40 | CLARICE.

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Me encosto no vidro que separava o precipício do prédio da cobertura e dou uma golada da minha Heineken enquanto olho toda a cidade iluminada. Os carros e motos passavam lá embaixo junto com as pessoas nas ruas e devido a altura que eu estava, era como se eu tivesse olhando pequenos pontos de luzes se movimentando enquanto sentia a brisa fresca bater em meu rosto.

Estava na sacada do hotel de Ethan junto do pessoal. Mas, a diferença, é que agora Marilu e Elisa não estão mais aqui. Então, era apenas eu, Sammy, Ethan, Lox, os Jacks e Nathan. Estávamos bebendo e comendo, mas a piscina também estava liberada. Porém ninguém está bêbado o suficiente para querer se jogar na água gelada num frio desse.

Meu pescoço se esquenta e minha nuca é beijada levemente. Os braços conhecidos contornam minha cintura e me apertam contra o corpo que está atrás de mim. Dou um sorriso fraco quando Sammy beija minha bochecha.

— Por que tá sozinha? — Questiona com a voz baixa no pé do meu ouvido.

— Gosto de ficar. — Digo após balançar meus ombros. Sammy me vira para ele e me olha nos olhos.

— Você tá estranha.

— Não estou. — Dou mais um gole da minha garrafa. Sammy suspira.

— Eu te conheço.

— Chega disso, Samuel. — Falo suavemente. — Já está mais do que claro que você tá criando expectativas e nós não queremos isso.

— Eu quero isso, Clarice. — Ele segura minhas mãos. Eu fecho os olhos e respiro fundo. — Desde o início, eu sempre quis que nós...

— Não existe nós. — Digo duramente. Sammy me olha em silêncio e eu desvio o olhar. Ele nega com a cabeça e solta minhas mãos.

— Se mudar de ideia, sabe que estou aqui. — Ele dá as costas. — Ou se quiser transar, tanto faz.

Não respondo nada e o deixo ir pra perto dos meninos. Me viro novamente pra vidraça e passo a mão pelo rosto, tirando meu cabelo da frente e o pondo atrás da orelha. Por mais que eu odiasse ter que tomar esse tipo de decisão da maneira mais fria possível, eu não aguentava mais esse grude. Sammy é, de verdade, o cara que toda garota sonha em ter. É carinhoso, atencioso, prestativo e sem contar que faz você se sentir a mulher mais especial do mundo. Mas, nosso santo não bate, de qualquer forma. Por mais que eu ame ser mimada, eu odeio melosidade e que não respeitem meus limites, e era exatamente isso que ele estava fazendo.

Se eu digo não quero ter nada sério com ele, era isso que seria.

Dou uma olhada em volta da cobertura e vejo Nathan encostado na ponta contrária fumando um baseado, também encostado na vidraça. Opto por não ficar sozinha e caminho até o seu lado, me apoiando na barra de ferro que segurava os vidros.

— Gosta tanto assim da solidão? — Pergunto e não obtenho resposta.

Nate puxa a fumaça do seu baseado e a solta pouco tempo depois, deixando a mesma se esvair no ar enquanto olhava pro horizonte.

Pego o baseado da sua mão e dou um trago no mesmo, dando um sorriso fraco ao esperar por sua reação de provavelmente me xingar mas, por incrível que pareça, ela não veio. Franzo meu cenho levemente, notando que havia algo de errado. Nate, por mais que fosse alguém de poucas palavras, não costumava não responder minhas perguntas e até era bem mais tranquilo quando estava comigo.

— O que aconteceu? — Eu solto mais fumaça entre meus lábios enquanto olho para o cara ao meu lado.

Mais uma vez, não obtive respostas.

— Tá surdo, Nathan? — Eu encosto em seu braço e, bruscamente, ele agarra meu pulso com força enquanto me encara friamente.

— Tá maluca? — Ele pergunta e eu fecho a cara no mesmo instante.

— Me solta, porra! Quem você tá achando que é? — Eu puxo meu braço de sua mão e Nate me solta, pegando seu baseado de mim e novamente fingindo que não estou ali. — O que deu em você? Voltou ao modo Nathan de fábrica?

— Sou obrigado a ser legal contigo não, Clarice. — Ele puxa a essência da maconha.

— Ser educado e me responder quando falo com você não mata ninguém. — Eu resmungo. Ele não me responde.

Eu reviro meus olhos e viro minhas costas pra sair dali, mas a frase na qual ele diz me faz parar.

— Tu é muito sonsa mesmo. — Eu me viro novamente e o encaro, cruzando os braços na altura do peito.

— Sonsa é o seu cu. — Nate me olha com o cenho franzido. — Por que você tá agindo dessa forma comigo?

— Tu fica cheirando o cu do Samuel pra cima e pra baixo e depois vem falar comigo como se nada tivesse acontecido. Se for pra ser vagabunda, pelo menos me avisa pra eu me preparar psicologicamente pra você me usar.

O baseado que estava na sua mão caiu da mesma e despencou lá de cima assim que minha mão entrou em contato com o seu rosto num tapa estalado. Nathan fechou os olhos e puxou seus lábios pra dentro, respirando fundo e tentando demonstrar que aquilo não havia o agradado nenhum pouco. Todos que estavam ali, presenciaram a cena e nos encaravam chocados.

— Eu estou pouco me fodendo se você tá enciumado e quer manter uma postura que não é sua na frente dos seus amigos. Eu não sou uma vagabunda por fazer o que eu quero, muito pelo contrário, sou uma mulher solteira e bem consciente do que eu faço e não faço. Eu não te devo porra nenhuma, Maloley — Eu grito a última frase e jogo a garrafa que estava em minhas mãos no chão, que fez um barulho alto ao se quebrar em pedaços. — Vai se foder.

O álcool fazia efeito em mim porém o efeito era totalmente abafado pela raiva que eu sinto naquele momento. Sob os olhares dos outros, saio pisando fundo e corro até o elevador, entrando no mesmo e digitando o andar do térreo. À medida que as portas se fecham, vejo Nathan andando rapidamente até mim, porém não adiantou de nada pois assim que conseguiu chegar perto, as portas se fecham e sou levada para baixo. Eu me encosto na parede e fecho meus olhos, deixando as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Não chorava de tristeza ou decepção, mas sim de raiva e desgosto. Eu não sei até quando homens não taxar mulheres de nomes horríveis por simplesmente agir como eles ou fazer o que bem entenderem. Nathan estava mostrando ser uma pessoa diferente da qual ele demonstrou ser quando cheguei aqui mas, como sempre, ele cortou todas as minhas expectativas e mostrou que uma vez babaca, sempre babaca. Não sei o porquê eu ainda acredito na mudança das pessoas.

Assim que chego no andar, saio correndo para a calçada e aceno pra um táxi que se aproximava. Enquanto ele se aproximava, ouvia meu nome ser chamado baixo e o volume dos gritos foram aumentando conforme a pessoa foi se aproximando. Nathan havia decido pelas escadas e, surpreendentemente, conseguiu chegar ao mesmo tempo que eu.

O táxi chega e eu abro a porta do mesmo, sendo interrompida quando meu pulso é agarrado pelo garoto. Eu travo meu maxilar.

— Eu vou gritar.

— Qual é, Clarice. Vamos conversar.

— Se você não me soltar agora, eu vou fazer um escândalo e você sabe que eu faço mesmo.

Nate me encara com uma expressão dura no rosto antes de me soltar e me permitir entrar no carro. Bato a porta e dou uma última olhada pro rosto do cara, que agora, tinha a tristeza evidente nas sua cara. Eu suspiro e passo meu endereço pro moço, que começa à dirigir e deixa Nathan plantado ali.

Em meio à esse caminho, deixo as lágrimas descerem sem pudor. Merda, eu odeio Nathan Maloley com todas as minhas forças.

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atualização dupla pq simmm

𝐁𝐑𝐀𝐙𝐈𝐋𝐈𝐀𝐍, 𝗺𝗮𝗹𝗼𝗹𝗲𝘆.  ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora