Ao abrir meus olhos, eles arderam talvez pela claridade da luz da janela os invadindo rapidamente. Quis voltar a dormir, mas ao tentar virar de lado um peso me impediu, olhei para o que era aquilo e me surpreendi com Sirius dormindo apenas debruçado na minha cama, sentado em um banquinho pequeno para ele. Mas que diabos ele estava fazendo no meu quarto? Foi a primeira coisa que pensei até olhar em voltar e notar que ali não era meu quarto, era a ala hospitalar, como um flash, todos os acontecimentos de ontem vieram rapidamente na minha cabeça me deixando zonza. Belatriz, Snape, Diggory e Sirius! Eu não sei se uma pessoa consegue conviver com tanta raiva dentro de si porque eu senti raiva dos quatro ao mesmo tempo, mas nada se comparava com o ódio que eu estava sentindo por Belatriz, parecia enormes ondas de eletricidade que começavam das pontas dos meus dedos percorrendo todo o meu corpo. Tudo o que eu queria era acabar com aquela vagabunda covarde! E Sirius... tudo isso é culpa dele, dormindo aqui do meu lado como se nada tivesse acontecido se ele não fosse um galinha eu nunca teria saído do lago sozinha. Limpei minha garganta alto, ele apenas se remexeu. Repeti o barulho dessa vez mais alto o acordando em um susto, rapidamente ele se levantou como se tivesse sido puxado pelos cabelos.
A princípio, pareceu perdido e confuso, mas quando seus olhos se encontraram com o meu ele sorriu de orelha a orelha. -Você acordou! – disse e simplesmente me agarrou em um abraço forçado que eu tentei impedir empurrando-o, mas ele parecia muito mais forte do que eu – Ah, estou tão feliz, tão feliz que você acordou! Não sabe como fiquei preocupado com você!
-Ai me solta, Black! – tentei o empurrar e não consegui – eu disse para me soltar.
Ele me soltou, porém só para segurar em meus ombros e continuar me olhando com aquele sorriso idiota no rosto, os olhos escuros agora brilhavam.
-Você quer parar de me amassar? Que droga! Já não basta sua prima ontem me jogando na parede, me cortando com... – eu tentei lembrar o que Bela tinha dito, qual era o feitiço, mas foi inútil, enquanto falava comecei a tentar me levantar da cama, mas ele, enxerido como era começou a me puxar de volta.
-Você não pode se levantar ainda! – falou.
-O que? Eu posso e eu vou! Preciso olhar bem na cara da sua priminha e acabar com aquela vadia! – Eu quase terminei a frase gritando, mas ele segurou no meu braço novamente.
-Não vai fazer nada ainda, não enquanto madame Pomfrey não disser que você pode se levantar.
Bufei.
-Você não pode me impedir! – tentei levantar-se e ele me puxou novamente.
-Tente!
Nós nos fitamos por alguns segundos e então me dei por vencida, bufando me joguei na cama novamente enquanto ele saiu gritando por Madame Pomfrey. Eu não estava muito interessada em saber o que ela tinha a dizer, queria muito na verdade encontrar Belatriz e bater com a cabeça dela na parede. Alguns minutos depois ele voltou com Madame Pomfrey em seu encalço me fazendo um bilhão de perguntas, nas quais ela por fim, entendeu que eu estava bem e não precisaria mais ficar na ala hospitalar.
-Há apenas uma coisa que preciso te contar, Srtª Mckinnon. – sua voz tornou-se mais séria do que já era – o feitiço que foi lançando em você é algo completamente novo para nós, eu nunca vi algo assim antes, ele deixou uma marca em você. -Uma marca? – pronto, era capaz da minha cara estar desfigurada.
Ela balançou a cabeça.
-O Diretor, Minerva e eu constatamos que o feitiço tem proveniência maligna e por isso deixou uma cicatriz no local onde foi efetuado.
Lentamente levei minha mão até minha barriga onde eu sentira a dor na noite anterior. Eu estava usando uma camisola horrível, a ergui lentamente até minha barriga e vi uma cicatriz de aproximadamente dez centímetros como um corte mal feito que fez meus olhos se encherem de lágrimas, mas não de tristeza, e sim de ódio. Já não bastava os anos aguentando-a, agora eu teria para sempre uma marca que me lembraria eternamente de Belatriz Black. Sirius tentou afagar meus cabelos, mas me desviei de seus toques.
-Tá, tá, o que mais? Posso ir agora? – Eu não estava muito preocupada em ser boazinha.
-Sim, Srtª Mckinnon, está cedo ainda, daqui a uma hora irá começar o café da manhã e você está muito bem para acompanhar seus colegas, e sua roupa nós tivemos que rasgar então suponho que terá que usar a camisola.
Revirei os olhos, não podia melhorar, não é? Dei um pulo da cama e saí dali usando camisola mesmo, estava pouco ligando para o que qualquer um fosse dizer. Eu só tinha um propósito.
-Hey, hey! – Black começou a gritar atrás de mim – tome use isso.
Ele colocou sua capa sobre mim, mas eu a tirei.
-Eu não quero nada seu! – Respondi ríspida, ele ficou quieto uns segundos. – Você acha que só porque sua prima me atacou eu esqueci o que você fez comigo?
Ele balançou a cabeça atordoado com o que eu disse, eu estava tão enfurecida com a prima dele que não conseguia pensar direito em entender o que realmente aconteceu entre Sirius e eu. Ele passara a noite toda dormindo em um banquinho do meu lado na enfermaria, passara frio, dormiu em uma posição horrível, queria que eu usasse sua capa, estava preocupado que eu me levantasse sem ter certeza de que eu estava bem, mas tudo o que minha mente dizia era que Sirius Black me magoou na noite anterior, e me fez chorar, o idiota me fez chorar! E ninguém nunca tinha feito isso antes, e por que eu chorei? Porque eu estava perdidamente apaixonada por ele e eu só queria que ele não fosse esse idiota de sempre.
-Podemos conversar? – ele pediu jogando o cabelo para trás – eu não fiz aquilo!
-Então como Diggory soube?
-Eu não sei! – ele gritou – Você acha que eu iria querer que aquele babaca aparecesse quando eu finalmente tinha você nos meus braços? Quando eu finalmente pude beijar você, tocar você? Ou você acha que eu quis que você se saísse correndo sozinha e fosse atacada pela louca da Belatriz?
Ele falava praticamente gritando, uma voz desesperada como se ele finalmente estivesse se deixando desmoronar. Não por mim, é claro, mas por todas as coisas ruins que estavam acontecendo naquele momento na sua vida e ele só queria que algo bom acontecesse, só queria que ele não fosse realmente o filho ruim, diferente, uma decepção porque o que conhecemos dos Black é que pelos simples fato dele ter ido para Grifinória ao invés da Sonserina, Sirius foi motivo de desprezo em sua família. E por mais que não houvesse uma evidência de que ele escreveu aquele bilhete, o homem a minha frente, que ficava com garotas e no dia seguinte esquecia o nome delas, parecia totalmente desesperado de que eu acreditasse no que ele diz.
Respirei fundo, estava sentindo tanta raiva de Belatriz que me surpreendi que naquele momento no meio de tanto ódio eu pudesse sentir compaixão por ele. Me aproximei e lentamente peguei a capa no chão colocando sobre meus ombros, me senti muito melhor. Percebi que ele estava tremendo, retirou um cigarro do bolso e o acendeu se aproximando da janela ao nosso lado.
-Não machucaria você nem que eu tivesse que morrer por isso. – falou sem olhar para mim, mas apreciando a vista ao redor da escola. Mordi o lábio inferior sem saber o que responder.
-Obrigada. – foi o que saiu da minha garganta enquanto ergui meus olhos para olhá-lo soltar a fumaça de seus pulmões. Ele disse que nunca me machucaria e a verdade era que ele já tinha feito isso antes, e eu nunca realmente tivera coragem para questioná-lo, entender o que ele tinha na cabeça por terminar comigo e depois ficar atrás de mim. Ou ele era extremamente egoísta, ou era louco. O fato era que eu precisava saber o que aconteceu ah quase dois anos atrás – -Mas você já fez isso antes.
Rapidamente seus olhos estavam sobre mim, me encarando quase inexpressíveis. -Eu nunca quis te ferir.
-Então me diz o que aconteceu... – eu me aproximei dele segurando a frente de sua camiseta – me diz, porque quando você me abraçava eu acreditava que era para sempre e então você simplesmente me abandonado.
Eu não estava esperando soar tão dramática, mas era o que eu sentia, como eu me sentia todos os dias. O lábio inferior dele tremeu enquanto ele mantinha os olhos sobre os meus. - Me diz, Sirius – quase implorei, ele tragou o cigarro e depois o jogou fora.
-Eu era um fraco! Um idiota! – tornou a ficar quieto alguns segundos – Cresci em uma família de sangues puros com uma crença maldita em manter uma linhagem pura. Um inferno! Sou o primogênito homem de uma geração e cresci ouvindo que deveria me casar com uma sangue puro para manter a tradição da família – ele deu uma risada sem humor algum na voz – mas desde cedo eu odiava isso, odiava todos os meus parentes que se julgavam os melhores do mundo! Minha maior felicidade foi vir para Hogwarts e poder ficar longe deles, conheci James que odiava tudo isso assim como eu. Eu cresci, e descobri que era apaixonado por você. – Outra pausa – Inúmeras garotas, qualquer uma que eu quisesse, mas uma nascida trouxa me fazia perder o sono a noite e mesmo sabendo de todos os riscos me aproximei de você. E quando você entrou no meu quarto naquela noite... eu soube que eu nunca ia querer outra pessoa que não fosse você.
"Eai fomos para casa no natal, eu teria ido para casa dos Potter se eles não tivessem ido viajar. Belatriz sempre gostou de mim, éramos para termos nos apaixonado, bom, com ela deu certo, mas eu já te amava demais para olhar para qualquer outra pessoa, Marls, e então minha família enlouqueceu após Bela ter contado a eles que estávamos juntos. Eu, um Black, primogênito de Órion e Walburga Black apaixonado por uma trouxa? Era inaceitável. Eu fui intimidado, ou terminaria as coisas com você ou eles viriam até Hogwarts... eu não permitiria que minha família te machucasse por minha causa.
"Quando eu vi você caída, sangrando... entrei em pânico, eu teria feito algo muito ruim com ela se James não tivesse me impedido. – ele deu uma risadinha, tragou o cigarro e depois o soltou novamente – Acho que é o sangue Black nas minhas veias."
Fiquei alguns longos minutos digerindo aquela história enquanto ele tragava aquele cigarro idiota com os olhos fixos na floresta lá embaixo. Não sei direito descrever o que senti, como me senti. A princípio raiva, muita raiva, da família idiota dele, dele por ter sido tão covarde, mas logo em seguida, fui tomada rapidamente por uma onda de compaixão pelo garoto a minha frente. É verdade que nunca houve uma explicação sincera para o que aconteceu conosco naquela época, e mesmo que uma onda de infinitas possibilidades tivessem passado pelo minha cabeça naquele tempo eu nunca teria imaginado que o motivo de Sirius me deixar era simplesmente o medo de que sua família me ferisse por decidirmos ficarmos juntos. Isso é um absurdo! Nem mesmo eu que tenho uma bela habilidade para xingar as pessoas conseguia nesse momento expressar o que eu estava sentindo. Eu também não soube ao certo o que dizer a Sirius, que mesmo encarando a floresta em uma tentativa ridícula de não me encarar, estava louco para que eu dissesse alguma coisa.
-Ainda bem que você não fez nada com a Belatriz. – Respondi como se a culpa de tudo fosse unicamente ela – Porque eu vou!
Então ele se virou para mim, com um sorriso de canto entendendo o que eu quis dizer. Jogou o resto do cigarro para fora da janela e segurou minha mão, nós dois corremos até a torre da Grifinória juntos com algumas pessoas tentando me parar para perguntar se eu estava bem, o que havia acontecido, o porquê de eu estar usando camisola, mas não consegui dar atenção para nenhuma delas. Sirius correu para o dormitório dos meninos e eu fiz o mesmo para com os das meninas, quando entrei as três estavam acordando ainda. -Acordem garotas, a vadia favorita de vocês está de volta! – gritei pulando na cama de Lily que estava agarrada a uma gravata? Me empolguei quando vi até perceber que era da Grifinória portanto deveria ser do Ludo Douchbag!
-Lene! – Ela me agarrou e me abraçou com força enquanto caíamos gargalhando na cama dela – você está bem? Como você está?
Começou fazer uma série de perguntas irritantes enquanto me levantei retirando a capa de Sirius para procurar meu próprio uniforme, tomei uma banho rápido antes de vesti-lo. Enquanto as três ficavam me enchendo de perguntas sobre o que aconteceu na noite anterior, achei melhor esconder o fato de que Diggory apareceu com o bilhete e que eu saí correndo chorando.
-Estão prontas? Está na hora daquela vaca saber quem eu sou! – Falei e Dorcas deu risada, mas Lily ficou séria.
-Você não vai atrás da Bela, não é?! – segurou em meu punho, eu não precisei dizer nada para ela saber que eu iria. -Marlene, não!
-Marlene, sim! – respondi enfurecida – ela me atacou de surpresa, me deixou com a droga de uma cicatriz.
-Você pode ser expulsa! – tentou me alertar, balancei os ombros – como você vai ser uma auror se for expulsa?
-Vou dizer que acabei com a Belatriz com um golpe só! – Dei risada, mas Lily permaneceu séria – Você vem, ou não Lily? A escolha é sua, de qualquer forma, Sirius vai comigo!
E dizendo isso eu saí do dormitório descendo as escadas sendo recebida por Sirius e os rapazes, James me abraçou tão forte me girando no ar enquanto gargalhávamos, Remus sempre muito
cortês e gentil e Peter, tímido, mas mesmo assim um amor.
-Você vai mesmo atrás dela? – Perguntou James me colocando no chão novamente. -É claro que eu vou!
-Ninguém segura o furacão Mckinnon! – Sirius disse fazendo a gente gargalhar, nossos olhares se sustentaram por alguns segundos. Uma vozinha mandona interrompeu nossas risadas enquanto a dona dela vinha marchando atrás de nós como um general.
-Marlene Mckinnon! Você não vai fazer isso! – Ela disse segurando em meu braço – Por que você quer fazer isso?
Eu encarei Lily já ficando extremamente aborrecida por ela tentar me impedir.
-Por quê? Aquela vaca me estuporou e depois lançou um feitiço sobre mim que me cortou ao meio! Ela e o Snape tem direito de sair machucando as pessoas pelo castelo e eu não posso fazer o mesmo?
Minha voz saiu mais alta do que eu queria. -Não! – foi a resposta de Lily, nós a encaramos surpreso pelo o que ela disse – Não podemos!
-E por que não, rainha da bondade? – Foi Sirius que perguntou, ela o fuzilou com os olhos verdes.
-Porque é isso que nos fazem diferentes deles, não é sobre quem sabe usar o melhor feitiço. O mundo não é divido entre pessoas boas ou ruins, mas são nossas escolhas que nos mostram quem somos! – ela disse – E eu não quero que nenhum de vocês se tornem tão ruins quanto eles.
O que ela disse tirou qualquer argumento de todos nós, mas eu ainda sentia uma raiva arder dentro do meu peito querendo sair para fora.
-É triste quem eles se tornaram, mas nós não precisamos fazer o mesmo, Lene, por favor, Dumbledore já deve ter falado com eles. – ela segurou em meu braço, eu não queria encarar minha amiga, mas depois de ouvir o que ela disse meu coração balançou.
-Você não está tentando proteger seu amigo, está?
-Você sabe que Snape nunca precisou de proteção. – ela disse.
-Minha cicatriz diz tudo. – ela se calou engolindo em seco me soltando, os olhos verdes dela passaram por todos os meninos parando em James que estava encostado na escrivaninha com as mãos nos bolsos pensando no que ela acabara de dizer.
-Por favor... – ela sibilou para ele que irritado balançou a cabeça.
-Lily tem razão. – Eu bufei e Sirius fez o mesmo, ela tinha ganhado ele com o discurso da paz. – Não precisamos lutar contra eles agora, mas vamos lutar.
Ela voltou a arregalar os olhos verdes. -Não vamos lutar contra ninguém!
-O que você quer dizer, James? – Remus perguntou.
-Estou querendo dizer que Belatriz, Snape, Lúcius, Narcisa, todos eles estão cada vez mais fascinados pelas trevas bem debaixo dos nossos narizes. E quando nós sairmos daqui, dessas paredes, eles vão se juntar a ele e nem você Lily e suas belas palavras vão poder impedir isso.
Ela abaixou a cabeça e respirou fundo. -Não estou preocupada com eles, estou preocupada com vocês. – Ela respondeu, mas seus olhos estavam fixos em James. Eu bufei irritada com todo aquele papo, me soltando bruscamente das mãos da minha amiga, as vezes, o amor dela, o carinho dela, a capacidade dela de ver bondade aonde não tem me irritava e eu temia pela vida dela por conta disso.
-Foda-se! – tentei sair, mas ela me segurou de novo me encarando – tudo bem, Lily! Eu não vou atrás dela, mas se ela aparecer na minha frente ou se ela tencionar a falar comigo eu vou bater a cabeça dela na parede, porque nem a minha varinha vai ter tanto prazer de acerta-la quanto minhas mãos.
Lily sorriu.
-Eu vou proteger suas costas.
-Espero que sim! – respondi sem conseguir não me contagiar com o sorriso da minha amiga.