Chapter V

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      Jimin gostaria de entender o brilho que se alastrava nos olhos de Taehyung; era possível ver as estrelas refletidas mesmo em um dia claro. Chamara a atenção de Taehyung que o encarava com um sorriso diferente; real; retangular; singular. Parecia distante. Queria desvendar o ocorrido: uma hora, aparentava um semblante fechado, rígido; noutra, um sorriso que poderia acolher, decerto, a mais triste modelo, infeliz com sua própria corpulência. Era mágico, até.

      Com a atenção presa em seu amigo, Jimin sinalizara um sinal de "tudo bem?", com o olhar preocupado, curioso. Taehyung queria responder de forma prudente, mas de longe não entendia à si mesmo . Não sabia de nada, mesmo sentindo tudo aquilo. O óbvio. Fora sincero com o pequeno, sinalizara que nada sabia; além de seu sorriso e os olhos brilhando, exalava confusão, perdido tanto quanto Jimin. Notara que Jimin sentira-se incomodado. Pronto. Estava estragando mais uma, se não a única amizade que tinha, tornando-a curta e breve. Taehyung soltara um ar pesado e levou uma das mãos à sua nuca, massageando-a.

      Jimin encontrava-se cabisbaixo, respirava devagar. Taehyung sabia que devia explicar o que havia acontecido e por que estava expressando certas ações; mas na verdade, queria ir atrás de Jungkook, descobrir como aquele garoto despertara uma lembrança que nem mesmo ele se recordava apropriadamente, apenas pedaços, flashes; um passado. Mas com o garoto tudo ficara claro; presente. Todavia, não podia guiar Jimin consigo, desentendido, ou sequer deixar o amigo de lado. O amigo que salvara sua vida mais cedo. Devia fazer uma escolha. Decidira-se.

      Taehyung tocara os ombros de Jimin com uma de suas mãos; O pequeno ergueu-se e mantia, ainda, persistente um olhar preocupado, confuso. Taehyung dera um sorriso mais calmo, sereno; fora correspondido; Jimin mantia um sorriso forçado e ambos sabiam disso. Por um momento, o estômago reclamava de estar vazio, outra vez. Queria ir comer, pensar com calma, mas não queria voltar para casa, estavam um pouco longe. Matutou em ir para um restaurante, o mais próximo. Poderia até explicar para Jimin, incluir-lo de vez na confusão; talvez ganhasse até um conselho que o salvasse de si mesmo. Taehyung movia a mão para alcançar a do garoto e a segurar; passar confiança e guia-lo consigo para algum lugar para que ambos pudessem comer. Porém, assim que Taehyung tocou-a, Jimin levantou a mão, afastando-a das de Taehyung, olhando em volta, preocupado como se alguém tivesse visto. Taehyung ficara triste, será que Jimin tinha vergonha dele ou estava com certa raiva? Ponderava com a mente a mil. Respeitara a decisão do pequeno. Apenas sinalizou para que seguisse-o.

      Os dois estavam se afastando do supermercado. Taehyung deixava o passado e seu presente para trás. Desejava poder ouvir, falar, fazer uma conversa longa e árdua com Jungkook. Andavam uns minutos em silêncio. Óbvio. Mas era um silêncio que incomodava até mesmo Taehyung. Avistaram uma placa avermelhada e com letras caixa alta amareladas escritas "Comida Caseira da Yoon". Nem pensara duas vezes e ia entrando; o local era exagerado, cheio de flores artificiais coloridas; estavam em cima das mesas, na entrada, algumas no balcão; as mesas continham um forro cinza um tanto quanto claro e acima, aberto, o menu consideravelmente pequeno. Guiaram-se, como de costume, para a última mesa do local ao fundo. Se sentaram frente a frente e se entreolharam, passou o menu para Jimin com um sorriso acolhedor. Esperava pacientemente pela escolha do pequeno. Estava decidido, a explicação ia ser difícil.

****

      Após se afastar dos dois garotos, de Taehyung principalmente, desejava que lesse a carta e o entendesse. Borboletas tomavam conta de seu estômago como no jardim de infância. Bobo; era apenas uma carta. Mas continha uma certa intenção, admitiria. Mal conseguia concentrar-se.

      - O que eu tenho de comprar mesmo? - Dizia em voz alta. Fitava a prateleira a frente e seus variados derivados. Na verdade fitava o nada, tudo que via a sua frente era o garoto e o momento que se entreolharam. - Acorda Jungkook, já pediu desculpas, agora esquece ele.
- Pensou com raiva de si mesmo, balançando a cabeça. Seguiu fitando as prateleiras e os produtos gordurosos que certamente o mataria daqui uns anos; passava longe dos alimentos saudáveis, pensava que se o ser humano chegou no topo da cadeia alimentar, não devia comer folhas. Pobre animais. Já estava lá a um tempo considerável e não continha nada em sua cesta. Sentira alguém o vigiando, olhando-o. Em um singular momento, decidira olhar para trás; devagar, ia vendo a figura do guarda no começo do corredor com seu walkie-talkie em mãos. - Ótimo, agora virei delinquente. - Pensou revirando o olhar e voltando-se para as prateleiras. Concentrara-se mais, saiu pegando o que o sustentaria por um mês ou até mais, o necessário para ficar longe, trancado em casa. Odiava sair, odiava ser visto.

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