65 | CLARICE.

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Depois de termos feito por uma sessão de fotos de todas nós, agora estávamos sentadas numa mesa da orla nos deliciando com camarões fritinhos na hora. O sol estava se pondo e o céu tinha uma coloração linda alaranjada. A brisa do mar que bagunçava meus cabelos só deixava meu espírito totalmente em paz e me mostrava que é aqui que eu deveria estar. Aqui é meu lugar. Perto do mar, da areia, das minhas amigas e do meu povo. Minhas raízes me dão uma paz inesquecível. Mamãe Iemanjá é linda demais.

As meninas tagarelavam demais como sempre, mas eu estava distraída encarando o horizonte. O sol ia embora de forma que parecia que se escondia atrás do mar. É de verdade uma cena linda. Meu coração dentro de meu peito está fervorosamente aquecido e eu me sinto em casa.

— Ei — Chamo atenção das meninas. — Eu vou dar uma volta na praia.

As duas se entreolham.

— Tem certeza que quer ficar sozinha? — Maria agarra meus dedos por cima da mesa e eu dou um sorriso fraco, concordando com a cabeça.

Me levanto da mesa deixando minhas amigas ali, se deliciando com a comida e a coca-cola fresca e começo à caminhar pela orla. Encaro ao redor e vejo os ciclistas andando pela pista e algumas pessoas também andando na beira da praia como eu. Acho que além de esportistas, muitas pessoas são amantes do mar igual à mim.

Eu tiro meus chinelos e os carrego nas mãos, descendo da calçada pra areia e voltando à andar, só que agora, sentindo meus pés sendo afofados pelos milhões de grãos claros do chão. Chego à pisar em conchas algumas vezes e não perco tempo de pegar para mim as mais bonitas. Me sinto novamente como uma garotinha indo pela primeira vez na praia.

Quando pequena, todas as vezes que mamãe me acordava cedo pedindo para que eu me arrumasse que iríamos para a praia, era como se fosse dia de festa pra mim. Colocava o meu melhor maiô da Barbie, pegava alguns brinquedos e o resto estava na bolsa de mamãe. Partíamos rumo à mesma praia de Ipanema e eu me divertia como nunca. Era como se sempre fosse a última vez. Também amava a sensação de voltar cansada dentro do carro, com agora uma roupa seca que dona Eloá tinha trago pra mim e adormecendo no ombro do meu irmão no banco de trás. Lembro que toda vez, nós sempre escutávamos a música de Tom Jobim na rádio. Era tipo uma marca eu cantarolar a melodia de Garota de Ipanema sem nem perceber.

Eu paro um pouco de andar e me sento de frente pro mar. Coloco meus chinelos ao meu lado e me sento com pernas de chinês. Meus olhos se fecham automaticamente ao sentir o vento fresco do oceano balançar meus cabelos levemente. Eu tinha certeza que era a sensação de quando se chega no céu. Uma paz imensurável.

— Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça — Canto baixo. — É ela, menina, que vem e que passa. Num doce balanço, a caminho do mar.

Eu sorrio sozinha enquanto me sinto uma garotinha feliz pelo seu primeiro dia vendo o mar de perto. Eu abraço meus cotovelos e encosto meu rosto no braço, vendo as ondas quebrarem assim que chegam na areia. Agora, em completo silêncio. Eu estava contemplando a beleza da minha casa.

Eu fecho meus olhos enquanto ouço o quebrar da maré e mentalizo algumas coisas. Desde pequena, sempre tive a tradição de pedir coisas pra mamãe Ye e pro mar. Sempre me deixavam em total paz e em segurança. É como se fosse a minha válvula de escape. Desabafar para o mar. Parece até meio patético, mas pra mim, sempre foi importante demais.

Por algum motivo, eu sinto um arrepio na nuca e logo depois ouço um barulho ao meu lado. Penso até que é algum bichinho, porém assim que abro os meus olhos pra checar, foi como um gatilho pra todo o meu corpo congelar.

As borboletas dentro da minha barriga faziam a festa. Meu coração batia dentro do peito descontroladamente e eu me segurava para que não parecesse que eu estava prestes à ter um surto de nervoso ali. Pois, por algum acaso do destino muito interessante, Nathan estava sentado do meu lado.

Sim, o Nathan. O meu namorado.

— Você tinha me dito que gostava de dançar — Ele começa encarando o mar. — Mas nunca mencionou do quanto cantava bem.

Eu puxo meus lábios numa linha fina e ajeito a flor que estava na minha orelha. É como se meus movimentos fossem contados de tão travada e confusa que eu estava.

— Você escutou? — Pergunto apenas. Ele balança com a cabeça positivamente.

— Não só eu. — Ele diz e me deixa mais confusa ainda. — Meu amigão também.

Ele assovia e olha pro lado. Terminando de me deixar em choque, eu enxergo de longe uma figura pequena de quatro patas correndo com um pouco de dificuldade em nossa direção. Eu abro a boca completamente surpresa e posso jurar que meus olhos se enchem d'água quando o filhotinho peludo se joga no colo de Nathan. Sua língua pra fora e seus pelos da cor de mel me deixam literalmente frágil.

— Eu fui no instituto e adotei. Sei que essas paradas de comprar animal é maior neurose. — Ele acaricia os pelos do filhote em seu colo. Eu ainda me mantenho em completo choque. Não conseguia dizer uma palavra. — Eu sei que tu deve tá com ódio da minha cara e não, eu não adotei um cachorro pra me redimir contigo, mas...

Ele suspira e tira os olhos do filhote que permanecia quieto em seu colo. Ele parecia entender toda a situação.

— Eu vim aqui pra nunca mais me separar de tu. — Ele pega a pochete que carregava e enfia a mão dentro da mesma, tirando dali o colar de sol que ele havia me dado e uma caixinha de veludo... amarela? — Esse pouco tempo que eu fiquei longe de ti foi desesperador, Clarice. De verdade. Eu nunca mais quero ter a sensação de que eu te perdi de novo.

Ainda sem conseguir dizer nada, eu abro a boca em formato de "O" quando ele abre a pequena caixinha na minha frente e mostra as duas finas alianças que tem ali. Nate está visivelmente nervoso, pois treme mais do que tudo pra conseguir segurar aquela caixa.

— Tu aceita ser minha musa do verão de novo, Clarice?

Trava, com os olhos lacrimejando e sem conseguir esboçar nenhuma reação, foi como se eu tivesse caído na plena realidade e deixado de viver naquele meu mundo escuro de paranóias e fantasias. O cara que eu amo estava ali, na minha frente, pedindo pra que eu deixasse todas as minhas inseguranças para estar do seu lado. Eu não queria mais nada. Eu não precisava mais de nada.

— Merda, sim! — Um sorriso pateta dança no meu rosto. — Sim, sim, sim.

Eu repito como uma criança agitada. O sorriso no rosto de Nate cresce e sua expressão nervosa é tomada por uma de alívio. O cãozinho em seu colo percebe a situação e pula do mesmo, correndo pela areia da praia e nos fazendo dar risada. Nate, com paciência, coloca o cordão em meu ouvido novamente e quando ele põe as nossas alianças, eu sinto meu rosto completamente encharcado. Esse é o verdadeiro efeito do amor.

Eu não penso duas vezes antes de pular em cima dele e beijar seus lábios com ternura. Ele segura meu rosto e aprofunda ainda mais o nosso gesto de amor. Eu era transbordada de paz, paixão e muito, muito amor. É uma sensação inconfundível.

— Eu amo você — Eu colo nossas testas depois de separarmos nossas bocas. Nate me olha surpreso. — Eu amo muito você. Eu quero ficar do seu lado pro resto da minha vida, meu bem.

Ele permanece em silêncio por alguns segundos e com o rosto tomado por choque, mas logo após isso ele sorri novamente. O sorriso que ilumina a minha vida, antes de me beijar novamente.

Eu estava no lugar que eu sempre quis. Com a pessoa que eu sempre quis e do jeito que sempre sonhei.

Ele é a minha verdadeira definição de amor.

•••

reta final, amores 🥺

votem e comentem muuuito, pois eu estou completamente cadela desses dois.

obrigada por todo o carinho que vocês tem por Malice e Brazilian. são os leitores mais fiéis que eu poderia ter! ❤️

𝐁𝐑𝐀𝐙𝐈𝐋𝐈𝐀𝐍, 𝗺𝗮𝗹𝗼𝗹𝗲𝘆.  ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora