42 | CLARICE.

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Já era noite. Eu sentia todo os pelos do meu corpo arrepiados de frio e medo por conta dos trovões altos que tremiam as janelas de vidro da casa e também pelos raios que iluminavam todo o céu, acompanhados do estrondoso som. A chuva é de vento e o barulho da água dando um banho em todo o bairro me deixavam mais assustada ainda. Não sou alguém que tem medo de chuvas ou coisa do tipo, mas definitivamente, hoje está aterrorizante.

Eu me sento na cama e abraço meus joelhos, balançando meu corpo pra frente e para trás num gesto de ansiedade. Depois da tarde tranquila que tive com Nathan, era óbvio que alguma coisa viria e me traria sentimentos ruins. Me surpreenderia se meu dia fosse nada caótico.

Ao lembrar que Nate não havia ido embora e estava dormindo no quarto de hóspedes, eu me levanto da cama num pulo e calço minhas pantufas, abrindo a porta do meu quarto com cuidado e andando em passos rápidos porém não barulhento até onde ele está. Me sinto como uma garotinha assustada com a chuva forte que só quer dormir abraçada com a mamãe e um ursinho.

Eu adentro o cômodo silencioso e escuro que só era um pouco iluminado pela fresta da janela, que estava totalmente cheia de pingos de chuva que escorriam pelo vidro. Nate estava de costas dormindo tranquilamente, porém, assim que eu abri a porta do quarto, devo ter o despertado pois pouco segundos após eu entrar ele se sentou coçando seus olhos e me encarou.

— Clarice? — Sua voz era sonolenta. — O que tá fazendo aqui? É de madrugada.

— Eu não consigo dormir. — Digo baixo, abraçando meus cotovelos que eram cobertos pelo moletom azul marinho. Nate franze o cenho como se tentasse desvendar o que me incomodava ao ponto de tirar meu sono e eu aponto com a cabeça para a janela. Assim que ele vira seu rosto e enxerga os pingos escorrendo pelo vidro, ele entende tudo imediatamente.

Ele dá um sorriso de lado e bate a palma da sua mão na cama, fazendo o sinal para que eu sentasse. Tiro minhas pantufas e ando em sua direção, me sentando na sua frente e ficando à poucos centímetros dele. Nate acaricia meu rosto e olha em meus olhos, senti um pouco de preocupação em seu olhar.

— Tá tudo bem — Digo, lendo seus pensamentos. — Só fico um pouco assustada com esse tempo.

— Então se sente segura só quando está comigo? Isso é um puta privilégio. — Ele brinca e eu rio baixo. Ele nunca perde a oportunidade de fazer uma piada.

Eu abaixo minha cabeça e, por um momento, relembro da noite passada. A atitude que ele teve me deixou extremamente chateada e por mais que tivéssemos tido uma tarde muito boa, eu não podia deixar isso passar. Não sou mulher de engolir sapo.

— Eu não quero ter que te ensinar como devo ser tratada. — Deixo escapar e levanto minha cabeça para o encarar. Nate me olha confuso.

— Como assim? — Ele pergunta.

— Você me chamou de vagabunda ontem quando sentiu ciúmes. — Ele puxa os seus lábios formando uma linha reta e abaixa a cabeça em sinal de vergonha. — Você diz que vai fazer de tudo pra me conquistar e, quando não está falando merda, diz coisas bonitas e me deixa confortável, porém não é assim que funciona. — Ele levanta a cabeça novamente. — Eu não sou sua mãe. Não quero ter que ficar te educando pra te ensinar como deve se tratar uma mulher, principalmente alguém que você se diz gostar tanto.

— Eu sei — Ele suspira. — Na hora da raiva, acabo falando besteiras.

— Você não pode se deixar agir pela emoção, Nathan. Você não pode fazer ou falar tudo que te der na telha. — Ele concorda em silêncio. — Eu não sei o quê sou pra você, e...

— Tu sabe que eu gosto de você — Ele me surpreende. — Pra caralho.

Ok, por essa eu não esperava.

𝐁𝐑𝐀𝐙𝐈𝐋𝐈𝐀𝐍, 𝗺𝗮𝗹𝗼𝗹𝗲𝘆.  ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora