SIRIUS BLACK

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A mata estava cada vez mais escura, mas mesmo sem enxergar nada eu me concentrava nas risadas de Belatriz porque sabia que Marlene estaria logo atrás dela.
-Marlene! – Gritei inutilmente.
-Orfãzinha – A voz debochada de Bela soou pela mata seguida por uma risada alta que simplesmente parou. Foi interrompida. Ao finalmente encontra-las entendi o porquê a risada de Bela se silenciou; Marlene estava fazendo pressão com a ponta da varinha contra o pescoço pálido de Belatriz. O peito da minha namorada descendo e subindo, a fúria em seus olhos de uma forma que eu nunca a vi
-Você chegou priminho... – Zombou Bela com as costas presa em uma arvore.
-Cala a boca sua vaca! – Marlene apertou mais a varinha – cala essa maldita boca.
-Ou o que? Vai me matar é?
-Eu não teria corrido atrás de você atoa, não é? – Ela não disse, mas rugiu como um animal sedento por sangue. É isso, Marlene estava sedenta por sangue e um sangue em particular.
Bela sorriu novamente.
-Então vamos lá, mestiçazinha nojenta, faça isso! – Bela a incentivou olhando em seus olhos.
-Marlene não – Intervi, não poderia deixar que ela fizesse isso, não poderia deixar que ela se tornasse uma assassina porque ela não suportaria a culpa de carregar o sangue de alguém nas mãos e ainda não havia provas de que Belatriz realmente havia matado seus pais, portanto, Marls iria para Azkaban, mas duvido que o ódio que ela estava sentindo naquele momento deixasse ela pensar nas consequências de seus atos. Me aproximei delas. – Não faça isso.
-Faça, faça, faça, FAÇA! – Bela sabia que Lene estava em um dilema sem saber o que fazer, mas era tola por subestima-la, não a conhecia, não conhecia o ódio e a coragem dela. Não como eu.
-Você acha que eu não tenho coragem? Só estou pensando se eu mato você ou torturo antes – Marlene respondeu – Sirius fica longe de mim!
-HAHAHA – Gargalhou Belatriz – Torturar? Vai ser bem divertido... foi o que eu e a mamãe trouxa fizemos antes de eu queimar a sua casinha ridícula.
-Sua desgraçada. – Os olhos de Marlene lacrimejaram
-Vamos lá, são duas palavrinhas... A-va-da – ke-da-vra...
-Marls, você não tem que fazer isso, não tem que ser igual a ela. – Disse me aproximando mais – você é diferente
-E se eu não quiser ser diferente? – Gritou – E se eu quiser ser a droga de uma assassina?
-Você não quer!
-Ah, ela quer sim.
-Não, Marls, escute, você não precisa fazer isso consigo mesma, é obvio que ela merece morrer, mas você não merecer ir para Azkaban por causa dela! – Minha voz aumentou gradativamente.
-Vai embora Sirius! – Gritou irritada – Saia daqui.
-Não posso te deixar sozinha – respondi – prometi proteger você!
Ela tirou os olhos de Bela e me encarou, os lábios tremendo e eu não soube dizer se ela estava triste ou irritada. Mas não houve tempo para descobrir por que Bela a empurrou, ela caiu e no instante seguinte Bela estava fugindo pela mata após agarrar a varinha o chão. Lene se levantou a fim de ir atrás dela, mas a segurei pela cintura.
-Me solta, Sirius, me solta! – Se debateu – preciso ir atrás dela, preciso...
-Não, você não pode! – A segurei com mais força, ela parou de se debater e eu finalmente a soltei. Como não havia mais chance de encontrar Belatriz no meio da mata, ela apenas me encarou furiosa.
-Como você pôde? Como pôde deixar que ela escapasse assim? – Questionou gritando.
-Eu não posso deixar você ir para Azkaban. O que estava pensando? Que simplesmente podia matá-la? Não há provas de que ela matou seus pais, Marlene! Tudo o que o ministério acredita é que você inventou essa história.
Tentei levantar um pouco de razão ali, de fazê-la enxergar além do ódio, mas tudo o que consegui foi um olhar de desprezo.
-Não pode simplesmente matar uma Black e achar que tudo vai ficar bem!
-É claro! Porque vocês Blacks, são intocáveis. A família de puro sangue mais temida entre os bruxos, você só estava tentando proteger a si mesmo e ao seu sangue.
Aquilo me atingiu da forma mais dolorosa possível e eu tive que me agarrar a ideia de que ela só estava dizendo aquilo porque estava furiosa comigo, com Bela, com o mundo. Mas não pude deixar de sentir um pouco de raiva por ouvir ela falar daquela forma pois ela melhor do que ninguém sabia o que eu sentia pela minha família: ódio.
-Acha que eu estava tentando proteger ela?
Ela se calou e se virou de costas para mim.
-O sangue de vocês é a maldição na minha vida. – Falou quase em um murmúrio e eu entendi bem o que ela quis dizer. Meus olhos lacrimejaram, droga, eu não queria chorar igual um idiota emocional, mas ouvi-la finalmente colocar para fora o que eu já desconfiava era dilacerante.
-Diga, Marlene, diga o que você tem sentido. Que sou culpado pelas mortes de seus pais.
Ela se virou olhando-me diretamente nos olhos.
-Sirius...
-Você quer saber de uma coisa? Eu jurei te proteger e a melhor forma de fazer isso é afastando você de mim. – Aquilo doeu mais para ser expressado do que eu imaginei.
-Não, não, você não vai fazer isso comigo! – Se aproximou – Você prometeu!
-Prometi cuidar de você.
-E agora está me deixando. – Ela parecia perdida, confusa, mas eu sabia que era a única forma de mantê-la segura, e queria poupa-la da culpa de estar com a pessoa que causou a morte de sua família. Eu deveria ter ficado longe, não deveria ter subestimado Walburga, deveria ter deixado Marlene longe da família Black.
-É a única forma de te proteger. – Respondi.
-Sirius eu não culpo...
Ela ia continuar falando, mas duas pessoas apareceram entre as matas, erguemos as varinhas simultaneamente.
-Marlene Mckinnon e Sirius Black? – Eram dois homens desconhecidos.
-Sim, quem são vocês? – Perguntei ainda com a varinha erguida.
-Alvo nos mandou até aqui! Estávamos procurando vocês, seus amigos já estão no castelo. – Explicou-se o mais baixo.
-E quem são vocês? – Ela insistiu.
-Elifas Doge e Esturgio Podmore. – Respondeu ele – Vamos, precisamos ir imediatamente para o castelo.
Como não havia uma outra opção o seguimos ainda com nossas varinhas erguidas, atentos a qualquer ataque. Ela seguia quieta a minha frente, e eu queria saber o que ela estava pensando. Apesar da noite insana que tivemos, apesar de ter sido quase morto por Voldemort em pessoa minha cabeça parecia mais pesar com o que acabei de dizer a ela: que não podíamos mais ficar juntos. Era extremamente doloroso saber que lutei tanto para tê-la e vou ter que abrir mão, que por fim, vou ter que ceder e satisfazer a vontade da minha família simplesmente para protege-la. Ouvi-a fungar, mas não queria imaginar que estivesse chorando baixinho, não suportava vê-la chorar.
Ao chegarmos ao castelo fomos imediatamente levados a enfermaria. Remus estava sentado em um canto ao lado de Dorcas, Alice e Frank, enquanto Lily estava debruçada na cama ao lado de James, de um James ferido. Adentrei o local rapidamente me aproximando do meu melhor amigo.
-O que aconteceu? – exigi saber.
-Voldemort o atingiu – Lily respondeu segurando sua mão, os olhos extremamente inchados – Madame Pomfrey disse que ele vai ficar bem, mas... não suporto vê-lo assim.
-Calma Lils, você sabe que depois vai ser só mais uma história para ele se gabar, arrogante como é. – Marls disse disfarçando a própria tristeza para animar a amiga. – O Potter é forte, vai sair dessa.
-Eu sei, Lene, eu sei – disse ela – e por onde vocês estavam? O que aconteceu?
Marlene me olhou por um breve segundo.
-Nos perdemos na floresta – respondi – fomos encontrados.
Ela olhou para trás e os dois homens estavam parados conversando com Dumbledore.
Me aproximei de Dumbledore.
-Voldemort estava na floresta, com Snape e a turminha dele. Não importa o que vocês digam sobre nós, não importa o que pensam, queremos lutar. – Falei – seja lá o que for exatamente a ordem da fênix, queremos fazer parte dela.
A calma no olhar dele me irritou.
-Não somos um bando de adolescentes idiotas, não vamos ficar escondidos entre os muros do castelo enquanto o mundo está entrando em colapso. Precisamos fazer algo.
-É claro que sim, Sr. Black.
-Sirius...
-Não, Remus. Eu não vou aceitar o papinho de que somos jovens demais.
-Se você o deixar falar, Black, vai precisar fazer menos drama. – Dorcas se levantou.
-Sim, Sirius, o mundo está entrando em colapso como você mesmo disse, mas a ordem vai se reunir antes de podermos afirmar qualquer coisa para vocês. Essa noite eu quero apenas que vocês voltem para seus dormitórios e não digam o que viram, ou o que aconteceu a ninguém, não precisamos de mais pânico dentro do muro dessa escola. – Ele disse calmamente – vocês precisam primeiro descansar.
-Droga, eu não quero descansar – Resmunguei – quase fomos mortos!
-Eu sei! E lutaram bravamente, são mais habilidosos do que qualquer aluno na idade de vocês. – Respondeu-me – voltem para seus quartos imediatamente, isso é uma ordem. Além do mais, Potter precisa descansar.
-Eu não vou sair daqui. – Lily afirmou – não posso.
-Tudo bem querida, ele vai ser muito bem cuidado. – Respondeu Pomfrey.
-Não, não! Não vou a lugar nenhum – insistiu. Por fim ela permaneceu ao lado dele, enquanto nós voltávamos quietos para o nosso dormitório após recebermos cuidados. Eu havia deslocado um ombro e não tinha percebido, Remus estava queimado, Alice e Dorcas machucadas, mas a única que não parecia se importar em estar ferida era Marlene que não deixara Pomfrey tratar de suas feridas. Não deixou ninguém se aproximar dela.
-Acho que isso marca o começo de uma nova trajetória. – Remus disse quando chegamos a sala comunal da Grifinória.
-Isso nos coloca no meio de uma coisa muito maior do que todos nós – Alice respondeu – Acham mesmo que estamos preparados para isso?
Nós todos nos encaramos.
-Preparados ou não, não importa, ele nos mataria se pudesse.
-E é por isso que precisamos estar sim preparados, Dorcas, precisamos lutar e não fugir. – Marlene disse determinada – Precisamos ter coragem para fazer o que for preciso para sobreviver.
-Marls, isso é terrível. – Dorcas a respondeu – não precisamos chegar a extremos.
-Você acha que não? Aquele desgraçado teria nos matado se pudesse, o único interesse que ele tem e nos sangues puros.
-Isso não é totalmente verdade, Marlene, Alice e eu fomos completamente ignorados. – Frank disse – ele está a procura dos sangues puros com linhagens antigas e poderosas. Todos sabemos que os Peverell foram bruxos extraordinários e não preciso mencionar a família Black.
Eu dei uma risadinha sarcástica.
-Ah sim, os Black! – Marlene respondeu tão sarcástica quanto eu.
-Bom, não há motivos para ficarmos aqui a noite toda discutindo – Remus disse apaziguando a situação – sabemos apenas que, se decidirmos entrar na ordem é isso que vamos enfrentar ou coisa pior. Então pensem na escolha que vão fazer, vamos Dorcas.
Nós todos nos despedimos e eles subiram para seus dormitórios, mas eu fiquei ali porque Marlene também não subiu. Ela se aproximou ficando a centímetros de distância.
-Não pode me deixar. – falou segurando em meus braços – não pode fazer isso comigo.
-É melhor para você.
-Não! – Sua voz saiu esganiçada, como se estivesse segurando as lágrimas – não pode! Eu te amo, Sirius, amo você.
Meu coração se partiu e foi a coisa mais horrível que senti naquela noite, e olha que Snape me acertou em cheio com um feitiço estuporante. Acariciei seu rosto angelical.
-Marls, minha família e eu só fizemos mal a você, machucamos você e... por minha causa seus pais morreram! Você precisa entender.
-Não! Eu não quero entender nada, eu fiquei irritada porque você deixou que ela fugisse, mas tudo bem porque vai haver outras oportunidades de matá-la...
-Você está se ouvindo? – Segurei seus ombros – está ouvindo o que está dizendo? Você não é uma assassina, Marlene, não é essa pessoa cheia de ódio e rancor, eu trouxe isso para sua vida, eu te tornei isso! Além de destruir tudo a sua volta, não quero também ser o responsável por destruir o que há de melhor em você.
Ela se irritou e me empurrou.
-Como pode ser tão egoísta? Acha que tudo é sobre você? – gritou.
-Acho que o que for sobre mim eu posso mudar. – Respondi – Antes de mim, você tinha uma vida perfeitamente comum.
Ela começou a chorar e aquilo partiu de vez meu coração, mas eu não podia ser tão egoísta e pensar mais nos meus sentimentos do que nos dela, ela tinha que estar protegida e enquanto Voldemort estivesse atrás de mim, ou do meu sangue, ela nunca estaria cem por cento protegida, cem por cento bem. A abracei e beijei o topo de sua cabeça.
-Você vai ficar bem, Love – sussurrei.
-Não, eu não vou. Estou sozinha. – Choramingou – Obrigado, Sirius Black, você está fazendo comigo justamente o que disse que não faria.
Me empurrou novamente.
-Se é isso que você quer, se quer terminar comigo ao menos assuma o porquê disso e não fique ai inventando que está fazendo para me proteger!
-Marlene!
-Está fazendo isso porque se cansou de mim e quer voltar a ser o pegador, aposto que a história sobre como você lutou bravamente contra Voldemort vai te render muitas garotas. – Disse secando as lágrimas.
-Não seja infantil, Marlene, por favor. Você sabe muito bem que não é verdade. – Tentei dizer, mas sabia que ela estava ferida demais para acreditar em qualquer coisa que saísse da minha boca, precisava finalizar aquela conversa, precisava colocar um ponto final naquilo. -Vá se deitar, amanhã teremos um longo dia e você está toda machucada, deveria ter deixado Pomfrey dar um jeito nas suas feridas.
Me afastei dela a soltando, mas ela segurou meu punho.
-Não, Sirius, não por favor. – pediu, ergui os olhos tentando manter minhas lágrimas para mim mesmo.
-Marls...
-Seu desgraçado, egoísta, arrogante! Eu amo você, droga! Eu só tenho você.
-Não é verdade, você tem as suas amigas também
Ela sacudiu a cabeça.
-Eu preciso de você.
E eu precisava dela mais que tudo também.
-Boa noite, Marlene. – me soltei e subi em direção ao meu dormitório.
-Sirius Black! – A ouvi me chamar, mas não voltei, entrei em meu dormitório e Remus já estava deitado, Peter estava adormecido, aproveitei o silencio do quarto e chorei como uma criança por ter que me desapegar da única pessoa que eu já amei desesperadamente, por tê-la deixado em lágrimas.

Hogwarts, 1978. ( CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora