Chapter XXVI

24 4 0
                                    

      As imagens que podia enxergar através da vidraça do carro eram detalhadamente diferentes: ora, um prédio mediano no porte, ora, uma casa de coloração comum. Luzes fracas pela tonalidade da luz natural, outros piscando por falha. Seguiam a avenida em uma velocidade aceitável o suficiente para crivar o olhar por significativos segundos. Não chamavam tamanha atenção quanto o fato da cidade, naquele ponto, estar vazia. A cidade parecia bonita por si só, as árvores por si só; o fato de nada mover-se do lugar e percorrer todos os cantos. Era o que o distraia, sua mente: os demais espantos e euforias que o regiam, sendo a razão, deveras vezes, omitida. Às vezes, fora ruim: fatal – pensa dramático; às vezes, bom – concentrava-se em Taehyung afrente. Voltou à janela sorrindo por poucos instantes. Pouquíssimos.

      Conseguia sentir o toque do vento, fazendo-o arrepiar e provar do frio, arrepiando-o no local das lágrimas secas. Seus olhos continham um profundo vácuo de sentimento. Uma tonalidade forte que os cobria por completo. Demasiadamente triste. Demasiadamente deslocado. Notava os pássaros e o silêncio que não era ruim e – em um estalo -, lembrou-se que, de tantas outras coisas, a perfeição em meio tanto caos, que poderia não ser criado; era a própria natureza, porém. Era este um dos motivos que se afastava de todos, recolhia-se no escuro do quarto, na confusão dos pensamentos. Sua própria confusão.

      O carro desacelerava e o coração, por outro lado, começava a pulsar em uma velocidade acima do normal, talvez, sendo o nervosismo de estar indo à casa de Taehyung ou o fato de estarem parando e ter o contato com tudo aquilo, algo novo. Nunca se dera bem com episódios novos. Era, na verdade, ambos. Pobre Jungkook. Saiu do carro com sua cabeça pendida acima, os prédios intermináveis e robustamente altos; era uma diferença discrepante que não sabia que existia. Não na sua própria cidade. O asfalto escuro com as linhas amareladas perfeitamente desenhadas que brilhavam à sombra e a noite, com as lixeiras ao canto persistentemente marcadas com as cores para que se fizesse simples a coleta. Uma pena, pois Jungkook entende que tudo isso não funciona. Não com esse tipo de pessoa. Surgia alguns indivíduos na rua, num marchar autoritário, apressados, encarando-o além dos óculos escuros; olhava para si e abraçou-se tentando proteger-se daquele peso que o esmagava constantemente. Fora assim que sobrevivera por tanto tempo, recuando.

      Observava o carro partir, sumindo aos poucos à rua abaixo. E, Taehyung finalmente parecia satisfeito de estar em casa – tecnicamente. Reparava que as pessoas esperavam um certo comportamento dele, um cumprimento – tinha certeza -, todavia, não o fizera. Tocou Jungkook e andou para a porta do edifício, ignorando todos. Salvo, um. Sempre, um. Continuava os passos com a cabeça voltada para o chão, para os próprios pés porque não se sentia bem. Nem o bastante. Não conseguia estipular isso. O chão continha os derivados mosaicos em formatos geométricos como cerâmicas e, não entendera o porquê, gostou daquilo. Seus olhos seguiam-nas como um labirinto sem fim, um ciclo e mais uma vez encontrava-se distraído. Até agora. Reparou que Taehyung parou e fez o mesmo: esperavam o elevador – a imagem viera clara em sua mente: eles, antes, envergonhados, com medo de começar algo que os fizessem mal. Agora, não era isso, contudo, sabia que ambos já mudaram esta mentalidade. Já começaram. Não sendo a relação – se pudesse chamá-la assim – que os fazia mal, tudo que aconteceu e, ainda, que viria a acontecer. Algumas situações criam laços mais fortes que o próprio tempo. Este era o mais claro dos exemplos.

      Esse raciocínio durou até o andar correspondente – o 7º - que, na verdade, sequer dera atenção. Não demoraram muito, porém. Em pouco tempo, já estavam à porta e Jungkook apenas seguia seus passos um atrás do outro, parando à poucos centímetros – o 'poucos' que puder imaginar. E Taehyung sentia-o. Sua visão focava na corpulência afrente, tornando-se embaçada e lembrando-se da sua casa e – deliberadamente – ele em seu sofá, fazendo coisas que o despertava e aliviava-o daquele grande pesar que sentia. O som da sequência numérica sendo digitada no aparelho ao lado despertou-o – fechando o cenho e matutando se Taehyung não se importava de ele saber – em parte, pois sequer prestou atenção – a senha do apartamento. E, em um tom de surpresa, houvera uma luz vermelha e um som irritante que o atordoou por alguns segundos. Taehyung havia errado. Fitou a mão dele, e notou que essa tremia, não em demasia – claro -, contudo, o suficiente para fazê-lo errar os números; sua nuca – reparava -, à vista, transpirava. Jungkook percebera o óbvio, apesar de tudo que estava acontecendo, ele estava sentindo-se nervoso ou intimidado com sua presença. Deveria fazer algo a respeito? Tocá-lo, talvez? Afinal, Taehyung sempre fora, inesperadamente, o que tomava a primeira ação. Devia tomar as rédeas agora?

I HEAR YOUOnde histórias criam vida. Descubra agora