Chapter VI

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      Que tipo de pergunta era aquela? Não havia resposta. E ao mesmo tempo havia. Ora, não sabia quem era o garoto que segurava seu pulso, mal o conhecera; sabia onde aquilo tudo poderia levar, mas não podia permitir; era fadado a esconder. Havia medo. Pesadelos.

      - Não posso ir. - Mentira, simplista. Queria ir, mas as consequências... Tamanha barbari para ambos envolvidos.

      - Por... - Fora enterrumpido rasgamente com o tom de voz de Jungkook, arrancando seu pulso das pequenas mãos de Jimin;

      -Você não entenderia, me deixe em paz! - Verdade. Jimin não entendia, havia ido longe demais, ou poderia ir ainda mais além? Melhor não, estava sendo inoportuno. Deixara-o ir.

      Não entendia qual era o problema,já entregara a carta, desculpara-se, já fora. Por que manter isso em loop em sua mente? Sabia a resposta. Mas não podia ser. Se sim, poderia apanhar, outra vez. Eram lembranças que deixara-o com uma tremenda fobia, medo da pessoa que era, suposto ser seu herói, mas seu próprio pai era o monstro que aterrorizava-lhe mais. Os olhos continham lágrimas que estavam desesperadas para jorrar. Mas não iria permitir, não por causa dele. Não.

      Seus passos largos possibilitaram uma volta rápida e cansativa até a porta de sua casa. Estava lá, existia, mas sentia-se sem chão, ainda mais. Sua porta estava aberta, adentrando o olhar fixando em cada ponto à frente, em passos curtos fitava suas gavetas ao chão, seu armário, escancarado. Não queria acreditar. Mas precisava dizer em voz alta, "Fora furtado". Esquecera-se de trancar a porta. A respiração estava aflita, havia apenas esse som. Lembrara de sua economia em sua gaveta do quarto. Soltara as compras que haviam em sua mão, frutas rolavam para fora da sacola, ovos quebravam, líquidos jorravam. Corria em direção ao inevitável e como previra, não havia nada lá. O quarto encontrara-se revirado, colchão ao chão, livros, e nada em sua gaveta. Nao tinha nada. Nada mais.

      Voltara até a cozinha, incrédulo. Prestava atenção em cada detalhe, tudo. Fechara a porta e deixou ir. Cada lágrima caía sem impedimentos, levara sua mão ao peito e apertara a blusa como se estivesse apertando seu coração, queria fazer-lo parar. Doía. O que faria agora? Não tinha com quem pedir ajuda. Na verdade, tinha. Seu pai. Pensar, seu coração apertava outrossim como quando estava lá caído em frente dele, suplicando que parasse... Jungkook estava arrasado, fraco, sentia o inexplicável; toda gravidade puxara-o violentamente à baixo. Estava lá com as duas mãos ao chão e cabeça pendia para baixo. Humilhado. Não existia forças para sequer erguer o olhar fitar o ambiente a sua volta mais uma vez. Cerrou bruscamente o olhar, desejando que tudo aquilo fosse um pesadelo que já passou da hora de acordar. Cada segundo, destruia-o ainda mais; antes não tinha nada, agora... Inexplicável.

      Encontrara-se curvado, aquele chão gelara todo seu corpo; as lágrimas eram aos montes, molhava o chão abaixo de sua cabeça. Engasgava como uma criança. Sentia-se como uma criança perdida dos pais, em uma grande cidade movimentada, onde cada canto parece ser acolhedor. Era ele, era o pai, era o garoto.
Odiava-se. Incapaz. Ergueu a mão que estava em seu peito e levara-a de encontro ao chão com força, de novo e de novo. Gritava agoniado; alto. Ninguém aparecia, mas escutavam pelo outro lado das paredes. Ninguém se importara. Curiosos, apenas.

      Jimin sentia que deveria te-lo seguido. Havia algo a mais naquele olhar, ou não havia nada. Exatamente por isso ficara confuso. Mal compreendia ele que, Jungkook sempre fora abandonado. Claro, conversavam com ele. Estava lá. Não estava. Devia voltar para onde seu amigo estivera; tentara, pelo menos. Seguiu caminho de volta em passos ligeiros. Não sabia o que contar ao encarar os olhos de Taehyung: "Insista - vivemos apenas uma vez" ou "Temo que ele não goste de garotos, Tae. Desista, alguma estrela brilhara para você na hora certa". Não, duro demais. Chegara na entrada donde estava, olhara diretamente para o fundo e, nada; ninguém. Taehyung fora embora. Não seguira pensamentos julgadores, talvez tivera uma emergência. Tinha seus próprios motivos. Encontrara-o depois e perguntaria. Deixara-o sozinho, e fez com que pagasse a conta sozinho, e não havia comido nada. Em vão.

      Olhava o chão onde estava sobre, degraus avermelhados que combinavam com a entrada do recinto, um pouco até demais. Decidira sentar-se ali mesmo. Respirava pesado; teria feito uma besteira? Precipitara-se? Perdera dois, não havia nenhum. Só queria ajudar. Um cão estava se aproximando aos poucos, fungando o chão em busca de alimento, um cão de pelagem escura, esquelético, sujo. Chamara a atenção de Jimin; O coração pesará ainda mais. Chamara-lhe estalando seus dedos, seguidas vezes. Nao sentira repulsa pela aparência do cão, amava animais, amava poder cuidar deles quando tivera chance. O cão erguera o pescoço e fitava à direção de Jimin. Fora, ressentido - Até os cães temem por confiança. Colocara sua mão sobre a pelagem do cão e fazia-o carinho; esboçava um sorriso ladino
- é amigo, entendo, eu também estou com fome e triste.

      Já encontrava-se longe de lá. Em casa, suas costas de encontro com a porta de entrada, deslizava até alcançar o chão, por conseguinte, agarrava suas pernas forçando-as contra seu peito. Forte. Batia, levemente, a parte de trás de sua cabeça contra a porta, emitindo sons contínuos, crendo que o ajudaria a matutar. Taehyung temia que era cedo demais, ou ainda, talvez, sequer devia continuar com aquilo. Quantos anos continha? Era uma criança para se portar como tal? Besteira. Agora, negara à si mesmo o que sentira; "coisa de momento" - pensava. Forçadamente falando, não se sentia assim à algumas luas passadas. Na verdade, assim, nesse estado, nunca estivera. Era mais. Qual era a dificuldade de deixa-lo ir? Já escusara-o, fora fofo, agora precisava seguir, sem o garoto. Sua mente ditava tais pensamentos e ao mesmo tempo, negava-os. Não podia. Lágrima, apenas uma escorria por seu olho esquerdo. Nem percebera, queria chorar. O motivo? O óbvio. Mas não deixara.

      Erguera-se e seguia para seu corredor, no qual ao fundo, havia uma porta em cor púrpura; claro, pintara-a por si só. O apartamento era, branco, sem vida. Seus passos eram curtos, lentos. Era um cómodo especial, mas não adentrava no ambiente havia, podia-se dizer, meses, até. Apenas fora lá quando se sentia mal, com medo, perdido. Todo mundo devia nutrir-se de algo para onde possa voltar. E lá, atrás daquela porta, era onde se sentia em si, matutava. Parou a um passo de distancia da porta, fechara os olhos, respirara fundo, esperava uma resposta - Sim. Abrira os olhos e alcançara a maçaneta, um pouco empoeirada devido o não uso contínuo, aos cantos, continha teias formando um belo formato de aspiral vertical, com raios interligados. Lindo. Girou a maçaneta e empurrou a porta; era o maior cómodo da casa, sem janelas, uma única entrada, uma única saída. Adentrando, o chão continha um papel leve, fino branco, cobrindo todo o local, manchado de diversas cores. As paredes, borradas com cor púrpura, cada uma em um tom específico. Espelhadas pelo espaço, painéis já preenchidos em tinta: paisagem; objetos; figuras que só Taehyung compreendia. Outros em branco, sem vida. Respirara fundo, mais brusco. Adentro, no centro, um cavalete, com um painel interminável. Havia tinta, havia pincéis. Ótimo. O som da porta fechando atrás de si, o fez sentir-se bem, estava no coração da casa onde guardava alegrias, decepções e segredos. Iria marcar mais uma historia.

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