Chapter XXXIII

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      Quem poderia ser? – Perguntava-se com uma frieza cobrindo seu estômago. Os lábios trêmulos querendo proferir algum som; alguma reação, porém, não poderia mesmo se quisesse. Conseguia notar o homem movendo sua boca violentamente; impaciente; cambaleando, apoiando-se à porta; articulando quaisquer atrocidades que nunca ouvira, mas tinha certeza que não poderia ser algo agradável. O cheiro invadia suas narinas, o teor amargo e apodrecido fixava atrás da língua, percorrendo garganta abaixo, criando uma demasia vontade de vomitar. Inspirava pela boca, e dera um passo, imparcial, para trás. Era insuportável estar próximo de ele. As roupas estavam emporcalhadas: a blusa clara, rasgada ao ombro esquerdo, tornava-se escura pelo uso constante e desgaste; a calça cor preta, provavelmente, escondendo os traços sujos; e descalço, evidenciando que não usava um calçado por algum tempo, não importando o solo que pisasse. À mão, uma garrafa quebrada, segurando pela ponta como um bastão para machucar. A questão era: teria ferido alguém? Taehyung engolia em seco.

      Seus olhos buscavam, ligeiro, amplamente, alguma pista donde se encontrava. Fitava os arredores. Devia estar no lugar errado. Todos os andares seguiam um padrão, certo? – Tentava mentir, confortando-se. Então, poderia estar enganado e ter errado de entrada. E torcia para que estivesse. O número à porta, infelizmente, era o mesmo; seus traços rústicos eram aqueles do qual lembrava-se. Era o apartamento de Jungkook. O pavor ia além do que poderia medir, todavia, não conseguia expressar. Estava preso dentro de si mesmo. Observava além da figura infeliz, dos olhos turvos, os cacos do vidro despedaçado espalhados pelo chão molhado pelo líquido, talvez, da garrafa que empunhava; a vontade era entrar na casa e certificar-se que não havia ninguém machucado era enorme, entretanto, o medo acobertava qualquer pensamento que envolvia mover-se. No canto inferior, porém, escondido, parcialmente, detrás dos detalhados cômodos, percebeu uma corpulência largada – seus olhos esbugalhavam-se com a desacreditada visão -; imóvel; a cor pálida; borrões roxos e linhas avermelhadas seguindo pelo braço. Seu corpo desligou; os sentimentos de medo, a tremura, a frieza se foram. A singular lágrima salgada escorria pela bochecha. Quem mais seria senão o próprio Jungkook?

      O homem - aborrecido com a perda de seu tempo - prestes a bater a porta, fechando-a com tamanha raiva, fez Taehyung reagir – sem pensar –, atirando-se afrente; nada mais importava. Ao percorrer do momento que sua palma atingisse a porta, escancarando-a, era inevitável questionar-se: Como? Como tudo viera a acontecer? Portanto, seus movimentos diminuíam o ritmo, a entrada amadeirada não encostava à trinca, a saliva que escapava do senhor encontrava-se presa ao ar; – afora -: as folhas dançantes suspendiam-se como se o vento parasse de soprar e a gravidade não as fizesse cair, as rodas dos automóveis não giravam; os faróis iluminavam as centelhas de poeira detalhadamente; tudo e todos em completa inércia; como um pause de um filme na excitante parte. E mais uma vez, os movimentos se desfaziam: a porta abria-se, como se estivesse sendo puxada novamente pelo homem, as gotículas que escapavam de sua boca voltavam para o lugar de origem; sua feição ora de raiva, ora de aborrecimento. Taehyung recompunha-se; o olhar espantado transformava-se; deixava de notar todos os detalhes do espaço e os lábios tremulavam com um passo afrente; o som da batida iniciava alto e sumia com o toque de suas mãos à porta, logo, retirava-se dali. As folhas dançavam refazendo o circuito como se o vento soprasse para o lado oposto desta vez; onde havia luminosidade por carros e motos, as sombras e penumbras cobriam o espaço.

      Taehyung – de costas - afastava-se do prédio, enquanto, dentro do apartamento que se direcionava, Jungkook erguia-se do chão com os olhos cerrados, terminando em espanto – fitava a porta no momento - e a consciência fazia-se presente como uma vela em um quarto apagado; os cacos e o álcool jorrado subiam, recompondo-se à testa do garoto – fazendo o grande corte e o sangue espalhado sumirem sobre a pele alva -, reconstituindo a garrafa na mão do homem. Seu braço ia de lado para cima quando o sorriso se desfazia; as lágrimas excessivas nas bochechas de Jungkook cessavam e as mãos, em proteção, voltavam à altura da cintura normalmente. O homem levava a garrafa à boca - com sua glote movimentando-se de cima para baixo -, havendo o líquido indo de volta para o compartimento e o abaixava no momento que Jungkook rebatia usando as palavras desesperadamente. O velho furioso – que o fitava em seguida - liberava frases das quais as respostas traziam deveras consequências. Liberava-as retornando, de costas, com porta explodindo em tamanha força atrás de si -– Jungkook, alarmado e tomado pelo susto, guiava-se em sua direção acalmando-se --, a madeira indo direto em sua mão desocupada enquanto a mão de Jungkook – agora, calmo – a fechava e a trancava. Passava a mão sobre o cabelo, coçando a parte de trás e se refazia; sentava-se no sofá encarando a porta, trazendo a cabeça em direção de sua janela, fitando-a com as pernas subindo ao peito, abraçando-as e recordando-se como sua vida havia mudado com um sorriso saboroso formando-se ao rosto.

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