Enquanto cantarolo a música Ela É Amiga Da Minha Mulher do Seu Jorge, passo a vassoura pelo chão da minha sala, retirando qualquer resquício de poeira que havia ali e também varrendo a agonia que estava dentro de mim vendo o ambiente sujo. É quase uma regra eu fazer uma mini faxina quando recebo alguém em casa ou, até mesmo, ao perceber alguma coisa bagunçada ou fora de seu devido lugar. Minha neura com organização é real.
Daqui a pouco as meninas chegariam para um almoço no qual mamãe havia as contatado. Um tradicional strogonoff com arroz, batata palha e bastante coca geladíssima retornável. Coisas que brilham facilmente meus olhos e os de Marilu e Elisa.
O fim de semana havia chegado. Ainda não tinha saído muito para socializar com os moradores e optei por ficar mais quietinha dentro de casa, vendo alguns filmes e me enchendo de sorvete de morango. Alguns dias as meninas me enchiam de mensagens para eu sair do meu ninho natural, porém eu só ignorava. Às vezes a solidão é a melhor opção sempre.
Por falar em mensagens, ainda não havia parado de receber de Nathan. Foi como se, por conta de eu não conseguir responder nenhum de seus textos, acabou que minha conversa virou um diário seu. Ele me contava dos seus dias por áudio, letras e até vídeos. Mas, todos em comum, terminavam com um "sinto sua falta", mesmo que não faça tanto tempo desde que fui embora.
Minha cabeça gira por saber que minha maior vontade é responder suas mensagens. Porém, nada é fácil como parece e por mais que meu coração grite por ele, eu realmente precisava desse tempo. Longe dele, longe das ideias que me faziam lembrar aquele dia e toda aquela confusão. Um pouco de descanso nunca foi demais e nesse caso é essencial.
O cheiro de comida pronta e quente invade minhas narinas e me faz dar um sorriso de satisfação. Assim que deixo a vassoura de lado, posso escutar o som da porta da frente abrindo e logo depois, as vozes femininas conhecidas invadindo a casa.
Eu faço um coque alto em meus cabelos e me apresso pra chegar na cozinha. Ao adentrar o cômodo, avisto as duas garotas lado a lado enquanto alugam o ouvido da minha mãe com alguma coisa. A cena me faz rir.
— Qual é, tia. É só um pouquinho! — Marilu estica seu braço em direção à panela que já estava desligada e tenta encostar no molho do strogonoff, porém recebe um tapa de advertência de dona Eloá que a faz recuar com uma expressão de dor. — Ai!
— Isso é falta de educação, Maria de Lourdes. — Mamãe a repreende e a loira revira os olhos, logo cruzando seus braços. — Vão as três bonitas arrumar a mesa pra mim, por favor.
— Claro, mas só depois que as dondocas tirarem os chinelos, porque acabei de passar pano no chão — Eu pouso as mãos na cintura e encaro o rosto das meninas. Elas me olham com deboche. — Não estou afim de fazer vocês limparem a marca desses chinelos imundos com a língua.
— Tá abusadona hein, vai ganhar o teu. — Marilu deu língua pra mim e eu lhe amostrei meu dedo do meio. Elisa nega com a cabeça.
— Vocês cansam muito a minha beleza. — A dona dos cachos diz antes de virar as costas para colocar seus chinelos ao lado da porta principal. Marilu a segue para fazer o mesmo.
Nós arrumamos a mesa e logo começamos à nos servir. Nos sentamos em frente aos nossos pratos e não esperamos mais nenhum segundo para devorar todo o almoço. Durante nossa sessão de terapia que era comer, começamos à conversar sobre assuntos aleatórios e que me rendeu boas gargalhadas. Diversas vezes, mamãe chamava minha atenção e das meninas para não falarmos de boca cheia, porém quando se trata da gente, é praticamente tudo em vão.
— Felipe quase infartou quando soube que tu tinha voltado. — Marilu começa.
— Nem lembrava que ele existia. Nunca mais me procurou desde que eu havia saído daqui. — Dou de ombros. — De qualquer jeito, nunca tivemos uma relação tão forte.
— Como não? Ele sempre gostou de você — Elisa dá uma golada em sua coca. — Você sabe.
— Prefiro me fingir de maluca — Gemo, dando mais uma garfada em meu prato.
Meu celular que estava deitado em minhas coxas começa à tocar, interrompendo nossa conversa. Deixo meu garfo apoiado no prato e levanto a tela para ver quem estava me ligando. Um suspiro escapa de mim quando vejo o nome de Nathan no visor.
— Quem é? — Marilu pergunta curiosa e eu levanto meu olhar para a mesma. Ela imediatamente reconhece e morde seus lábios nervosamente.
Elisa também entende o que está acontecendo e se mantém em silêncio. Infelizmente, mamãe não demora pra sacar e me olha com o cenho franzido.
— Pensei que tivesse bloqueado esse garoto. — Eu passo a mão no rosto.
— Não é tão fácil assim, mãe.
Ela nega com a cabeça com um rosto de desapontamento e se levanta com sua louça, nos deixando sozinhas na mesa. Eu largo minhas costas na cadeira e encaro o teto, sentindo meu peito se alastrar novamente com aquela sensação desagradável.
Minha mão é aquecida por outras em cima do meu dorso e eu olho para as meninas, que haviam colocado suas mãos sobre a minha. Elas tinham sorrisos fracos no rosto, o que me provocou um também e aliviou meu coração. São como total anestesia pra mim.
— Não gosto de te ver assim. — Marilu acaricia as costas da minha mão com seu polegar.
— Estou bem — Elas me encaram juntando as sobrancelhas. — É sério. Tentando, pelo menos.
— Bom — Elisa tira a mão de cima da minha e Marilu faz o mesmo. — Temos uma distração ótima pra ti.
— Distração? — Levanto minha sobrancelha.
Elas me olham com sorrisos maldosos e eu cruzo meus braços na altura do peito.
— Hoje é sexta, gata. — Marilu chega sua cadeira para trás e pousa os pés na mesa. — Baile de Moscou.
Eu tombo a cabeça pra trás, dando risada.
— Não mesmo, filhas — Eu me levanto. — Não vou pra lugar nenhum.
— Ah, mas vai sim. — Os cabelos dourados de Maria se mexiam conforme ela se levantou. — Não vou deixar você se trancar mais um dia dentro dessa casa. Tô quase necrosando te vendo dessa forma.
— Conseguimos um camarote com teu nome, gata — Eu arregalo os olhos com a fala de Elisa e ela dá um sorriso. — Geral tá com saudades de tu. O TH não pensou duas vezes antes de liberar o camarote pra gente.
— Nossa, não falo com o TH faz um tempão — Dou um sorriso ao lembrar de Thiago. Éramos inseparáveis, mas pouco tempo antes de eu viajar para fora, acabamos nos afastando por causa de seu novo relacionamento. A namorada dele era mega surtada e odiava qualquer mulher que tivesse muito contato com ele. — Tá, mas não muda o fato que não quero ir.
— Tu não tem querer. — Marilu me manda um beijo e pega sua louça em mãos. — Nós vamos e pronto.
Eu respiro fundo e fecho os olhos. Meus ombros caem e percebo que não há como lutar com essas garotas. Me dou por vencida, mais uma vez.
— Tudo bem. — Ouço os gritinhos delas e o som das palmas de suas mãos se batendo. — Mas, não vou voltar muito tarde. Tô muito idosa pra ficar até de manhã nesses bailes cheio de gente feia e irritante.
— Tudo que você quiser, minha linda. — A loira pisca um olho para mim e eu coloco minha louça por cima da sua, vendo que Elisa fez o mesmo.
— Você lava a louça, tá? — Digo antes de virar minhas costas e não a dar direito de resposta. Única coisa que consigo ouvir são seus gritos de raiva. Isso me faz gargalhar.
Pelo menos, uma distração em meio à tanto caos.
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𝐁𝐑𝐀𝐙𝐈𝐋𝐈𝐀𝐍, 𝗺𝗮𝗹𝗼𝗹𝗲𝘆. ✓
Fanfictionna qual clarice faz um intercâmbio em Omaha e a família Maloley a acolhe como sua host family. ⚠️: NÃO aceito adaptações.