Maria e eu passamos o boa parte do dia discutindo sobre qual era melhor: livro físico ou e-book.
Eu amo ler mas não gosto de carregar o livro e ficar passando as páginas, sem contar que o cheiro me dá náuseas. Maria já gosta dos livros físicos e diz que e-book é modinha de gente preguiçosa. Ela disse que vai me dar um livro só pra me provar que livro físico é melhor. Resolvi não contestar, pelo menos assim eu ganho um presente dela.
— Giovanna, eu vou sair. Fique longe daquela cozinha. — diz.
— Não se preocupe, eu já desisti de cozinhar.
Infelizmente não tenho nenhum dote culinário, tudo que eu faço fica horrível. Queria ter o talento para cozinha que a Maria tem.
— Não quero fogo na minha casa. — ela diz e sai.
Fiquei assistindo televisão até ouvir um barulho que me assustou. A casa é bem deserta e eu acho que não tenho com o que me preocupar. Volto a assistir televisão mas a desligo quando ouço outro barulho.
— Maria? Você voltou? Não brinca com essas coisas, você sabe que eu fico com medo. — vou para a cozinha e pego algo que poderia me salvar. Uma frigideira, por que não?
Me esgueirei novamente até a sala e vi um homem. Quando percebeu minha presença, ele virou e quase atirou em mim, eu fui mais rápida e acertei a frigideira com força na cabeça dele.
O homem caiu no chão com um impacto tão grande que eu me assustei.
— Moço? — dei um chute nele e ele não me respondeu.
Será que eu matei ele?
Ai caramba, o que eu fiz?! Eu vou ser presa, o que eu faço agora? Mio Dio, non voglio essere arrestato. (meu Deus, eu não quero ser presa)
Vou até um baú de ferramentas e acho uma corda grande. Me lembrei do filme da Rapunzel. Vou pôr ele no guarda-roupas. Aposto que ninguém vai descobrir e quando a Maria estiver dormindo, eu jogo ele no mato.
Eu sou um gênio!
Amarro ele bem firme e coloco uma fita em sua boca. Tento arrastá-lo, ele é muito pesado mas dou um jeito. Chegando no guarda-roupa, vi que ele é muito grande e não cabe lá dentro, mas mesmo assim, dobrei ele todo até caber.
E se ele sentir dor? Melhor ele sentir do que eu ser presa.
Tento fechar o guarda-roupa mas o homem é muito grande. Pego uma cadeira e a coloco na frente das portas.
Formada em filmes da Disney eu sou quase a Rapunzel Italiana.
Volto para o sofá, preocupada. E se a Maria descobrir? Eu acho que não. Ninguém vai perceber, está tudo no lugar.
A Maria chega e me mostra o livro que ela comprou.
— Vou pegar minhas roupas para tomar meu banho. — ela diz e segue em direção ao quarto.
Arregalo meus olhos ao perceber que eu não coloquei o homem em meu guarda-roupa, mas sim no dela.
— MARIA! — ela vira para trás — Deixa que eu pego pra você. — dou o sorriso mais verdadeiro o possível e ela estranha.
— Eu vou fingir que não sei que você está escondendo algo pra eu não quebrar sua cara. Pegue as roupas então.
— Eu não fiz nada, minha cara amiga. Vou pegar suas roupas.
Saio sorrindo e andando de costas até entrar no quarto.
Como vou pegar isso? Talvez eu seja um pouquinho burra por ter confundido o quarto dela com o meu. Abro o guarda-roupa e tento pegar as roupas com cuidado para o homem não cair dali de dentro e me entregar.
Volto para sala e entrego as roupas para Maria.
— Aqui. — dou um sorriso.
Ela me olha de canto com uma cara desconfiada.
— Pode me dar licença ou eu também não posso entrar no banheiro?
Ela aponta para o banheiro e só então eu percebo que estou na frente da porta.
— Desculpa. Pode. À vontade. Vai. — ela entra no banheiro com uma cara de quem quer dizer "você não me engana".
Assim que ela entra no banheiro, eu fico aliviada. Só de pensar no que eu fiz dá um peso na consciência. E pensar que foi meu pai que me colocou nessa situação... Ele poderia pelo menos ter enviado alguém para me proteger. Será que ele não me ama mais?
Além de mexer com essas coisas ele me esqueceu. Lembro que eu não pego no meu celular desde antes das aulas. Pego o celular e o ligo.
50 ligações e 100 e poucas mensagens, todas do meu pai. Eram mensagens do tipo "Minha filha, me responde.", "Me desculpe, eu só queria te proteger, meu amor.", "Atende Giovanna, estou preocupado." e etc...
Não tinha nada da minha mãe, ela nem me procurou. Como sempre, ela nunca se preocupa comigo, nunca pensa em mim. Eu só queria que ela me amasse um pouco. Será que é só por que eu não sou um menino que ela me trata assim? Eu sei fazer várias coisas, até me defendi daquele cara.
Abaixo minha cabeça e começo a chorar. Tenho motivos, não é atoa. Me sinto sozinha.
Ligo a televisão e coloco meu desenho favorito. Ele me ajuda quando estou triste. Logo começo a soltar umas gargalhadas, eles são tão lerdos que chegam a ser engraçados.
O sono acabou me pegando de surpresa e acabei dormindo.♤♧♤♧
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Alopradas [Reescrevendo]
De TodoO que você faria se descobrisse que faz parte de uma máfia? Mais precisamente que seu pai é um mafioso e que agora os inimigos dele estão correndo atrás de você. Você fugiria, certo? Giovanna não tinha outra opção. Um intercâmbio nos Estados Unidos...