Tento controlar minha respiração depois de ter dado voltas por todo o quarteirão. Encostei o pé em um muro baixo e estiquei a perna, estalando meu corpo enquanto sentia meu peito subir e descer freneticamente por conta do cansaço. Nos tempos livres, eu adorava fazer exercícios e as minhas amigas me chamavam de estranha por isso. Não dispensava comer um final de semana inteiro de besteira, mas pro meu equilíbrio, fazia milhões de exercícios depois.
Dou alguns goles na minha garrafa d'água e logo dou mais uma volta no quarteirão antes de voltar pra casa. Havia tomado café com Kami e avisado que iria sair pra correr, então ela provavelmente devia estar naquele momento trabalhando.
Subo as pequenas escadinhas que tem na frente da porta da casa e entro depressa indo direto pro banho. Não suportava ficar toda suada, me dava agonia.
Tomei um banho rápido e logo após sair com a toalha enrolada ao corpo, amarrei meus cabelos em um coque e escovei os dentes. Cantarolei a melodia de alguma música da Camila Cabello e logo entrei no meu quarto, pronta pra me jogar na minha cama e enrolar para colocar a roupa por mil anos, mas meu planejamento foi estragado.
Eu podia morrer sufocada com o tanto de fumaça que havia naquele quarto. De imediato entrei em desespero. Eu havia deixado alguma coisa ligada? Tinha esquecido de desligar a chapinha? Será que todas as vezes que mamãe me avisou que deixar o carregador na tomada depois de usar podia causar uma explosão era verdade? Milhares de coisas passaram em minha cabeça e pude jurar que estava prestes à chorar, mas logo todos os meus pensamentos se dissiparam e viraram juras de morte quando vi a cena em minha frente.
Nate estava sentado na minha cama com os Sammy, Johnson e Gilinsky, com bebidas e fumando maconha. A fumaça que deixava aquele quarto parecendo uma câmara de gás não era de queimada, e sim de marola.
Eu senti o meu sangue ferver completamente.
Numa pequena caixinha de som, eles escutavam um rap qualquer e conversavam entre si, ainda não haviam percebido minha presença. Enquanto sentia a raiva esquentar todo o meu corpo, corri até a tomada e puxei o fio que conectava a caixinha na energia, logo desligando a música. Logo eles ficaram confusos e eu dei um soco na parede, chamando a atenção deles.
— Que porra vocês estão fazendo no caralho do meu quarto?! — Eu berrei furiosamente. Os meninos me olharam de cima a baixo.
— Pra que gritar, latina? — Nathan disse antes de soltar a fumaça entre seus lábios. Eu iniciei uma contagem de um até dez para não enfiar minhas unhas nos olhos dele.
— Sai de cima da porra da minha cama com todas essas merdas antes que eu tenha um ataque, Nathan. — Ele sorriu de lado e eu olhei pros meninos. — Vocês também, porra!
— Você tá muito nervosinha. Cuidado pra toalha não cair. — Nathan comentou e os meninos riram.
Só então eu me lembrei que estava apenas de toalha. Minhas bochechas arderam como o inferno.
Eu respirei fundo e cruzei os braços.
— Eu vou contar até cinco pra vocês saírem do meu quarto.
Eles se entreolharam e logo voltaram a me encarar com um ar de deboche.
— Quem vai me tirar daqui? Você? — A voz irritante de Maloley invadiu meus ouvidos.
— Um. — Eu iniciei a contagem. Os meninos continuaram me olhando. — Dois. — Continuei. Nada de se levantarem. — Três. — Pude ver Sammy dando um gole no Whisky que havia em cima da minha cama. Me tremi inteira de ódio. — Quatro. Eu estou falando sério.
Nathan me encarou com um olhar de tédio e puxou a fumaça, logo a soltando novamente.
— Por que não se junta a nós? Aproveita e tira essa toalha, tá muito calor pra ficar coberta.
Mordi os meus lábios nervosamente.
— Cinco.
Fui até o canto do quarto e peguei meu chinelo, dando um nó na minha toalha para ela não cair do meu corpo e indo em direção à cama, batendo com o chinelo neles.
Os garotos saíram correndo do meu quarto berrando e gargalhando. Eu tinha vontade de arrancar a cabeça de um por um.
— Ficou louca, latina? É assim que sua mãe te corrigia quando rebolava a bunda no baile funk? — Nathan disse gargalhando e, novamente, minhas mãos tremiam de ódio.
E então, poderia colocar uma trilha sonora com alguma música do Tom e Jerry pois começou uma perseguição digna de desenho animado. Eu correndo atrás de Nathan com um chinelo na mão, pronta pra arremessar nele e com todo o ódio do mundo de toalha e ele correndo de mim, gargalhando e com um baseado na mão enquanto seus amigos apenas riam da cena.
— Eu vou te quebrar na porrada, caralho! — Eu berrei enquanto corria desenfreadamente atrás de Maloley. Suas risadas altas só me deixavam com mais vontade de rasgar sua garganta.
Parei em um exato canto da sala quando senti minhas pernas doerem de tanto correr e Nathan parou em frente à porta. A primeira e única coisa que passou na minha cabeça, eu agi na mesma hora. Arremessei meu chinelo em direção de Maloley e a cena que presenciei era muito digna de um filme de comédia.
Nathan desviou do chinelo e pra surpresa de todos, a porta foi aberta com a chegada da sorridente Kami, que senti meu peito doer ao ver que aquele sorriso se desmanchou quando meu chinelo acertou o seu rosto. Um perfeito "O" se formou na boca de todos presentes naquela sala, inclusive na minha. Os próximos segundos foram extremamente silenciosos e um suspense terrível reinou naquele lugar. Eu senti vontade de gritar de tanta vergonha. De ódio de mim mesma e daqueles diabos de garotos.
— Que merda está acontecendo aqui?! — Foi a primeira vez que vi Kami gritar.
A vergonha me corroía.
— Kami, pelo amor de Deus, me desculpa! Eu não queria te acertar, o Nathan, ele estava fumando no meu quarto com os garotos, e eu saí do banho... Eu... Pelo amor de Deus, me desculpa, puta que pariu! — Eu me embolei nas minhas próprias palavras.
Kami me olhou com um olhar de reprovação e logo repassou esse olhar pra todos presentes ali além de mim. A mulher largou as sacolas que carregava no chão e saiu pisando fundo para seu quarto.
Eu afundei meu rosto nas mãos e uma vontade de chorar berrou dentro de mim. Encarei por uma última vez para aqueles garotos naquela sala com todo o ódio e desprezo do mundo e me direcionei para o meu quarto novamente, enquanto escutava as risadas de fundo. Bati a porta com força e fui em direção à minha cama, afundando meu rosto no travesseiro e berrando no mesmo, assim abafando o som.
Que ótima primeira impressão, Clarice.
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𝐁𝐑𝐀𝐙𝐈𝐋𝐈𝐀𝐍, 𝗺𝗮𝗹𝗼𝗹𝗲𝘆. ✓
Fanfictionna qual clarice faz um intercâmbio em Omaha e a família Maloley a acolhe como sua host family. ⚠️: NÃO aceito adaptações.