Via e revia o papel – aquela pequena parte deste. Algumas horas se passaram e, honestamente, se perguntassem-no, estaria sentindo falta de uma pessoa – tinha certeza. O que, para si, era estranho; sentir saudade de alguém que não se recorda é como – cogitava - andar descalço no escuro: frio e inesperado; incerto. Todavia, existia um laço, não? Por que ele mentiria? – ponderava sabido - E por que me sinto assim? – Dizia olhando ladino, ao canto da cama, esperando que as peças se encaixassem. Não houvera nada, porém. Ele, talvez, expulsaria o tédio que se apossara do quarto e, mesmo que não houvesse som algum, teria algo com que entreter-se. Bufou e – de relance –, em mente, conseguia notar uma imagem peculiar: xícaras acima de uma mesa baixa, e alguns papeis, ali, espalhados. Rápido e confuso. Sua mão fora à testa tentando conter, de imediato, a dor. A porta, afrente, abriu-se e não se importou a olhar; não conseguia de qualquer forma.
- Sentindo alguma dor? – Com a voz rígida, fechava, cuidadosamente, a porta.
- Sim, mas... – sugeriria - Uma lembrança, talvez? – Jungkook questionava-o o fitando. O médico aproximou-se, colocando um objeto ao ouvido, e tocou-o por debaixo do tecido cerúleo. Aquele sentiu-se arrepiado pelo toque do estetoscópio frígido; não poderia desvendar a feição dele, aparentava, em demasia, concentrado. O pedira, em seguida, que encarasse a luz que emanava de sua pequena lanterna de bolso e sua visão doía – não a encarara por mais de dois segundos. Procedimentos que deveria cumprir. - Estamos fazendo progresso – disse voltando a guardar seu estetoscópio ao bolso -, e, certamente – o chamara a atenção -, suas lembranças vão voltar com o tempo e já estão, suponho. Jungkook desejaria perguntar do porquê de elas doerem, contudo, preferiu omitir. Não entendera, mas escutaria seu íntimo: "era melhor assim".
Ponderando, escutando o rabiscar da caneta sobre o papel: queria livrar-se daquele lugar. Aquela cama com uma terrível maciez, as peças de roupa que exalavam um amaciante extremamente doce, a aparência triste daquele local e, não obstante, solitário, fazia-o querer voltar para sua própria casa – mesmo não recordando-se do seu aspecto, um tanto, porém, análogo. Sabia, contudo, minimamente, onde a situava. Um começo. Enquanto tocava a nuca – tenso -, sentindo o calor da própria pele, o quebra-cabeça começava a fazer-se claro; não, decerto, conseguia juntar uma peça à outra, entretanto, sabia quais eram. A pergunta era óbvia e queria fazê-la desde aquela manhã – quando o vira partir -, sentia-se mais próximo de si – mesmo não sendo capaz de explicar. Enchera os pulmões de ar – irritou-se, um pouco, com o cheiro – e ousara chamar a atenção do médico – uma singular tossida forçada -. O som das anotações acima do papel cessara e, agora, herdava toda sua atenção, fitando-o sobre os óculos.
Hesitou por um momento, ainda não conseguia comunicar-se espontaneamente: – quando poderei ir para casa? – questionava direto. Eu não deveria – dizia brincando com os dedos – estar num lugar em que eu pudesse recordar de tudo? – finalizou lentamente. Nenhuma resposta adveio do outro. Jungkook encarava-o e as engrenagens funcionando detrás de sua cabeça eram notáveis; está-lo-ia formulando uma resposta? Explicaria quão burocrático seria? A resposta seria negativa? O caso seria mais complexo que pensara? - "Sim", de fato, era a resposta para todas. Não era de sua índole, todavia, esconder o quadro de um paciente; descreveria os detalhes e anunciava a verdade, mesmo que esta doesse. Este paciente, entretanto, Jungkook, era diferente. Não que se implicava menos; ao contrário; por trás daqueles olhos rubros e engrenagens corroídas, havia anseios legítimos recorrentes. Um cuidado especial. O médico espirou e podia-se notar que ele vacilava em meio as palavras - ou tentativas delas -; Jungkook observava, contudo, que o silêncio se propagara tempo demais, havia, decerto, algo errado. E assim existia. Prostrou-se a caminhar, os olhos esperançosos o seguindo, e direcionava-se para uma pequena gaveta com uma fechadura no centro, à esquerda; o barulho das chaves cintilando uma à outra faziam-no cair em completa confusão - cerrava a sobrancelha -, esperando a centelha de resposta. Ao girar da chave, após colocada à abertura, Jungkook sentira, no entanto, um sentimento antigo – aquele som característico – onde ouvira tal som antes? O doutor puxava um envelope – colorido em beije escuro e um precário tamanho -, sua feição, ainda indecifrável, permutava entre apreensão e inquietação; os dedos brincavam segurando-o. Jungkook engolira em seco.
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I HEAR YOU
Fanfiction~ TAEKOOK FANFICTION ~ Completa. Taehyung gostaria de ouvir os batimentos do coração de Jungkook, mas como poderia? "Tudo se esvaiu e Taehyung se encontrara novamente na calçada daquele supermercado, Jimin ao seu lado balançando os braços...