Chapter XXII

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      Taehyung conseguia ler a placa, mas nunca estivera naquele hospital. O lugar era estranho para ele; novo. Toda aquela parte da cidade era. Os passos pareciam que estavam prestes a falhar-lhe a qualquer momento; e apostaria que não eram apenas as dele. Ao seu lado, não tão perto quanto desejava, Jungkook mantinha o olhar fixado ao chão, encarando os próprios pés; o que parecia estranho, pôde sentir que algo o incomodava, algo além de Jimin. Talvez o passado esteja o atormentando novamente, ou até mesmo, o futuro. Não conseguia decifrar, conhecia-o e ao mesmo tempo, não.

      Jungkook continuava com a vista perdida, um pouco afrente da porta principal. O que ocorria em sua mente, singularmente, ele poderia compreender – talvez, de certa forma, Jimin. Aquele ponto não era de todo desconhecido por ele, não faz muito tempo que estivera ali, em um dos quartos, reclinado a cama, tentando ouvir e ver com dificuldades. Fora vítima de violência e a pessoa que o fez, infelizmente, não tivera a punição que merecia; conseguira se safar sem muitos esforços – um oficial de polícia. Sofrera de socos e chutes dentro de sua própria casa, na sala de estar – recordava-se perfeitamente os detalhes e isso era horrível, desejava poder esquecer -, baques que fizeram-no perder a consciência e acordar em um lugar diferente. O motivo? Não existia, pelo menos, não para si. Se arriscasse um, diria que estava sendo ele mesmo. Quem o feriu? Seu próprio pai. Ter noção disso, doía mais que quaisquer golpes que recebera.

      Jimin fora o primeiro a entrar, sua pressa era visível. Aquilo o corroía por dentro, não saber de fato – o como - o que ocorrera horas atrás, com seu pai. Não acreditava que deveria sentir pena por ele, pai ou não, sua performance não fora uma das melhores e conseguia certificar-se apenas fechando seus olhos e lembrando dos momentos que tivera com o velho homem; todas más.

      Rememorando, momentos depois de sair da casa de seu amigo, Jimin não continha ideias do que fazer, acabara de fugir de seu pai e, consequentemente, a escola. Sua vida que, sinceramente, ele detestava. Iria vagar pelas ruas até Jungkook conseguir algum tempo com Taehyung, já imaginando para o quê. Seguia o caminho oposto do qual seguiram para chegar onde estão, passos que faziam-no apreciar o momento, o frescor da noite, o pensamento que as coisas poderiam ser diferentes; voltar a ser. Sentia falta de sua mãe. Assim mesmo, espontaneamente, pegando-o de surpresa, imaginando-se com ela, premeditando como seria se ela estivesse aqui dando-o conselhos, guiando-o. Sorria ladino. Impossível. De repente, exatamente naquele momento, seu celular tocara e "Desconhecido" aparecia na tela. Estranhou e seus passos desaceleravam até que parasse de caminhar. Jimin sabia que era seu pai, contudo não atendera de primeira – não havia vontade -, encarava o celular:

      - Devo? – dizia consigo. Respirou fundo e atendeu. Houve silêncio na linha, Jimin não tivera coragem de pronunciar alguma palavra, sabia que estava errado, o que fez fora gravíssimo, entretanto não se arrependia, sentia-se bem. Por enquanto.

      - P... Pai? – Pronunciou-se com dificuldade devido a garganta seca;

      - Estou falando com o filho do Sr. Park? – Espantou-se, conseguia ouvir muitas vozes ao fundo, sirenes, ficara surpreso pois não era seu pai ou pessoas próximas, a voz não era familiar;

      - Sim – Afirmou em um som longo da palavra.

      - Aqui é o doutor Kim Namjoon do Hospital Central. Sinto muito por essa notícia, mas – Jimin assustava-se ao longo da frase – seu pai – uma pausa -, ele sofrera um terrível acidente com o carro dele e você precisa comparecer imediatamente ao hospital. – O coração de Jimin começara a bater mais forte, a respiração equivocava-se, sua pele arrepiava e seus olhos lacrimejavam. Por que? Não era isso que Jimin queria? A palavra "carro" e "culpa" o atormentavam, de fato. Ele fizera isso. Perdi meu pai – anunciava silente.

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