Chapter XVIII

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      Andavam sem pressa, seguros - sabiam disso. Jungkook permutava entre direita e esquerda, fitando os estabelecimentos e os rostos que considerava "familiares". Rostos esses que, cobertos por pó e cores suaves, escondiam o cansaço e a idade - uma incerteza -, a tristeza; o desapontamento. Era assim que sabia estar voltando para... Ele não diria 'casa', não nomearia dessa forma. Fora, consequentemente, para lá - obrigado por seu... Também não diria 'pai', ou sequer, 'seu'... Jungkook não tinha uma casa, um lar que tivesse orgulho; ou um pai que... Que... Não acrescentaria nada, era isso, era vazio, era vago.

      - Obrigado - Jimin disse, subitamente, ainda nos ombros de Jungkook, o despertando. Olhou-o ladino com um sorriso de canto. Era bom ouvi-lo, sua voz era doce e, de algum modo, continha sintonia - uma partitura bem executada.

      - Por que a cada vinte passos que damos, você me agradece? - Perguntou gracejando. Era uma pergunta, um tanto que, retórica.

      - Não sei - respondeu triste; achou estar perturbando-o -, é costume, creio eu. Devo ter herdado da minha... mãe. Lembrar de sua mãe assim, de repente, era uma surpresa, uma emoção indecifrável. Jungkook, percebendo sua feição caída e olhar perdido; a pausa por acidente, sentira-se frustrado.  Ei... - chamou - Não precisa ficar assim - mexeu o ombro que Jimin apoiava-se -, só achei incomum. Dera um leve sorriso.

      - Incomum? - Respondeu automaticamente, como um efeito ação-reação. O diálogo à frente não parecia confortável, não para Jungkook; seu sorriso desaparecia lentamente. Não respondera, deixou o silêncio falar por si. Jimin não esperava que respondesse, se estivesse são, sequer perguntaria "incomum?", ou algo relacionado. Fora um silêncio necessário - sem ressentimentos. Cogitou em pedir desculpas, mais uma desculpa. Não. Estava cansado; não desta vez. Fora apenas uma pergunta. Apenas.

      - Eu conheço esse lugar. - Jimin mirava o supermercado - Nos vimos pela primeira vez aqui, certo? - Tinha uma certa empolgação no tom que fez Jungkook o estranhar por um momento.

      - Sim, minh... - Engasgou - A casa que fico é virando a esquina. Estamos perto. - Suspiraram uníssonos, audível, de certo modo.

      Andavam pela calçada conquistando a atenção das pessoas. Dois homens juntos, próximos o bastante, era demais para eles. Não generalizaria, claro. Alguns percebiam e alegravam-se com a mudança - a tardia mudança -, o surgimento da coragem; mesmo não ocorrendo nada. Era apenas os dois, um sentimento amigo, forte, porém, ainda desconhecido. Jungkook detestava ser visto, isso não mudou - talvez nunca vai mudar. Jimin percebeu os olhares; o foco. Não detestava ser visto, mas cobria-se de medo - tinha de tomar cuidado; cuidado para não ser visto daquela forma. Saíra dos ombros de Jungkook mesmo sabendo que encontraria dificuldade, todavia, evitaria o pior. Quando se tratava de ódio, aprendera da pior maneira que as pessoas não hesitam. Jungkook o equilibrou. Deu um sorriso simpático em resposta; sem palavras; algo compreensível. Continuavam, depois desse estranho parágrafo, lado a lado, entretanto, para Jimin, uma distância "segura". Mas para quem?

      Frágil, antes de adentrar no prédio, Jimin sentia seu celular vibrar no bolso de trás de sua calça. Parou, cogitou em olhar; a mão prestes a toca-lo. Não; não por agora. Não queria saber quaisquer que seriam o conteúdo delas, sejam elas de seu pai, ou... Não tinha um 'ou'. Quem mais entraria em contato comigo - Pensava. Tudo bem? - A voz de Jungkook o chamava mais à frente. Assentiu e seguiu em frente.

      - Esse lugar - tentava criar um assunto -, ele fica vazio assim? - Foi o máximo que conseguiu construir em sua mente. Meu Deus, que estúpido - Matutou consigo, revirando os olhos. Ouviu uma risada baixa vindo de Jungkook que apertava o botão para chamar o elevador.

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