-Como ele pôde fazer isso comigo, Lily? Como ele pôde ter sido tão canalha?
A primeira coisa que ouvi quando acordei foi uma voz choramingando, a principio achei que tivesse sido a pancada que levei, mas quando abri os olhos mesmo em meio a tontura que me tomou percebi que era realmente Marlene que estava chorando, me espantei porque se ela estava chorando significava que alguém, muito provavelmente Sirius, estava mal ou pior.
-O que aconteceu? – Perguntei, minha voz saiu mais como um gemido do que uma frase formulada. A atenção das duas voltaram para mim e de repente os braços de Lily estavam ao redor do meu pescoço.
-Graças a Merlim! – Disse – você acordou.
Acariciei seus bracinhos.
-Ouvi sua voz, meu lírio – brinquei e recebi um tapinha.
-Para de brincadeira, fiquei a noite toda apavorada achando que você não iria acordar. – Respondeu já com os olhinhos verdes cheio de lágrimas, sorri e a puxei para um abraço.
-Eu sempre vou voltar por você, ok? Sempre. – Sussurrei, ela virou levemente o rosto me dando um beijo, seu toque que sempre me fez bem agora me causou um pequeno incomodo e ela percebeu – ah, desculpe, meu amor.
Marlene estava ainda calada, com os olhos marejados, senti falta de suas piadinhas e sarcasmo.
-Está tudo bem, Lene?
Ela me olhou
-Estou feliz que esteja vivo, Potter. – Respondeu – Para quem enfrentou Voldemort daquela maneira você até que está ótimo.
-O que quer dizer com ótimo? – Perguntei, ela que estava sentada em cima da mesinha deu um pulo e me entregou um espelho. Meu rosto estava inchado, tudo bem, meu rosto não, mas meu olho. Estava um bola enorme e roxa, meu lábio cortado junto com o restante da minha cara.
-Que droga! – Xinguei.
-Pomfrey disse que você vai ficar melhor, como foi um feitiço muito forte ela não conseguiu reduzir os inchaços, mas logo estará bem. – Lily explicou – Mas como Marlene disse, para quem enfrentou Voldemort daquela forma, estou feliz que você esteja apenas com um olho inchado.
-Do que é que você está falando? Você estava ao meu lado o enfrentou tão bravamente quanto eu, todos nós lutamos bravamente ontem! Aliás, aonde estão todos? Estão todos bem? Aonde está Sirius?
Fiquei um pouco agitado ao começar a pensar na noite anterior, tudo parecia como um filme muito, muito ruim. O calor das chamas a nossa volta, os feitiços que eram conjurados por todos os lados, o sorriso de Voldemort e a ponta de sua varinha apontada diretamente para nós. Por um instante achei que ele houvesse matado Lily e isso me apavorou, a última coisa de que lembro é de correr com ela floresta adentro com apenas o objetivo de tira-la viva daquele caos, e quando finalmente caímos para fora da mata eu apaguei.
-Estão todos bem, amor. – Lily respondeu.
-É todos estão muito bem! – Marlene respondeu dando muita ênfase na última palavra. Olhei para Lily.
-Lene!
-O que houve?
Lene fez um bico antes de responder e cruzou os braços batendo o pé com força no chão.
-Seu amiguinho idiota terminou comigo! Acredita? Só porque eu ia matar a vadia da Belatriz, ele acha que estar perto de mim me coloca em perigo, babaca arrogante. – Despejou de uma só vez, não posso mentir dizendo que estava aliviado por isso ter sido a única consequência ruim da noite além do meu rosto, é claro, mas isso daria uma boa história depois.
Mas era triste saber que eles haviam terminado novamente pela pressão que o sangue dele causava no relacionamento, apesar de descobrirmos que Lene era filha de um bruxo, que não era uma trouxa, mas uma mestiça, ela não queria que fosse divulgado portanto qualquer comensal da morte e até mesmo Voldemort a mataria por prazer. E conhecendo Sirius como eu conheço, depois de ouvirmos do próprio Voldemort que ele nos queria, tenho certeza de que ele tentará manter Marlene mais afastada o possível para que ela não sofra em consequência de estar com ele. Eu queria ter essa força, essa coragem de poder afastar Lily para poder protege-la também, mas preciso dela comigo, e sei que posso protege-la.
-Lene, você precisa se colocar no lugar dele. – falei – ele está tentando te proteger.
-Me proteger? Ele está sendo um idiota, se você quer saber. Ele acha que eu o culpo pelos meus pais, mas por Merlim, eu nunca faria isso. – Ela estava em lágrimas novamente – Eu sabia o risco que corria estando com ele, e sabia que na primeira oportunidade Belatriz ou Walburga iria me atacar elas apenas me pegaram desprevenida. Eu nunca o culparia pela loucura da família dele.
Lily e eu nos encaramos.
-Você precisa dizer isso a ele. – Falei.
-Eu disse e o idiota me ignorou.
Lily abriu a boca para dizer algo mais, porém a porta foi aberta e com ela o nosso assunto chegou, abrindo um sorrisão quando me viu e pulou sobre mim, nós dois gargalhamos em alegria por nos vermos bem. Nunca tive um irmão mais novo, ou mais velho, Sirius era isso. Era parte de mim, além de Lily ele era a outra pessoa que eu mais precisava ao meu lado.
-Não tenha vergonha de aparecer com esse rosto em público, eu andei dizendo para as pessoas que Lily te viu olhando para outra garota e quebrou a sua cara. Nós gargalhamos.
-Quem é Voldemort perto dela? – Respondi.
Não sei se éramos para nos sentir mal por conta da noite anterior, mas eu estava extremamente feliz por saber que meus amigos estavam bem.
-Sério, cara, estou feliz de que esteja bem. – Ele disse tornando a ficar sério – achei que o desgraçado tivesse pegado você.
-Eu também achei. – Respondi. – Enfim, vocês contaram a Dumbledore? O que aconteceu quando chegamos ao castelo?
-É isso que vim informar, Dumbledore e a ordem farão uma reunião e estamos convidados! – Ele ergueu as sobrancelhas orgulhoso – Quanta honra a deles de nos receberem
-Sirius! – Lily sorriu e Marlene revirou os olhos.
-Fazemos parte da ordem então? – Perguntei.
-Não sabemos ainda, Dumbledore disse que teria que reunir o restante do pessoal para que isso fosse decidido.
-Temos vinte minutos para nos encontrar na sala do diretor. – Ele respondeu – então tira logo esse vestidinho e se prepare, Remus já está lá.
-Ótimo. – Marlene disse saindo esbarrando no ombro dele com força.
-Já que você está aqui, eu vou atrás dela. – Lily disse para Sirius, me beijou levemente e saiu atrás da amiga. O sorriso e o brilho de alegria deixaram meu amigo, como se ele simplesmente acabasse de se lembrar do que tinha feito com o próprio relacionamento.
-Você vai mesmo deixa-la por causa deles? – Perguntei, ele suspirou jogando o cabelo para trás confuso.
-Você não viu, Prongs, não viu o ódio nos olhos dela. – Respondeu – ela teria matado Belatriz, não era a garota que eu conheci, era alguém completamente diferente.
Tentei imaginar o que ele estava querendo dizer, mas me era impossível entender o que o término do relacionamento teria a ver com isso, aliás, no que isso ajudaria. Marlene havia perdido os pais e teve a chance de matar a pessoa que lhe causou essa dor, era comum que quisesse vingança. E foi o que eu disse a ele, mas teimoso como era ignorou-me – Não, ela não tem raiva só da Bela, tem raiva de toda família, disse que a minha família, que o meu sangue tem sido a desgraça na vida dela.
-Talvez ela não esteja se referindo ao seu sangue particularmente, mas a todo sangue puro que se acha acima dos trouxas ou mestiços. – Falei tentando
trazer algum ponto de razão, o que também foi completamente inútil.
-Não quero que ela sofra ao meu lado, jurei protege-la e é isso que estou fazendo.
-Cara, vocês se casaram. – ele me olhou triste.
-Não foi um casamento formal, foi um voto em que eu disse que a protegeria, nunca jurei ter um relacionamento eterno com ela.
Uau, isso foi pesado. Não me surpreende que ela esteja por aí chorando, Marlene Mckinnon que nunca chora agora estava fragilizada por todas as coisas ruins que estavam acontecendo, parece que realmente a guerra estava se infiltrando aos poucos nos muros de Hogwarts destruindo as coisas que mais prezamos. Percebi que tentar argumentar contra ele era inútil, apesar de discordar completamente do que ele estava dizendo, mas nada melhor do que quebrar a cara