56 | CLARICE.

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Meus pés descalços entram em contato com a areia clara da praia assim que eu piso em seu território. Com meus chinelos brancos em mãos, eu caminho e deixo pegadas afundadas no chão, marcando um caminho na direção em que eu passeava. O som das ondas quebrando assim que chegam à terra acalmam meus coração e o vento frio bagunça meus longos cabelos. Enquanto eu ando, não perco tempo em encarar um pouco o céu e contar as estrelas que fazem um caminho lindo e extenso por toda a escuridão da noite.

São, no mínimo, duas da manhã. É mais umas das "fugidas" que eu dou de madrugada junto de Nathan sem ninguém saber para fazer qualquer coisa aleatória, apenas pra substituir uma noite de insônia olhando fixamente pro teto. Sempre que tínhamos essa ansiedade noturna, bastava apenas uma mensagem de texto que em poucos minutos já estávamos dentro de seu carro, gargalhando com uma música alta e indo rumo à um destino qualquer. Por incrível que pareça, Kami nunca percebeu por conta do seu sono extremamente pesado. Por mais que lá no fundo eu soubesse o quanto isso era errado, a sensação da liberdade de poder desfrutar da minha juventude fazendo coisas proibidas, era sem dúvida instigante e completamente insaciável.

E eu, totalmente louca, encontrei alguém que topa todas as minhas loucuras e ainda faz adição à todas elas.

Enquanto eu ando pela areia, escolhendo algum lugar para me sentar que eu não sentisse tanto frio como estava sentindo, Nate me seguia lentamente. Eu falo incansavelmente sobre as estrelas, apontando para cada uma delas enquanto ele apenas presta atenção nas minhas palavras e ri. É como se fosse um aluno do maternal prestando atenção em qualquer desenho complexo que a professora fazia no quadro e descobrindo algo novo. É divertido demais ter alguém que concorda com todas as minhas loucuras e nunca nem sequer abriu a boca para contrariar os meus delírios.

— Apontar pra estrela dá verruga — Eu me viro para ele com o cenho franzido e continuo andando para trás lentamente. — Sério. Minha mãe sempre me disse isso.

— Então você é supersticioso? — Pergunto com um sorriso e ele nega com a cabeça.

— Só digo os fatos.

Eu logo paro de andar e forro a aconchegante canga com um desenho grande de yin-yang e me sento na mesma com pernas de índio. Nathan faz o mesmo e se senta um pouco atrás de mim, colocando a caixa de pizza no meio de nós junto do refrigerante. Dou um gritinho animada ao abrir a embalagem quadrada de papelão e dar de cara com uma deliciosa pizza de frango com catupiry.

— Com borda de cheddar que você gosta. — Nate levanta sua cabeça para olhar pra mim e eu assenti entusiasmada.

Pego o pequeno cortador de pizza e divido a massa em fatias médias. Logo, não espero mais um segundo para pegar a minha em mãos e devorar com vontade. Chego à soltar um suspiro quando sinto o queijo e o frango se desmancharem na minha língua. É maravilhoso o fato da fome da madrugada ser tão imensa e, pela primeira vez, ter realmente algo diferente para comer.

— Pelo amor de Deus, eu quero ficar aqui pra sempre. — Digo de olhos fechados ainda saboreando o alimento na minha boca. Ouço uma risada fraca de Nate.

— Como se só uma dessa pudesse te satisfazer. — Eu abro meus olhos. — Buraco sem fundo.

— Seu cu. — Eu jogo um pouco de areia em seu colo e ele faz uma careta pra mim. Continuo saboreando do meu pedaço até o mesmo acabar.

Percebo Nate me encarando e eu passo a língua nos lábios, levando minhas mãos até a caixa da pizza e pegando mais uma fatia.

— O que quer perguntar? Pode falar. — Falo e dou uma mordida na minha pizza enquanto o olho. Ele nega com a cabeça levemente.

𝐁𝐑𝐀𝐙𝐈𝐋𝐈𝐀𝐍, 𝗺𝗮𝗹𝗼𝗹𝗲𝘆.  ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora