DORCAS MEADOWES

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Eu fui acordada por barulhos de cascos. Estremeci pensando em centauros, quer dizer, eu nunca vi um, mas também não tinha interesse algum em conhecê-los pessoalmente. Quero dizer, são criaturas intimidadoras, os centauros, mas fiquei feliz em ver que era apenas um lindo unicórnio limpando as patas traseiras no chão. O céu já estava clareando, a floresta não estava mais tão escura, devia ser umas cinco horas, uau, eu ainda consegui dormir a noite toda mesmo sendo perseguida por um lobisomem, isso, meus amigos, merece um prêmio. A lua cheia não estava mais brilhando intensamente acima de nós, o que significa que o lobisomem já deve ter assumido novamente a sua forma humana e eu vou poder sair desse buraco minúsculo e esticar meus ossos e músculos, tudo doeu muito quando eu fiz isso. O unicórnio me encarou, mas continuou com sua rotina matinal de limpar as patas traseiras, a
floresta não parecia mais tão assustadora assim e eu comecei a caminhar, minha barriga roncou, droga, que fome!
Havia alguns barulhos estranhos na floresta, e o mais estranho foi um gemido pesado, lentamente me guiei por aquele barulho até ver um corpo nu sobre o gramado, deitado de lado como um feto, os joelhos contra o peito, a cabeça abaixada, ele sangrava nas costas e no
rosto, e ah, quem seria capaz de machucar assim Remus Lupin? Além de tudo ele tremia muito.Retirei minha capa e cobri seu corpo, deitando sua cabeça em meus joelhos.
-Ah Remus... então é você... – lamentei muito, imensamente. Era obvio, não era? Como dois mais dois. Remus era o lobisomem, as cicatrizes no rosto, a aparência cansada dias antes da lua cheia, o sumiço em noite de lua cheia... eu deveria ter percebido, deveria ter notado antes. Ele ainda dormia, ou será que está desmaiado? De qualquer forma, fiquei feliz quando James, Sirius e Peter apareceram. -Viemos buscá-lo. – Sirius anunciou – ele está bem?
-Parece que teve uma noite longa – respondi acariciando os cabelos dele.
-Por que está chorando, Dorcas? Ele sempre fica assim no dia seguinte. – James falou e eu não percebi que estava chorando.
-Acho que estou aliviada – respondi – mas também mal porque agora eu sei o porquê de ele não gostar de mim, de estar sempre me evitando, ele acha que não sou capaz de entender.
Os três se entreolharam como se eu fosse uma louca chorando ali com ele deitado em meus joelhos.
-Ele gosta de você, Dorcas, mas precisamos levá-lo agora, vai amanhecer e vão notar que estivemos fora do castelo.
Nós o erguemos e carregamos ele até a casa dos gritos, Lily e Marlene estavam lá e nós nos abraçamos quando nos encontramos, satisfeitas por todas estarem seguras. Estávamos péssimas,
machucadas, mas bem. Os meninos o deitaram na cama empoeirada ainda coberto pela minha capa, e eu e as meninas demos privacidade para que eles o acordassem, e após alguns minutos ele apareceu, usando já suas vestes, olheiras, machucados, cansaço e culpa.
-Eu não sei como me desculpar... – e antes que ele dissesse algo, Lily pulou da cadeira e o abraçou. Remus estava chorando. – Eu sou um monstro, Lily, é isso que sou, e ataquei vocês...
-Você não é um monstro, Remus, nunca foi! – Ela disse ainda o abraçando da forma que só uma amiga conseguia fazer, e eu me senti incomodada porque eu queria estar no lugar dela.
-Sou, Lily, sou sim. Você tem essa capacidade de enxergar o melhor nas pessoas mesmo quando elas não conseguem fazer isso com elas mesmas, mas eu podia ter matado vocês. – Ele despejou em cima da minha amiga que sorriu solidariamente.
-Remus você não tinha como saber o que estava fazendo, nós que viemos atrás de vocês...
Ele olhou para Marlene e então parou os olhos castanhos sobre mim alguns segundos, abaixei a cabeça envergonhada.
-Nós não vamos contar a ninguém, prometemos. – Marlene disse. – nada sobre nenhum de vocês.
Isso pareceu aliviar um pouco o clima na sala, enfim, decidimos voltar para o castelo como um bando de inferi. Devia ser a coisa mais horrível que alguém poderia ver pela manhã. No castelo, nosso nível de atenção aumentou para não darmos de cara com Filch, e até que foi divertido a adrenalina de não sermos pegos, mas eu já não tinha animo para nada.
-Nos vemos no café. – Sirius beijou Marlene rapidamente e subiu as escadas, ela fez o mesmo. James e Lily trocaram olhares, ah, a novela Jily que nunca tem fim.
-Até o café, James. – ela disse docemente, ele sorriu e subiu as escadas também sendo seguido por Peter, logo Lily fez o mesmo, e então ficamos eu e Remus. Eu não queria tomar mais da energia dele, mas queria ficar mais ao seu lado e diferente de Lily e James, eu não sei brincar de esconder meus sentimentos, ou ficar em joguinho.
-Então é por isso. – Falei rapidamente, ele ergueu os olhos cansados para mim – por isso você finge que não gosta de mim.
-Dorcas, você merece alguém melhor do que eu – a voz dele era baixa e calma, não se comparava o que eu estava sentindo. Anos achando que ele não ligava para mim, que ele não gostava de mim.
-Remus, eu gosto de você! Por favor, não faça comigo o mesmo que Lily faz com James.
Eu estava quase implorando, segurando a frente de sua veste. Remus tinha os olhos cansados, mas também tinha um olhar de piedade e isso acabou comigo.
-Eu não dou a mínima se você é um lobisomem, eu quero estar com você.
-Dorcas, vamos dormir. Temos apenas uma hora até começar o dia.
Disse friamente, soltando minhas mãos e me deixando sozinha na sala comunal. Eu subi as escadas me sentindo extremamente infeliz, Remus já havia me rejeitado antes diversas vezes, mas dessa vez era diferente, não havia motivos mais, segredos, apenas o simples fato de eu ter
que aceitar que ele não gosta de mim, e sim de outra pessoa. Subi para o dormitório e as meninas já estavam dormindo, ótimo. Lily poderia colocar aquela linda cabeça ruiva para deitar-se, descansar os lindos olhos verdes que encantavam qualquer um que passasse, dormir como uma princesa. Como eu não percebi antes? Era tão obvio.
Eu acredito não ter dormido nada, tomei banho e me deitei na cama, mas não fechei os olhos. O café da manhã foi silencioso, ninguém estava descansado o suficiente para dizer alguma coisa ou comentar sobre a noite anterior, apesar de tudo ter parecido um longo pesadelo.
As aulas também se passaram rápido, Alice estava interessada em saber o que aconteceu e ficou fazendo um bilhão de perguntas.
-Se você estava tão interessada, por que não foi com a gente? – Respondi mal-humorada.
Ela me encarou como se eu a tivesse esbofeteado.
-Nossa, Dorcas, alguém realmente não dormiu bem – Alice tentou não demonstrar o quanto ficou ofendida, mas não conseguiu.
-Meninas! – A Professora Mcgonagall chamou nossa atenção – Como eu estava dizendo, falta apenas duas semanas para o baile de inverno para as turmas do sétimo ano, o baile de despedida!
A turma se animou ao ouvi-la falar, eu também poderia ter me animado se não estivesse com a cabeça tão cheia de coisa. Eu tenho esperado esse baile desde o primeiro dia em que estivesse em Hogwarts, e não esperava que ficaria tão desanimada assim. Quando a aula acabou, cambaleamos até a outra aula enquanto conversávamos sobre o baile.
-Bom – Marlene bocejou – eu já tenho o meu par.
-Eu também. – Alice respondeu e eu revirei os olhos.
-Não ouse dizer que você vai com o idiota do Ludo, não me faça querer vomitar. – Marlene falou antes que Lily pudesse pronunciar a frase que estava prestes a dizer. Minha garganta coçou.
-Ela pode levar o Remus. – falei e as três me encararam confusas – Qual é, vocês formam um belo casal.
-Não estou entendendo, Dorcas. – Lily disse e nós paramos de caminhar, ficando no corredor enquanto alunos passavam indo para suas respectivas salas.
Eu dei risada.
-Não está entendendo o que? Que Remus gosta de você? Que você é sempre a preferidinha dos professores, a menina de ouro! Ninguém pode esperar ser notada por alguém quando se é amiga de Lílian Evans!
A palavras vieram tão rápido na minha cabeça e foram ditas na mesma velocidade, sem um filtro, sem nada, apenas ditas de forma brusca e feroz. Lily piscou confusa.
-Você não está querendo dizer que Remus gosta de Lily, está? – Marlene perguntou ficando entre nós duas – Você está maluca?
-Não! Ontem eu vi como vocês se abraçaram, como vocês foram tão... afetuosos um com o outro.
-Afetuosos? – Agora era Lily quem ria – Remus é meu amigo, sempre foi!
Nossa discussão foi interrompida por Sirius e James, tão exaustos quanto nós. Sirius se apoiou em Marlene, e James em Sirius.
-O que vocês estão discutindo? – James perguntou em um bocejo.
-Nada – respondi asperamente, a situação já era humilhante e confusa o suficiente. -Dorcas acha que Remus gosta de Lily. – Marlene disse me encarando desafiadora. James se ajeitou um tanto incomodado e Sirius riu.
-Só se ele quiser ser transformado em um chihuahua pelo James. – Ela complementou.
-O que é uma Chí au uá uá? – Sirius perguntou
-Não é Chí au uá uá, é Chihuahua. É um cachorrinho pequeno irritante. – Ela respondeu rindo.
-Hey, o que você tem contra cachorros? – Ele fingiu estar ofendido, e ela riu de novo se virando para ele.
-Nada, adoro cachorros, especialmente um... – A voz logo tornou-se sexy e eles se entreolharam, ah céus, alguém arruma um quarto para os dois.
-De qualquer forma, isso não é assunto de vocês! – Aumentei a voz querendo sair de perto deles, mas James me encarou -Pads, você conta ou eu conto?
-Ah, eu não sei, Prongs. A deixamos descobrir sozinha?
Os dois me encararam rindo.
-Moony vai ficar furioso.
-Ele sempre está furioso com a gente – Sirius respondeu e os dois riram novamente me irritando mais ainda, legal saber que meu sofrimento era motivo de piada.
-Bom, vamos lá, Dorcas, como eu posso dizer isso... Remus é apaixonado por você, sempre foi, mas você sabe que o problema peludo dele o faz pensar que é melhor se você ficar longe. –James disse. Meu coração parecia que ia explodir dentro do peito, aquela raiva e ciúmes
sumiram rapidamente dando lugar a uma felicidade extrema ao saber que o meu Remus também gostava de mim, e me senti uma idiota por ter sido rabugenta com Lily a manhã toda por algo que eu tinha enfiado na cabeça.
-Ele é apaixonado por mim?
-Claro que sim – Sirius complementou – sempre foi, eu só queria que ele fosse um pouquinho mais autoconfiante as vezes. -Não como você, é claro. – James o encarou e Sirius jogou o cabelo escuro para trás.
-O que posso dizer? Fui abençoado com o dom da beleza. – Ele comentou nos
fazendo rir.
-E de outras coisas... – Marlene falou baixinho, mas nossa risada aumentou – Quer saber, não estou a fim de ir para a aula de adivinhação... estou me sentindo mal, me acompanha até a enfermaria? Sirius sorriu e não precisou dizer mais nada, passou o braço pelo ombro dela e ambos saíram indo em busca de algum lugar mais privado. Eu estava sentindo uma felicidade transbordar dentro do meu coração, se James Potter e Sirius Black afirmavam que Remus Lupin era apaixonado por mim então não havia motivos para dúvidas, eles eram seus melhores amigos e deveriam saber e eu não estava me importando com nada mais, dane-se o probleminha peludo, a
falta de autoconfiança, questões sociais, Remus e eu ficaríamos juntos! James me disse que Remus havia ido até a biblioteca antes da próxima aula começar, era o
momento perfeito e eu já sabia exatamente o que fazer. Cheguei esbaforida, sem folego por ter descido a torre da aula de adivinhação como uma maluca, tropeçando nos meus próprios pés. Pince me encarou por trás dos óculos de forma cruel por eu ter aberto a porta da biblioteca bruscamente, mas o que eu podia fazer? Precisava ver meu Lupinzinho. E lá estava ele, debruçado no final de um corredor de livros lendo, taciturno, depois de uma noite longa.
-Ah, olá, Dorcas. – disse cordialmente, mas eu arranquei o livro idiota de sua mão e o encarei. –Está tudo bem?
-Não. – Respondi me aproximando – Você não vai dar um de Lily comigo, eu não aceito.
Ele me encarou e suspirou, antes que pudesse dizer algo, segurei a frente de sua capa e o empurrei contra a estante de livros atrás de nós, Remus era mais alto, mas não foi suficiente para que eu não o beijasse. Ele se assustou como previ, mas continuei forçando meus lábios contra os dele até que finalmente ele parou de resistir e me retribuiu o beijo. Ah e que beijo! Como ele era perfeito, como os lábios dele eram melhores do que eu havia imaginado.
-Você... quer... ir... ao.... baile... comigo? – Era difícil falar enquanto ainda o beijava. -Quero... sim... – ele respondeu ainda me beijando de forma gentil.
-Obrigada. – Obrigada? Qual o meu problema? Estou dizendo Obrigada! Mas não importa, não importa mesmo porque Remus Lupin, meu Lupinzinho, está me beijando.

Hogwarts, 1978. ( CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora