10 | CLARICE.

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O sinal indicando o horário de almoço fez todos os alunos saírem depressa da sala. Logo saí também, indo em rumo ao refeitório acompanhando a multidão, pois não fazia a mínima ideia de onde era naquele colégio enorme.

Quando finalmente cheguei ao refeitório depois de ter enfrentado quase uma manada de alunos, quis dar um grito quando vi o tamanho da fila. Por mais que eu seja muito paciente, filas e locais de espera me davam ansiedade. Bom, era mais uma coisa que eu teria que me adaptar.

Pego minha bandeja e logo entro na fila enorme. Aproveito para observar como era o lugar e, Meu Deus, eu estava realmente num filme de Meninas Malvadas.

As mesas eram divididas em grupos. Haviam as típicas "patricinhas", que eram garotas claramente de classe média alta que usavam roupas extravagantes e comiam apenas uma maçã ou uma barra de cereal. Haviam também os hippies, os LGBTQ+, o time de futebol, o pessoal considerado "excluído", um termo que eu odeio, e mais outras milhões de diversidades.

Eu estava me sentindo extremamente agoniada. Não me incomodava em ficar sozinha, mas será que seria assim por um longo tempo? Fala sério, eu não quero ser uma Cady Heron da vida.

Logo coloquei meu almoço na bandeja e procurei uma mesa pra sentar. Achei uma um pouco distante dos demais grupos e, milagrosamente, vazia. Ao passar por ali, senti alguns olhares sobre mim, mas já estava acostumada. As pessoas encaram estrangeiros aqui como se fossem animais exóticos.

Me sento no banco da enorme mesa e coloco minha bandeja sobre a mesma, começando a minha refeição. A salada de frango estava uma delícia e o suco era quase um orgasmo pro meu paladar. Eu amava comer.

Ouvi um barulho na mesma mesa que eu estava e de imediato senti uma presença ao meu lado. Ao encarar quem havia sentado comigo, respirei um pouco aliviada ao ver Maeve. Ainda fiquei um pouco surpresa, mas já era alguém que eu havia trocado poucas palavras.

— Essa é a hora que eu te chamo pra ser minha melhor amiga e nós saímos pela escola fazendo merda e jogando bolinha de papel nas pessoas? — Ela perguntou e eu gargalhei.

— Eu toparia. — Ela sorriu.

— Por que está sozinha? — Ela deu uma mordida em sua pêra.

— Eu não conheço ninguém, Maeve. — Dei mais uma garfada na minha sala. — A única pessoa que falou comigo foi você.

Ela parou pra pensar por uns minutos e ficou em silêncio. Continuei comendo até ela chamar a minha atenção com um pequeno susto ao dar um tapa na mesa.

— Vou te apresentar pra algumas pessoas. — Maeve disse com um sorrisinho travesso. Senti um pouco de medo.

E se ela me levasse pra conhecer um grupo de assassinos e drogados? Não quero nem pensar o que dona Eloá faria se descobrisse eu andando com esse tipo de grupo. Não era muito a minha praia.

— Que pessoas? — Falei tentando transparecer tranquilidade.

— Depois da aula, vou te levar pra um lugar. — Ela deu um beijo na minha bochecha e se levantou. Um ponto de interrogação enorme se formou na minha cabeça.

— Como assim? Que lugar? Eu te encontro aonde? — Eu disparei contra Maeve que se afastava da mesa. Ela apenas se virou e riu.

Pude ler um "na saída de emergência" em seus lábios antes de ela se virar e ir embora com sua bandeja em mãos. Eu não estava entendendo absolutamente nada, mas não perderia a oportunidade de fugir um pouco da minha rotina monótona que estava sendo a minha. Só precisava avisar Kami.

Depois de todas as aulas, o sinal de encerramento tocou e logo os corredores estavam lotados com alunos andando para lá e pra cá. Segurei minha mochila e saí da minha sala, logo vendo Maeve no corredor parada. Parecia procurar alguém. Ao bater os olhos em mim, ela apontou com a cabeça para direção contrária de onde os alunos estavam indo e começou a andar para a mesma. A segui e logo nós estávamos saindo pelos fundos da escola. Havia mandado uma mensagem de texto para Kami, avisando que ia passar um tempo com uma colega nova que fiz e ela entendeu super bem. Ainda acho que ela estava extremamente chateada comigo, mas logo iria passar. Precisava reconquistar sua confiança.

Quando vi, eu estava numa área que eu nem sabia que existia ali. Uma piscina enorme que parecia não ser limpa há um bom tempo e uma área dali onde havia um grupo de pessoas sentadas. Logo vi uma fumaça voando ao redor deles e meu corpo inteiro tremeu ao ver que estavam com cigarro, maconha e algumas bebidas. Senti vontade de sair correndo, mas talvez não fosse nada demais. Eu só estaria ali para fazer novas amizades, certo?

Ao chegar acompanhada de Maeve perto do grupo de pessoas, todos nos olharam e cumprimentaram a garota morena. Os olhares se voltaram pra mim e senti minhas bochechas corarem, e apenas dei um sorriso simpático à eles.

— Ela é a aluna nova, a brasileira. O nome dela é Clarisse. Não sejam cuzões, caso o contrário, quebro os dentes de todos vocês. — Maeve se pronunciou sem nenhuma expressão no rosto e logo olhou pra mim. — Aquela dali é a Blake, a do lado dela é a Hellen e aquele macho branco padrão é o Kyle. Esses dois — Ela apontou pra dois meninos que estavam com camisa do time de futebol. — São dois infiltrados que eu não sei o que estão fazendo aqui. Então, não sei o nome deles e nem quero saber. Fica à vontade, Clarice.

Ótimo.

𝐁𝐑𝐀𝐙𝐈𝐋𝐈𝐀𝐍, 𝗺𝗮𝗹𝗼𝗹𝗲𝘆.  ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora