Chapter XLI

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      A poltrona era tão desconfortável quanto o leito que habituava deitar-se. A textura de couro vermelho vinho, com espaço para descansar os braços eram, simplesmente, demais. Demasiadamente ruim. Bonita, era sem dúvida, contudo, o cheiro não era comum de outros assentos; ou, talvez, em hospitais, todo odor era diferente. E, de fato, era. Acostumar-se-ia, todavia. Os livros, ao fundo, encaixados à toda parede, seguindo um padrão de cor e organizadamente colocados, assemelhavam-se à uma biblioteca – era inspirador -; impressionado, sentira-se mal, pois não se recordou a última vez que lera um livro ou tocara em um. Esforçou-se; e nada. Afrente, outra cadeira – essa parece mais confortável – cogitara. Aquela de couro escuro e encosto alto com mosaicos circulares na ponta, o fez engolir em seco – intimidador, não? Ao centro, a mesa o trazia confusão porque o lembrava de outra – indiferente ao tamanho, apenas –; gostaria de recordar-se onde a vira e os amontoados de papéis acima daquela. Bufou, retirando o ar pesado do peito – estaria fazendo algum progresso? Uma pena, a luz adentrava pela janela ao lado e às cortinas lisas abertas, porém, apenas isso; deveras desejaria que estivesse aberta e pudesse respirar a brisa natural da manhã. Fora mandado para ficar assentado, esperando, mais precisamente. Era a hora de sua consulta.

      Bom dia – soou a voz feminina detrás de si, espantando-o; não pôde ouvir o abrir da porta. Não o dava a chance para responder. – Começaremos breve – dizia enquanto adentrava à sala ao som oco dos passos sobre o salto escuro de camurça. Pôs-se, em seguida, a escancarar a janela, ora fazendo a cortina, os fios do cabelo voarem em concordância com o vento. O garoto respirara fundo com os olhos fechados – estaria agradecendo ao mesmo tempo. Folha em mãos, checava o nome após confortavelmente assentada em sua frente, pernas cruzadas – Sr. Jeon. – Jungkook, por favor – a corrigira imediatamente, não era afetuoso a esse nome, trazia desconforto até, apenas ao lê-lo. Assentira, fitando-o sobre os óculos de grau grandes arredondados. Me chame de Bonnie – disse com um sorriso convidativo à conversa. O cabelo, não evitou notar, era diferente; o amontoado era lindo, os fios encaracolavam-se em harmonia – não sabia dizer. Era afro e era divino. Não era, ela, obviamente, de lá; vinha de longe. Não se incomodou, pelo contrário, ficara contente de notá-la e daquela estar com ele. Assemelhava-se mais calma e aberta para tudo que havia no mundo. Tranquilizou-se por isso. Um pouco.

      Inclinou-se, ela, e apossou-se de um bloco de notas – as folhas amareladas – sobre a mesa diminuta afrente, e a caneta excepcionalmente profissional, ponta macia. Então, Jungkook - buscava a atenção do garoto –, vamos começar agora. Se importa – continuava – se eu gravar esse encontro para estudos futuros? – Não esperava, de primeira, por tal pergunta; Importava-se? – matutava encarando os cantos. Não sentia nada a respeito. Apenas negou. Com o indicador sobre um botão azul, completou: - Farei perguntas, apenas, e tente, por favor, ser o mais sincero possível. Assentira tímido, segurava o braçal nervoso. Ouvira, em resposta, então, o gravador e suas engrenagens funcionando sobre a mesinha. Respiraram fundo; - Vamos pular a introdução, os li no formulário preenchido, tudo bem? - Estranhou. Jungkook não se recordava de preencher nada.

      - Por que você está aqui, Jungkook? – engoliu em seco, espantado. Esperava, admitia, perguntas mais simples. Estava a postos para escrever qualquer palavra que pronunciasse.

       - Eu – a voz baixa, tossia forçoso enquanto matutava -... Eu preciso estar aqui – tentava novamente – para que eu possa sair. Recebeu, em retorno, uma risada pequena da psicóloga. Reiterou: - Desculpe, eu deveria explicitar o contexto. Eu quero dizer no geral, na sua vida, por que está aqui? – Enfrentou os próprios pés; como responderia àquilo? Por que estou aqui? – ressoava a pergunta em sua mente; - Não sei – entristeceu-se ao dizer. A mão da mulher, calmamente, dançava sobre o papel. Está tudo bem, garoto – incrementou ao vê-lo -, está indo bem.

       - Em uma escala de "um" a "sete", sendo sete o mais alto, quão feliz você acha que está? – Esta, para ele, não fora tão difícil quanto à primeira. Entretanto, não tinha uma resposta definitiva; diria conforme acreditava como sentia-se: - Tenho momentos que me sinto muito bem, no mais alto, no "sete" – dera uma pausa -; e existem momentos que me sinto deteriorado – brincava com os dedos -, como se as coisas boas se esvaíssem de mim. – Hm – ressoava intrigada. Havia, com certeza, atendido pacientes com sintomas parecidos, a repetição de respostas, a mesmice, porém, cada um era peculiar de sua forma. Endireitou-se na cadeira. – E o que te faz atingir o "sete", Jungkook? – Interrogou-o; era visível o desconforto em seu semblante jovial cansado, a mente em busca de uma resposta íntima, ou o conjunto delas para chegar à outra. Fitava o canto da sala, não a encarava, pois sentia-se pressionado de, somente, estar ali. – Ou alguém? – Acrescentou o surpreendendo. Pela sua reação, ela soube a resposta.

      - Em qual contexto? – engoliu em seco; dera-se conta da pergunta vaga para o contorno do assunto.

      - É o bastante para começar – dizia, a mulher, conquanto riscava o papel amarelado. Reparou, depois, como o garoto, cabisbaixo, limpava as recentes lágrimas que ameaçavam cair e manchar sua blusa. Jungkook – pôs-se a dizer, calma, chamando-o -, durante meus anos de experiência e estudos na Universidade, fui ensinada que não devemos permitir que os pacientes se apoiem em outras pessoas – Jungkook a fitava atento, os olhos marejados arredondados -, pois estas são como aquelas: fracas e falhas. O silêncio instalava-se e pôde-se ouvir a cantoria dos pássaros além, afora dali; Jungkook não compreendia, por completo, a razão pelo que queria tanto chorar. Não, neste momento, já chorava, e, tão-somente, conseguia matutar em uma pessoa e a falta de outra que nunca teve. Bonnie levantou-se e o trouxe papéis descartáveis para que pudesse exaurir-se das lágrimas; as pegou dentro da mobília mediana no canto oposto da janela; madeira maciça. – Todavia, meu caro – continuou, em seguida, assentando-se -, depois de conviver com todas essas pessoas, eu percebi que há, sim, excessão. As pessoas precisam uma das outras – Ela fitava o céu através da abertura da janela. – Precisamos? – Jungkook, com a voz embargada, questionava-a. Séria, o encarou – Com certeza, afinal, então, por que existe o amor? A amizade? A família? Riu ladino. – Quero dizer que se você precisa de alguém, e este alguém não vê problema em ajudar, por que não a manter por perto? – Jungkook notou o "a", mas largou a preocupação repentina de lado. – Você entende isso? – finalizou e o garoto assentia. De fato, compreendia o que ela queria dizer.

      Jungkook, da culpa que carregava sobre os ombros, não se recordava; o pensamento errôneo de estar com outro e outros impasses que vinham daquele. Agora, porém, sentia-se diferente, o problema não era ele, ou dele; incrível, como as coisas aparentam ser, e como elas realmente são, era. Levantava a mão e a passava sobre o hematoma que existia em sua testa, abaixo da franja escura; a imagem, em mente, do homem segurando uma garrafa tornava-se clara, os aspectos e os medos do momento, no imo peito, aglomeravam-se. Ah! Recordou-se de seu pai. O assombro. A face espantosa e as lágrimas secas sobre as bochechas traziam o desencanto, o receio por aquele homem com quem sonhava noites, longas, passadas. Não compreendia, contudo, do porquê de tal ação; os momentos anteriores aqueles eram vagos. Não compreendia, também, do porquê estar este calmo. Não deveria estar com raiva fulminante e gritando? Procurava uma resposta oculta. Droga – pensou. Aquietou-se, entretanto, aparentemente. Por que?

      - Meu médico disse – começava nervoso, as mãos juntas, outro assunto – que você pode me liberar; digo – corrigia-se -, se achar cabível, eu poderia retornar para minha casa.

      - Se...? – Intercedeu posicionando os óculos sobre o nariz, tinha conhecimento do procedimento.

      Bufou de lado – Se eu retornar e continuar a fazer as consultas. – Certamente – ela disse rápido. Mas – perguntava convicta – você estaria pronto? Pronto para enfrentar o desconhecido, todo o emaranhado de tudo aquilo que um dia era normal e que, agora, deixou de ser, todas retornando de uma só vez? Engoliu em seco, Jungkook – matutou encarando os cantos, o teto, os olhos brigavam por um foco, as linhas avermelhadas e o roxo escuro sobre a pálpebra. A encarou confiante, como a muito tempo – não se lembrava, na verdade – não o fazia. – Certamente – disse -, não estarei sozinho.

      Sorria para ele, orgulhosa. Ela ajudava-o, era ele mesmo, todavia, que curava-se.

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