Bônus

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+ Mikhail +

Eu sabia onde estava me metendo quando aceitei o trabalho de assassinar a Giovanna Martinelli, não entrei nisso com os olhos vendados. Porém eu não a conhecia.

Eu precisava subir de cargo na máfia. Estou lá desde pequeno treinando para ser o melhor. Até que me tornei o melhor. Matar nunca foi um problema pra mim, nunca me importei com meus sentimentos, eles nem sequer estavam lá. Eu até gostava dessa vida pois foi a única que eu tive. Aprendi a gostar pois não tive outra opção, e posso dizer com todas as letras que não me arrependo de nada.

Meus pais me largaram em um orfanato quando eu era só um bebê, nunca soube nada sobre eles, nunca me preocupei em saber. Ao completar 7 anos, fui adotado junto à outras crianças por um senhor de idade. Eu era inocente, não fazia ideia do que podia acontecer, até que eu cheguei em sua casa.

Fui treinado friamente até eu poder sair para cometer meu primeiro assassinato. Não vou mentir, senti medo, remorso, senti nojo de mim mesmo após fazer minha primeira tortura. Com o passar dos anos fui desenvolvendo minha frieza, me tornando cada vez mais cruel. O antigo, doce e inocente Mikhail sumiu, dando lar ao Mikhail Petrova, com uma incontável lista de assassinatos e com somente 24 anos de idade. Foda-se, isso não é motivo de pena muito menos estou tendo auto piedade.

Ao ser mandado à América com o intuito de matar a Herdeira Martinelli, vi a oportunidade de subir de cargo e não ser mais um simples fuzileiro na máfia, mas pelo visto comecei muito mau.

Primeiro, fiquei inconsciente com somente uma pancada em minha cabeça, dada pela minha própria vítima. Fui amarrado e trancado em um armário. Quando pensei que tinha conseguido fugir, um filho da puta usou uma tora de madeira pra me apagar, logo depois fui torturado, perdi minha mão e fui obrigado a contar o que eu sei para não acabar transfigurado. Visitei meus contatos para conseguir uma mão biônica e enfim finalizar meu trabalho.

Fiquei deveras surpreso, não porquê encontrei a Martinelli chorando sentada ao pé de uma árvore, mas sim porque ela me pediu um abraço. Ela não me parecia ignorante com o fato de eu querer matá-la, ela estava completamente ciente disso, mas mesmo assim quis me abraçar.

Agora, ela está dormindo em meu ombro. Uma oportunidade perfeita para pôr um fim nisso tudo.

Pego meu canivete e o apoio em seu pescoço branco. Eu tenho que fazer isso. Eu morro se não o fizer.

A máfia russa é extremamente cruel com quem não cumpre com a palavra, e eu dei a minha de que a mataria. Porém ao vê-la dormindo profundamente em meu ombro, com sua inocência pura, meu coração dispara somente ao pensar em matá-la. Que merda eu estou fazendo? Minha mão começa a tremer quando eu tento perfurar seu pescoço. Ela se remexe um pouco à procura de conforto e solta um leve grunhido durante o sono. Seguro meu canivete firmemente e procuro coragem. Faço mais pressão contra sua pele e sinto minha mão suar. O que eu estou fazendo?

Olho para seu rosto genuíno e reparo o quão bela ela é. Seus cabelos loiros perfeitamente descoloridos e sua pele alva a fazem parecer angelical, seus olhos azuis escondidos pela pálpebra demonstravam tanta dor ao mencionar seus medos que eu não me recusei abraça-la.

Eu não consigo. Já tive inúmeras oportunidades de matá-la porém não consigo. Ela tão indefesa em meus braços e eu precionando um canivete contra seu pescoço, me parece errado agora.

Na primeira vez em minha carreira eu senti medo. Não consegui executar minha vítima. Sinto empatia por ela e ao me dar conta disso, deixo cair ao chão minha arma branca.

Não, isso não pode estar acontecendo. Me levanto e saio correndo. O que aconteceu comigo? O que mudou?

Mesmo eu não a matando alguém fará isso por mim e não tenho como impedir. Não quando eu mesmo já quis executa-la.

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Alopradas [Reescrevendo]Onde histórias criam vida. Descubra agora