SIRIUS BLACK

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Subi para o dormitório tão enfurecido que empurrei alguém que estava na minha frente sem nem perceber quem era. Adentrei no quarto empurrando a porta com força, ela se abriu fazendo
um barulho forte, James que estava sentado na ponta da cama com a cabeça abaixada deu um pulo enquanto Remus e Peter davam a ele alguma coisa para beber.
-Seu desgraçado ainda bem que está vivo porque eu vou te matar! – Avancei no quarto indo para cima dele, mas Remus se intrometeu me segurando. James me encarou, aparentemente estava vomitando porque estava pálido igual um fantasma e havia um balde em sua frente, ele sempre fora fraco para bebidas mesmo.
-O que foi? – a voz dele saiu fraca.
-Você contou a ela... contou a Marlene que eu... – Não consegui nem ao menos pronunciar, eu queria dar um soco forte na cara de James – Como você pôde?
Berrei, Remus me segurou, mas olhava confuso para James que voltou a inclinar a cabeça e a vomitar. Ele a ergueu novamente fraco.
-Calma, Pads, ele está mal – Remus disse ainda me segurando, Peter deu outro gole de tônico para James que tentou se levantar, ele cambaleou e caiu na cama de novo. Só diante dessa visão que eu consegui me acalmar, respirar fundo – -Certamente, ele tem uma boa desculpa para ter feito isso.
A minha cabeça que outrora parecia um carretel se acalmou mais diante daquela frase. Parei de me debater nos braços de Remus e arrumei meu casaco, jogando meu cabelo para trás disposto a ouvir o que o idiota do meu melhor amigo pretendia ao contar para a garota que eu gosto o quanto fui humilhado pela minha própria família, ao dizer a ela que eu era deserdado, um sem teto, que vivia de favores na casa dos Potter. Tentei empurrar para longe a ideia de ver James se exibindo para Marlene ao mostrar que eu estava morando em sua casa. Ele se levantou de novo, dessa vez mais firme.
-Eu não... contei... para... não contei para fazer mal – a voz dele estava fraca, Peter o fez sentar-se novamente.
-Então por quê? – minha voz saiu quase como um latido forte. Ele ergueu a cabeça para me encarar.
-Cara, ela estava te tratando como um lixo... – ele dava leves pausas na fala, mexeu no cabelo bagunçando-o imaginando que estava bonito, mas ele estava péssimo. – eu só queria que ela
fosse legal com você.
-Me humilhando? – Rosnei.
-Não! Ela precisava saber que você também passa por situações difíceis. Ela achava que a sua maior preocupação era com qual garota você ia sair de noite.
Senti meu estomago revirar. Era isso que Marlene pensava de mim? Achava que eu passava a maior parte do meu tempo preocupado com garotas ao invés de realmente lidar com uma situação difícil? Me virei para ele novamente.
-O que mais você disse a ela? – O encarei e a cara que ele fez me disse tudo – Ah seu...
Remus me segurou de novo.
-Que droga, James! Agora ela vai achar que sou como a minha família!
-Não vai, não! – Ele respondeu, ficou em pé de novo e se aproximou correndo o risco de levar um soco na cara – Ela me disse que quer te levar para a casa no natal.
Parei de me debater, eu estava tão furioso com ele que me esquecera disso. Marlene queria me levar para casa dos pais, mas aquilo não fazia sentido nenhum pois ela estava com o Diggory.
Baguncei o cabelo me afastando deles, ainda nervoso.
-Eu só estava tentando ajudar vocês dois, cara – ele disse ainda com a voz fraca.
-Ajudou muito! – falei sarcástico – acabei de pegar ela e Diggory aos beijos na biblioteca.
Os três me encararam com pena.
-Acho que vou vomitar de novo. – James disse forçando um vomito e tentei não rir, mas minha raiva foi se amenizando ao lembrar que Marlene Mckinnon queria que eu fosse passar o natal na
casa dela.
-Ok, agora você pode ter um pouco de compaixão? – Ele se jogou na cama novamente dessa vez deitando-se – eu não deveria ter bebido.
-Espero que você vomite a madrugada toda – Falei e ele revirou os olhos, mas deu um leve sorriso.
-Ele está certo em estar bravo, Prongs. – Remus disse e James gemeu alto – É sério! Eu também ficaria furioso se vocês espalhassem meus segredos.
Nós três o encaramos.
-Mas eu fiz isso para o bem dele e vejam só, teve resultado! – James se defendeu.
-Então você diria a Dorcas o que sou? – O quarto ficou em um silencio absoluto. Me sentei ao lado de James para verificar se ele estava bem ou se precisaríamos levá-lo até a madame
Pomfrey. Ele se sentou tentando ficar ereto.
-Dorcas gosta de você, sempre gostou – Remus deu um leve sorriso e abaixou a cabeça.
-Eu sei, não sou idiota, mas é melhor para ela ficar longe. – Foi a desculpa dele e mesmo que nós três discordássemos ficamos quietos. Sabíamos que Dorcas nunca diria uma palavra sobre Remus, mas não tínhamos absoluta certeza se ela estava preparada para saber. Ele forçou um
sorriso e retirou um pedaço de pergaminho do bolso. James se levantou tão rápido da cama que nem parecia estar colocando as tripas para fora minuto antes.
-Me dê aqui. – ele resmungou e todos nós já reviramos os olhos, Remus entregou o pedaço de pergaminho para ele que rapidamente deu um toque com sua varinha – Eu prometo solenemente que não farei nada de bom.
Em seguidas, manchas de tintas foram se formando no pergaminho, ele voltou a se sentar ao meu lado quando o mapa de Hogwarts apareceu por inteiro. Eu sabia quem ele estava procurado, e rapidamente a encontrou. Lily estava no dormitório, como sempre.
-Você quer que eu vá correndo dizer a ela que você está morrendo? – Peter perguntou nos fazendo rir.
-Eu até diria que sim, mas acho que é melhor irmos descansar. – Ele respondeu começando a dobrar o mapa. Ele deveria estar muito ruim mesmo, descansar? Eram dez horas da noite ainda.
-Me deixa ver o mapa. – pedi, mas ele negou – tenho o direito de ver o mapa, eu ajudei a cria-lo!
-Uh... por quê? Vamos descansar, amanhã será um longo dia... – ele se levantou segurando o mapa atrás de suas costas dando aquela desculpinha ridícula dele. – É melhor...
-Sirius! – Peter rapidamente pegou o mapa e correu para o meu lado, James tencionou puxa-lo pela capa, mas ainda estava muito tonto e quase caiu. Abri o mapa e entendi rapidamente o porquê ele não queria que eu o visse. O nome de Marlene flutuava no jardim ao lado de Amos Diggory, o nome dele quase cobrindo o dela me deu vontade de vomitar.
-Eu disse que era melhor não ver. – James falou, devolvi o mapa a ele já saindo do dormitório enquanto eles me chamavam de volta – Leve a capa pelo menos!
Foi a última coisa que eu o ouvi dizer antes de sair do dormitório. Saí pelo buraco na parede, e olhei em volta.
-Voltinhas a noite, Black? – A mulher gorda disse com a voz esganiçada e irritante.
-Não enche. – resmunguei saindo nas pontas dos pés. Desci as escadas tentando fazer o mínimo de barulho possível e quando vi que não havia mais perigo algum, deixei minha fisionomia humana. Já conseguia farejar melhor, andava tentando não fazer barulho com as quatros patas e
o bom dos meus pelos escuros é que posso me esconder nas sombras, eu poderia viver assim, mas essas pulgas... Elas acabam comigo. A pouco menos de dois metros eu já conseguia sentir o
perfume dela, ouvir ela, e, sentindo náuseas, sentir o cheiro dele também. Eles estavam sentados em um banco próximo a uma arvore, devo admitir que são corajosos pois Filch poderia pegá-los facilmente aqui. Me escondi em meio a alguns arbustos, poderia ficar deitado aqui somente admirando-a, mas ele interrompeu a risada dela tentando beijá-la e ela retribuiu! Argh! Me remexi no arbusto.
-O que foi isso? – Ela quis saber preocupada, descolando os lábios dele e olhando em volta.
Boa!
-Nada – ele tentou voltar a beija-la, mas me remexi de novo.
-Tem alguém aqui! – ela parecia assustada e como eu não gosto de deixar meu docinho assustada, saí das sombras, ela deu um gritinho, mas rapidamente ficou aliviada colocando a mão no peito – Ah, Deus! É apenas um cachorro.
Me aproximei de suas pernas, ela sorriu docemente para mim estendendo a mão e eu como um bom garoto aceitei o carinho que ela fez na minha cabeça.
-Será que Hagrid está fazendo um canil? – O idiota disse fazendo cara de nojo enquanto Marlene apertava meu rosto com as duas mãos, fazendo uma careta engraçada.
-Eu não sei, só sei que eu amo cachorros e veja, ele é muito fofo! – Ela se abaixou a minha frente apertando minhas orelhas, eu poderia lamber o rosto dela.
-Fofo? Olha como ele é assustador! Negro como a noite, poderia ser confundido com um lobisomem. – ele resmungou ainda de cara feia, o babaca nunca deve ter estado cara a cara com
um lobisomem. Eu não pareço nada com Remus, sou muito mais bonito.
-Ah, claro que não. Ele é lindo! – Ela continuou brincando com minhas orelhas – em casa eu tenho uma cachorrinha, o nome dela é Mimi. Você iria adorar conhecê-la. – ela disse para mim
– Senta!
O que? Como assim senta? Ela fechou a cara.
-Só que você é muito mal-educado! Vou te ensinar... quando eu disser para sentar, você deve se sentar! – Deus, como ela pode ser tão mandona? – Mimi sempre me obedece.
Eu imagino o porquê.
-Sente-se... Snuffles.
Se eu pudesse teria gargalhado alto agora. Snuffles?
-Snuffles? – Amos perguntou, pela primeira vez eu agradeci a ele. Ela o olhou por cima do ombro erguendo a sobrancelha.
-Sim, é assim que vou chamá-lo. Snuffles. – Ela disse sorrindo e com aquele sorriso ela poderia me chamar do que quiser. Amos revirou os olhos e segurou em seu braço levemente a fazendo se sentar no banco
novamente.
-Esquece esse cachorro, vamos voltar para o que estávamos fazendo – Sussurrou e ela continuou sorrindo, ele colocou aquela mão cheia de dedos no rosto dela para beijá-la. Desgraçado.
Ele quase caiu do banco quando eu rosnei e avancei nele, lati alto como se eu realmente fosse atacá-lo. Marlene começou a gargalhar, mas ele parecia realmente aborrecido arrumando a capa e pegando a varinha que caíra com o susto que ele levou.
-Não é engraçado.
-Des... Desculpa, é que você quase caiu! – Ela estava vermelha de tanto que gargalhava – F-foi muito engraçado.
-Esse pulguento! – rosnou quase mais alto do que eu arrumando o uniforme. – Saia daqui! Xô.
Mas eu me mantive no lugar.
-Não o expulse! – Marlene disse ainda tentando controlar a própria risada, Amos a olhou indignado com a atitude dela. Gostaria que ela me defendesse assim quando estou na minha
forma humana. A mãos macias dela voltaram a acariciar o topo da minha cabeça.
-Bom, então vamos voltar, Filch deve ter ouvido toda a barulheira. – ele disse para não perder a postura na frente dela, e realmente, da forma como ela gargalhou alto seria uma surpresa que Filch não tivesse escutado ao menos se aquela gata maldita dele aparecesse eu também poderia dar um belo susto nela. Marlene coçou o topo da minha cabeça antes de segurar na mão do
Diggory e se afastar, eu também voltei para as minhas roupas que deixei próximo a uma armadura e já agora andando em duas pernas, caminhei sorrateiramente pelos corredores.
Deveria ter trazido a capa de James.
-Você está em dúvida com o que? – uma voz irritada soou no final do corredor – Eu já disse para você que não tem o que pensar! Está na hora de acabarmos com isso.
Conforme fui me aproximando a voz foi tornando-se reconhecida. Belatriz estava sussurrando nervosa com alguém que eu não pude descobrir quem era pois quando me aproximei mais a pessoa já havia desaparecido, deixando apenas minha bela prima sozinha.
-Ah, Sirius, sozinho pelos corredores? Cadê seus amiguinhos? – Ela perguntou estalando a ponta da língua olhando em volta como se os meninos realmente fossem aparecer.
-Conversando sozinha, Bela?
Os olhos dela focaram em mim, um tanto mais escuros do que o habitual.
-Não é legal ouvir a conversa dos outros. – disse arrogante e atrevida como sempre, ela deu um passo para frente e colocou a mão no meu peito. Belatriz era realmente muito bonita
fisicamente, mas tinha uma alma tão obscura quanto seus olhos negros que se levantaram para dar de encontro com os meus – Você estava com a Marlene?
Coloquei as mãos nos bolsos da calça e sorri de lado.
-Está com ciúmes?
Ela grunhiu.
-Daquela sangue ruim? – Me afastei tentando não entrar no joguinho ridículo dela, mas Bela tinha os olhos marejados não de quem estava debochando como sempre fazia, mas de quem realmente estava incomodada.
-Você é puro sangue e continua níveis abaixo dela – falei sustentando aquela linha imaginaria que prendia nossos olhares, ela travou a mandíbula. – Acha que eu realmente ficaria com você, Bela?
Se ela pudesse me mataria com o olhar.
-Éramos para ficarmos juntos, Sirius!Sempre foi assim, desde que éramos crianças. Bastou você vir para Hogwarts e conhecer aquela Sangue ruim
-NÃO A CHAME ASSIM! – Involuntariamente eu agarrei a garganta dela, mas soltei quando
percebi o que eu estava fazendo. Maldita, meu sangue fervia pelo meu corpo, cada instinto meu querendo bater com a cabeça dela na parede – Eu não ficaria com você, Belatriz, nem por todo dinheiro e sangue dos Black. Marlene Mckinnon é e sempre vai ser tudo o que você não é!
Ela me empurrou, os enormes cabelos escuros caindo no rosto.
-Desgraçado, Sirius Black, desgraçado! Vocês vão se arrepender, eu juro que vão! – gritou cerrando os dentes, e antes que eu fizesse alguma loucura a larguei ali no corredor escuro.

Hogwarts, 1978. ( CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora