Hogwarts, 1978. ( CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora