+ Giovanna +
Me sinto culpada pela casa da Maria ter explodido, sinto que se eu não tivesse me metido na vida dela e não aceitasse sua ajuda tudo estaria bem.
Sento-me no sofá da nossa nova moradia, é um lugar pequeno porém confortável. Essa bagunça toda está me ensinando que não é só o bem material que importa. Espero que no final tudo acabe bem.
Ouço barulhos de passos e vejo o Mikhail entrando na casa. O que ele está fazendo aqui? Se a Maria vê-lo ela simplesmente o mata, esse cara não bate bem da cabeça.
— O que você está fazendo aqui? — Falo baixo para a Maria não escutar — Você está ficando doido? Se a Maria te vê aqui ela te mata.
Ele se aproxima devagar para perto de mim.
— Eu não tenho medo da sua amiga. Queria te ver para conversarmos.
Ouço um barulho vindo da mini lavanderia que fica bem perto da sala. Maria surge do além. Como ela faz isso?
— Olha só quem está aqui. — Ela ponta a arma para Mikhail. E agora? Mio Dio, ela vai matar ele! — A cadelinha sempre volta para buscar sua presa.
Ela aperta o gatilho e eu vejo tudo passar lentamente. Não consegui pensar em nada, só segui meu coração e a única opção dele era pular na frente do Mikhail, fazendo a bala atingir em cheio meu ombro.
Primeiro eu senti um pouco de raiva da Maria, mas depois, vi que ela não tem culpa nenhuma da burrada que eu acabei de fazer.
Meu ombro começou a arder para um caramba, acho que vou desmaiar. Bom, a dor é quase insuportável e eu começo a chorar, como sempre.
A Maria parece atônita, sem acreditar no que acabou de fazer. Ela coloca a mão na testa e olha para a própria arma.
Estou me sentindo tonta, com uma dor alucinante e insuportável, como se tivesse arrancado o meu braço inteiro fora. Eu queria gritar, então gritei até não aguentar mais. Maria e Mikhail estão em cima de mim preocupados. Os olhos da minha amiga parecem desesperados, sem saber o que fazer. Já eu estou chorando, de dor e desespero.
Olho para o lado e vejo uma poça de sangue se formando. Mio Dio, vou morrer de hemorragia.
— Giovanna, pelo amor de Deus, fique acordada. — Maria diz com uma voz desesperada.
— Maria! — digo chorando, minha voz por um fio.
— Meus parabéns, Falcão. Fez por mim o trabalho de matá-la. Mas nesse caso, eu já havia desistido. — Mikhail grita a última parte.
A dor latejando em meu ombro. Começo a sentir minhas pálpebras pesarem porém não apago. Vejo com a visão embaçada a Maria socar a cara do Mikhail e ele a empurra com força contra a parede, ele vai pra cima dela com um olhar de ódio e antes que ele possa retribuir o soco ela o chuta. Mikhail por sua vez perde um pouco do equilíbrio mas não cai e quando ele vai pra cima dela de novo, a Maria saca sua arma.
— Dessa vez eu não erro, desgraçado. — ela quase soltava faísca pelos olhos.
— Maria, pare, por favor! — imploro.
Ela me escuta e corre até a cozinha. Será que eles se esqueceram de mim?
— Estou aqui, Gio. Vai ficar tudo bem. — Mikhail vem até mim. Estranho ele estar preocupado comigo, afinal a pouco tempo atrás ele queria meu fim.
Maria vem correndo da cozinha com uma maleta branca e se senta ao meu lado. Ela abre a maleta, que eu percebo ser de pronto socorro, e tira uma gaze de dentro. Vejo em sua outra mão um vidro de álcool.
— Giovanna, me perdoe. — me sinto culpada agora pois vejo o desespero estampado em seus olhos. Ela parecia querer chorar.
Ela vira o álcool em meu ferimento e eu berro de dor.
— PORRA!
Nem ligo para o fato de eu ter acabado de soltar um palavrão. Para falar a verdade, eu não estou ligando pra mais nada. Só sei que eu não quero morrer e que a dor que eu estava sentindo aumentou 10 vezes mais.
Mikhail me olha com cara de pena e depois encara a Maria que acente com a cabeça, ele sai em direção à cozinha enquanto a Maria calça suas luvas. Ela pega uma gaze e aperta em meu ferimento.
— Tirando a dor, o que mais você está sentindo? — ela pergunta, eu não aguento mais essa dor insuportável.
— Eu só sinto dor Maria, só dor.
— Sente tontura, enjoo? — afirmo com a cabeça — Falta de ar? — nego.
Mikhail aparece com uma faca e eu me assusto. O que diabos ele irá fazer com isso?
Ele entrega a faca pra Maria que a enfia no local do tiro. Berro com a dor e tento me mexer mas o Mikhail está me segurando.
Ela quer me matar? Isso dói demais. Começo a chorar copiosamente até que ela tira a faca de dentro do meu ombro e me mostra a bala.
— Precisei fazer isso para tirar o projétil. Se eu não o fizesse ele iria percorrer sua corrente sanguínea e isso poderia te matar. Como não tenho pinça precisei usar uma faca.
Ela diz isso calmamente e derrama de novo o álcool em meu ombro. Volto a gritar pois a dor não passa e sinto que vou desmaiar.
— Giovanna, continue acordada. — Mikhail diz ao meu lado e luto para não apagar.
A Maria coloca mais gaze no ferimento e prende com fita crepe.
— Vamos levá-la ao hospital. — ela diz tentando transparecer calma enquanto o Mikhail me pega no colo.
— Por que você não fez isso antes? — Pergunto.
— Fiquei preocupada de você não sobreviver até chegar lá.
Descemos de elevador até o estacionamento do prédio. O Mikhail me coloca no banco de trás em seu carro.
— Quando chegarmos lá, você não se lembra de nada. Ok? — Maria diz. Sei por que ela quer isso, provavelmente ela seria presa se eu falasse a verdade.
Chegamos no hospital. Maria conversa com uma enfermeira que me leva até uma quarto com outras pessoas. Ela aplica uma anestesia local e dá pontos em meu ferimento. Me pergunto por quê ela não me perguntou nada sobre o que aconteceu. Após receber todos os pontos necessários voltamos para casa.
— Maria? — a chamo. Estou deitada no sofá junto à ela assistindo televisão — Você me perdoa? — ela me olha confusa e depois ri.
— Porra, fui eu quem te deu um tiro e é você quem me pede desculpas? — ela questiona incrédula.
— Você ia atirar no Mikhail e eu pulei na frente.
— Por que você fez isso?
— Eu não sei. Impulso, eu acho. — respondo sincera e ela ri.
— Não faça isso de novo, Giovanna. Eu quase tive um infarto hoje.
Dou um sorriso leve. Com toda certeza não irei fazer isso de novo.
♤♧♤♧
Está oficialmente comprovado que a Giovanna é louca, e se não for da cabeça, é por alguém aí...
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Alopradas [Reescrevendo]
RandomO que você faria se descobrisse que faz parte de uma máfia? Mais precisamente que seu pai é um mafioso e que agora os inimigos dele estão correndo atrás de você. Você fugiria, certo? Giovanna não tinha outra opção. Um intercâmbio nos Estados Unidos...