05 | CLARICE.

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As aulas começam na semana que vem. Aquilo estava me deixando completamente nervosa e paranóica. Tentava ao máximo não pensar em coisas negativas e tentar focar mais nos pontos bons, mas a minha mente surtada não me deixava em paz.

Depois do ocorrido com o filho de Kami, passei a ficar mais ligada em esconder um pé de cabra no meu quarto caso ele voltasse e fizesse alguma graça. E não, eu não acho isso loucura. O que mais estou acostumada são homens folgados que acham que podem falar ou fazer qualquer coisa que quiserem só por birra.

Neste exato momento, eu estava tomando café da manhã junto de Kami. Dali à alguns minutos, ela iria me levar para dar uma volta pelo bairro para eu pelo menos conhecer um pouco mais dali e me apresentar para os vizinhos. Chegava a ser engraçado com o quão empolgada Kami estava por eu finalmente estar morando com ela.

— Vamos, Clarice. O dia está lindo lá fora. — Ela levantou super empolgada da mesa e eu sorri.

Eu me levantei da mesa em silêncio e a ajudei a lavar a louça. Corri rapidamente pro meu quarto e me vesti, colocando uma blusa caída nos ombros preta e uma calça jeans de lavagem clara. Nos meus pés, um vans preto simples eu calcei. Deixei meus cabelos soltos e levei minha inseparável presilha rosa nos bolsos antes de me direcionar pra fora da casa junto de Kami, e então começamos a andar.

A casa de Kami era localizava num bairro muito bonito e tranquilo. O que eu mais escutava não eram barulhos de carros e nem de ônibus escolares como na cidade grande, mas sim barulhos de sapatos chiques batendo no chão e passarinhos cantando para anunciar aquela manhã fria mas de céu limpo. Era tudo muito lindo. Confesso que às vezes eu sentia falta do meu calorzão do Rio de Janeiro, mas vivenciar coisas novas seria muito bom.

— Kami — Chamei a moça que caminhava ao meu lado, de imediato, obtive seu olhar e sorriso simpático.

— Sim?

— Por que ficou tão animada de eu chegar aqui? Sei que é algo novo pra senhora, mas parece que há algo mais. — Minha frase fez Kami rir fracamente.

— Ah, querida. Você percebe muito rápido as coisas. — Ela abaixou sua cabeça e encarou suas botas de couro enquanto andava. — Eu sempre quis ter uma filha menina. Cheguei a ficar grávida de uma, mas sofri um aborto espontâneo.

Aquela fala fez um frio inconfundível invadir minha barriga. Lembro de quando eu e minha mãe perdemos meu irmão num tiroteio numa invasão qualquer na favela. Eu não sabia a dor de perder um filho, mas perder uma pessoa da família era como se uma parte de você fosse arrancada. Pude sentir a dor de Kami em suas palavras.

— Espero que eu seja uma boa filha, dona Kami. — Eu falei, parando e me virando para a senhora na minha frente, que sorria.

— Você é uma menina de ouro, Clarice. Eu sinto a energia boa que você transmite. — Ela esfregou a palma de suas mãos nos meus ombros. — Agora venha, vou te apresentar pra vizinhança.

Apenas assenti e a segui até a porta de uma casa próxima da nossa. Kami apertou a campainha e em poucos minutos, nós fomos atendidas por uma garota. Parecia ser a filha da dona de casa. Tinha a pele branca como neve e sardas espalhadas pelo rosto. Seus cabelos ruivos e cacheados com certeza eram as coisas mais chamativas em toda a sua beleza.

— Dona Kami! — A garota sorriu e abraçou a senhora ao meu lado.

— Mahogany! Você está uma mulher linda. — Kami disse e a garota riu.

— Por favor, Kami, só Lox. — O olhar da ruiva se direcionou para mim. — E quem é essa?

— É a Clarice, Lox. A menina que eu estava falando há dias. Vim apresentar ela pra você e pros seus pais. — Kami disse empolgada.

𝐁𝐑𝐀𝐙𝐈𝐋𝐈𝐀𝐍, 𝗺𝗮𝗹𝗼𝗹𝗲𝘆.  ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora