17 | CLARICE.

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Me sentei na escrivaninha branca que havia em meu quarto e abri o notebook, colocando no Skype e ligando pra Marilu. Esfreguei minhas mãos uma na outra em sinal de nervosismo e fiz rapidamente um rabo de cavalo em meus cabelos enquanto o toque de chamada apitava, mostrando que a ligação estava em andamento. Senti meu estômago gelar quando vi minha tela ser preenchida por aquelas duas meninas que estavam sendo minha maior saudade nos últimos dias. Marilu havia me dito que Elisa estava em sua casa então de imediato eu quis ligar pra elas. A falta gritante que eu sentia delas era inacreditável.

— Puta que pariu, parece que faz cem anos que eu não te vejo. — Marilu falou sorrindo e eu ri.

— Mas tá sendo quase isso. Como vocês estão?

— Ih, menina — Elisa se debruçou na mesa. — Nem te conto.

— Me conta sim. — Bati com a palma das mãos na mesa. — Bora, tô esperando.

— O Felipe, tá pelos bares da favela bebendo e chorando com saudade de você. — Marilu disse enquanto Elisa pegava uma lixa de unhas e lixava as próprias. — Porém, tá pegando todo mundo. Principalmente aquelas piranhas da rua cinco.

— Amiga, piranhas não. — Revirei os olhos. — Ele que é um sonso, ninguém quer ele então sai pegando qualquer pessoa.

A rua cinco era uma rua da onde eu morava que fazia ligação entre a parte alta e a parte baixa da favela. Então, ali passava absolutamente todo mundo pra subir e descer. Inclusive diversas meninas.

— Ai Clarice, você é muito politicamente correta. — Marilu revirou os olhos. — Piranhas mesmo, só não taquei uma pedra na casa da Jéssica porque eu tenho preguiça.

Aquela fala dela me fez gargalhar. Essas meninas eram loucas.

— E aí, como tá sendo? — Elisa perguntou com os olhos curiosos.

— Tá sendo incrível. — Soltei um suspiro. — Mas algumas coisas estão me fazendo ter vontade de cometer um assassinato.

— Ih, garota, tá amarrado — Marilu fez o sinal da cruz. — O que aconteceu?

— O filho da minha host mom tá infernizando a minha vida. — Me joguei na cadeira. — Eu não sei de verdade qual é a dele. Uma hora está sendo "legal" comigo — Faço aspas com as mãos. — Outrória está sendo um baita babaca.

— Ele tem pau grande? — Elisa deu um tapa no braço de Marilu. — Ai, caralho. O que foi?

— Eu sei lá, Maria de Lourdes. O que eu sei é que falta muito pouco pra eu arrastar minhas unhas na cara dele.

— Ou nas costas — Marilu sorriu de lado. — Isso tá me cheirando amor e ódio.

— Ai, amiga. Vou ter que concordar com ela. — Elisa falou.

— E eu pensando que vocês iam falar pra eu jogar água fervendo no ouvido dele durante a noite. — Elas riram.

— Cara, eu conheço esse tipo de homem. Uma hora tá sendo legal, na outra se transforma em um puta cuzão. Ou ele quer te comer e tá se fazendo de sonso pra te confundir até te dar o bote, ou ele só tem algum tipo de transtorno bipolar.

— Ele te dá algum sinal de que quer te comer? — A sobrancelha de Elisa se arqueou. Eu engoli em seco. 

— Pra falar a verdade, sim — Apoiei o rosto nas mãos. — Muitos sinais.

— Sem mais perguntas. — Marilu pegou um martelo de pelúcia que ela tinha do Thor e bateu na mesa, como se estivesse encerrando um julgamento. — Ele quer sua Clarissinha.

— Pelo amor de Deus, Maria de Lourdes — Arregalei os olhos. — Esse cara me dá nojo.

— Quero uma foto dele agora. — Elisa disse e Marilu também concordou. Bufei e peguei meu celular, pegando uma foto dele de uma rede social qualquer e mostrando à elas. A boca das duas se transformou num perfeito "O" em sincronia.

— Que puta cara gostoso, Clarice! — Marilu se abanou. — Porra, eu não tenho nem xota o suficiente pra dar pra um homem desse.

— Eu fazia a pica dele de trampolim. — Elisa disse com um sorriso safado. Eu bufei.

— Não sei o que vêem nele, não tem nada demais e ainda fede à maconha.

— Melhor ainda. — Marilu esfregou as mãos uma na outra. — Dá pra perceber que você também quer ele, Clarice. Para de bancar a difícil.

— Eu não quero. Ele me dá nojo.

— Então, vamos fazer o seguinte — Marilu começou. — Final de semana, iremos te ligar de novo. Se até lá você não ter ficado com ele, eu vou postar uma foto com a bunda pintada de batom. Mas, caso o contrário, você vai ter que fazer uma tatuagem na bunda.

— Você enlouqueceu, Maria de Lourdes. — Eu gargalhei. — Mas ok, eu topo.

— Tudo bem então. — Marilu fez um toque de mãos com Elisa.

— Eu vou estudar agora. Tenho que desligar. — Mandei beijos no ar pra elas. — Eu amo vocês demais. Se cuidem e, qualquer coisa, me mandem mensagem.

— Sabemos. — Elas falaram em uníssono.

— Também amamos você. — Elisa fez um coração com as mãos e eu sorri, logo encerrando a vídeochamada.

Marilu iria passar uma vergonha daquelas, pois ela só podia estar louca que eu me renderia aos charmes de Nathan.

𝐁𝐑𝐀𝐙𝐈𝐋𝐈𝐀𝐍, 𝗺𝗮𝗹𝗼𝗹𝗲𝘆.  ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora