Chapter XXXIX

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      Não estava impressionado, ora, de ver aquela imagem em suas, grandes e macias, mãos. Ponderava como suportaria, há tempos, Jungkook, aqueles acontecimentos em sua vida. Estava, na verdade, suportando, sequer? Acho que não – Taehyung cogitou sabido. Passava os dedos sobre os sombreamentos e sentia o desconforto; ao contornar tudo, o olhar triste e marejado apossou-se de si. Doía no âmago, como não poderia doer em Jungkook? Uma mão pesada fora colocada em seu ombro e – acariciando-o - confortava-o; o médico deveria parecer imparcial, porém, era, sua supra preocupação, notável. A solução, contudo, fora dada, e ele tinha certeza: o garoto, de segui-la, iria convencê-lo.

      O ranger da porta sendo aberta colocou o homem em sua postura anterior. Tornava-se clara, a corpulência, à medida que Taehyung, com a cabeça erguida, fitava a porta. Parou lá, Jungkook, e o encarava de volta; ambos sabendo o assunto a ser discutido nos próximos minutos. Era um mistério, sim, o que sentia ao fitar aquele marejado olhar. O porquê. Era um gosto, ora, agridoce: sensações boas e incômodas; não eram, de tudo, ruins; tudo tornava-se aprazível. Com ele, com Taehyung. Antes de se retirar, o homem entregou, simplista, sua caneta; sabia que iam de usá-la. Sorriu fraco quando o outro a pegou, escorado à beirada do leito. Foi-se, então, fechando a porta atrás de si. Jungkook pôde ouvir quão profundo fora a respiração do garoto, o peso das preocupações estavam amostras ali. Assentou-se com as pernas cruzadas e, como antes, estava perto o suficiente. Para quê? – Ponderou. Entregou-o o papel sobre o apoio, próximo deles, pois sabia que iria escrever primeiro. A mensagem escrita, de antes, estava lá e Taehyung a relia; sorrindo ladino ao final. Jungkook, enquanto a caneta dançava sobre a folha, perdia-se nos traços do garoto afrente, as linhas do cabelo atrapalhadas e o suor nestes, o braço despido e os cabelos breves. Arrepiou-se e imaginou estar passando uma onda de frio pelo local, era, entretanto, outra coisa. Engoliu em seco. Queria poder tocar seu rosto, sentir o calor e o atrito de sua pele tom bronze. Fosse verdade, talvez, o que o contou: Talvez, era enamorado por ele. Taehyung o devolvia o papel; era uma frase grande, não, com a caligrafia, importando-se, porém. Lia:

      "Você precisa ir. Não vou deixar que não aceite essa ajuda. Vai ser bom para você, kookie." – Kookie? – Fechava o cenho, pensativo; peculiar; até onde recordava-se, uma pessoa, somente, o chamava desta forma. Continua: "E, assim que acabar, poderemos ir para casa. Quando se lembrar, estaremos juntos. Prometo." – Nós moramos juntos? – supôs. "Por favor!". O que acabara de ler, não fora um pedido ao acaso; tinha discernimento que ia além. – Kookie, casa, o ponto de exclamação ao final – foram partes que, sobre todo ar de dúvida, trouxe o conhecido; um ar de conforto, uma carência que era apurada. Sorriu ladino. Taehyung era um lugar para aonde poderia retornar. Este último, estendendo o braço, entregava-o a caneta: agora, era sua resposta que importava. Mas, pousando a prancheta ao lado, sobre o coxão macio, o tomou pelo pulso, distanciando-os ainda menos; tinha de fazer. Sentia que devia. Imaginou, Taehyung, que o beijaria – infelizmente, não -. Fora, tão-somente, um abraço, contudo, não o era genérico, era, este, especial: explicável e entendível para poucos. Hesitou por um instante. Jungkook sentia as narinas tocarem seu pescoço nu, e o ar ardente correndo pelos ombros; os braços daquele, ao mesmo tempo, tocavam suas costas e o pressionava contra si, tonando-se um. Taehyung sentira falta daquilo.

      Separavam-se lentamente; Jungkook o segurava firme, aos ombros, e fitou, outra vez, o papel, assentindo, em seguida, ao pedido que, antes, o fizera. Relaxava os ombros, Taehyung, ao entender a resposta; poderia sentir o peso da preocupação esvaindo-se das costas, das pernas, dos braços. Agora, entretanto, tinha de tratar de algo diferente; a situação pareceu mudar, porém, ela, na verdade, apenas fora substituída por outra; de desta para aquela, o pesar sobre o peito fez-se deveras intenso. Levantou-se e perambulava pelo quarto, o nervoso fazia-o brincar com os próprios dedos e suar abaixo da blusa que vestia; Taehyung criava coragem para contar o que doía, também, em si. Estatuou-se, encarando o canto empoeirado; como deveria informa-lo? Será que deveria? Hoje? Não poderia, esta turbulência, esperar? "Três dias" ressoava em seu pensamento. Virou-se e se deparou com o outro, próximo; um semblante preocupado e focado. Parecia destemido em fazer alguma ação que, provavelmente, não se arrependeria. A mão formigava para tocá-lo outra vez. Ah! Como gostaria. Engoliram em seco.

      Alcançara o papel e a caneta, iria iniciar a transcrever seus pensamentos à folha; hesitando, todavia. A tensão o acobertava e o medo da resposta era pior à notícia. Como reagiria? Seria benéfico, agora, contar-lhe? Os questionamentos voltavam-se a quem iria ouvir. Era o correto. Sempre. Parecia ser o certo naquele momento, porém. Inspirou o máximo que pode, olhos fechados, com o ar contornando seus lábios brandos, espirou. Jungkook sentava-se novamente, defronte de ele, observando-o mais uma vez. Gostava de fazê-lo – percebia com um sorriso tímido. Escrevia mais rápido do que antes; a pressa que não leva a lugar algum. Taehyung hesitava ao deixá-lo ver, mas entregou tímido; e aquele lia:

"Não estarei partindo por muito tempo." – o começo o acertara como uma chuva em um clima ensolarado; sua feição transformava-se. O outro esperava pelo pior. "Há uma cirurgia que preciso fazer e, talvez, eu possa voltar a ouvir." – Não se amargurou de nada. Deixou-o, pelo contrário, intrigado; - "Eu havia comprado duas passagens, mas, infelizmente, bom... você sabe," – sorria sabido – "então, vou ir para isso e voltar por nós". Parou e encarou-lhe; então ele é o romântico? – ponderou zombando. Não havia problema ali. Jungkook, obviamente, não queria, na verdade, que ele partisse, contudo, era, como ele mesmo escreveu, "por nós". Tomou a mão de Taehyung: estava tudo bem. Um momento; estranhou. Era perceptível, suavemente, que tremia. Tinha, entretanto, conhecimento que, provavelmente, o Jungkook que conhecera outrora não concordaria tão simples. Deixá-lo-ia. Aquilo provava, infelizmente, que o garoto que segurava suas mãos, ainda não é o que as segurou antes. Ora, estaria agindo egoísta? Ou errado por pensar daquela maneira? Jungkook não deixou de ser, certo? Ele ainda é e está atribuindo expectativas novas a si; concordou, em mente, sorriso transparente; apenas uma parte está fosca naquele aglomerado de dúvidas soltas. Taehyung apertou a mão dele em retorno.

      Recolhe o papel, Taehyung, e escreve mais: "Você não ficará sozinho. Você tem outras pessoas que se importam contigo" – e era verdade. Pôde ler no momento em que ele as transcrevia; Jungkook, externamente, não demostrou a surpresa que explodiu no seu íntimo, atrás de seus olhos, porém, crescia um sentimento que não se lembrava – droga, o que é isso? – Matutava e gostaria de recorda-se. Era bom. Era... Seguro. Engoliu em seco. Queria sua vida de volta. Agora mais do que nunca. Nem precisou entregar para que o lesse; sabia que já o havia feito, mesmo não externando, contudo, seus olhos não mentiam. Taehyung sorriu completamente, o formato quadricular seu; Jungkook tinha certeza agora.

      O som de batidas à porta apruma Jungkook; observando-a além do garoto afrente. Sabia quem era. Uma pena, era hora de Taehyung partir. Este olhava além dos ombros e a figura do homem era clara; e assim era a postura: acabou. Enquanto Jungkook movia seus lábios e, certamente, falava com o médico, aproveitou, Taehyung, para deixar mais uma mensagem; não de despedida, suas vidas continuariam – sempre - e ambos tinham conhecimento disso. Despediu-se, novamente, apertando sua mão. Hesitava, claro, mas o fez. Retirou-se lento – devolvendo a caneta que o foi emprestada -; acompanhado pelo doutor, abandonaram a porta entreaberta e a brisa frígida adentrando por ela. Após ficar consigo, apenas - naquele quarto abatido -, não conseguia adjetivar como sentia-se, a animação, a forma que seu âmago floria e as borboletas que lá voavam. Taehyung – lembrava-se súbito. Fitava a cama demarcada pelo assento recente e, ao lado, o papel usado; bem abaixo neste, estranhou algo novo, os olhos frisaram para reparar na diminuta letra que fora feita e um desenho – uma mãozinha, algum sinal? Perguntava-se. O recolhia e virou o papel para que as letras fizessem sentido; riu. Ele, realmente, é o romântico de nós – pronunciava.

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