Chapter XIV

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       Com os olhos marejados e com sua visão obstar, não via nada adiante, pois o medo tomava-o por completo; corria com a cabeça pendida para baixo, ora sentindo-se arrependido, ora sentindo a melhor das sensações. A cada passo, distanciava-se de sua casa. Não poderia voltar para lá ou apanharia demasiadamente... Pensava se estivesse hiperbolizando a situação, mas sabia a verdade. Tinha medo de seu próprio pai. Enquanto corria dentre as pessoas opostas a si, sua memória dominava-o. No chão cinzento sob seus pés brotavam gramas aplanadas, verde escurecidas pela sombra que fazia-se pelas copas das árvores que surgiam em progressão. Descalço, sentia as folhagens secas que, ao serem pisadas, melodiavam ao quebrarem-se. Jimin, corria em direção de sua mãe. Voltara aos seus 9 anos de idade.

       - Filho - abraçavam-se -, onde estão os seus sapatos? Concordei vir brincar com você, pois me disse que não iria tirar e esconde-los dessa vez - dizia.

       - Mas mãe - respondia de braços cruzados; o olhar manhoso -, eu queria brincar de caça ao tesouro. - Sua mãe sorria enquanto observava-o.

       - Tudo bem, temos o dia todo, meu amor - replicava-o enquanto passava a mão sobre o cabelo amarelado da criança. Jimin não compreendia o porquê de sua mãe leva-lo tão cedo em um de seus parquinhos favoritos, apenas sentia-se deveras entusiasmado com a ideia e queria aproveitar o máximo. Na verdade, sua mãe estava o mantendo longe do próprio pai. Por mais uma vez, ele não voltara para casa e passara toda a noite fora; sabia que estava bebendo, e, encontra-lo em casa naquele estado... Esperava-se sempre o pior.

       Não queria pensar nisso, estava ali com seu bem mais precioso, seu filho. Passara longos minutos procurando o "tesouro" dentre os arbustos com Jimin pronunciando as palavras ora "quente" quando se aproximava do objeto, ora "frio" quando afastava-se. Matutava o qual bom seu filho era escondendo as coisas. Sentia, nesse período, pequenas dores nas costas e alarmava-se à ideia de estar envelhecendo-se.

       - Finalmente! - Disse virando-se.

       - Mamãe? - Assustara-se, deixara os sapatinhos caírem no chão; a voz da Jimin estava embargada e sua face carregada pelo medo. Seu pai segurava seu braço com toda a força.

       - Eu volto para casa - dizia cambaleando - e minha mulher não estava lá para me servir um café da manhã descente - pronunciava enquanto Jimin rebatia-se para se soltar, à vista disso, apertava seu braço cada vez mais.

       - Solte o Jimin, está machucando-o. - Jimin chorava sem compreender o que se passava, sentia dores sem entender o motivo; estaria sendo repreendido por ter escondido os seus sapatos?

       - Isto? - Apontou com o dedo indicador - Isto foi um erro e você sabe, deveria ter abortado esse lixo! - O futuro diretor, derrubou seu filho com toda ignorância e nojo que sentira. Em movimentos rápidos e cortantes, batia em Jimin... Ninguém aparecia para prestar assistência, estava bem cedo, desse modo, estavam sozinhos por aquele inoportuno momento.

       - Não! - A mãe com os olhos surpresos que, em uma distância meã, correu em direção aos dois, e, com uma força que não sabia que tinha, empurrou seu marido para longe; por estar bêbado em demasia, não conseguia se colocar de pé. - Jimin! Meu amor! - Exprimia em voz alta, ajoelhou-se e com as lágrimas caindo sobre seu rosto com hematomas fortemente marcados, - Jimin? - seu filho não respondia, estava desarcordado, recebera tantas pancadas que desmaiara de dor; sua pele clara evidenciava as grandes marcas de violência.

       Naquele momento de dor, desistira de lutar contra; de defender-se, estava imóvel, recebia socos e chutes daquele que via como herói; seu próprio pai. Sua visão encontrava-se cada vez mais escura e embaçada, as lágrimas escorriam nas laterais do rosto e, pensando que estava sendo repreendido por ter escondido seus sapatos em alguns arbustos, apagou matutando o tolo que era por faze-lo.

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